Liturgia de Terça-feira da Oitava da Páscoa
Comentário do Padre Horácio Noronha, Chanceler da Cúria Diocesana
A liturgia de hoje, à luz do Ressuscitado, interpela-nos sobre o sentido da fé. O que significa ter fé? É acreditar em quê, ou em quem? A fé não é fruto de um pensamento lógico, nem de uma conclusão científica, nem de um raciocínio filosófico.
O apóstolo João afirma: “A Deus nunca ninguém o viu” (1 Jo 4, 12). Maria Madalena encontrou-se com Jesus à beira do sepulcro, sem saber que era Ele (Evangelho de hoje). Jacob ao acordar do seu sono disse: “Na verdade o Senhor está neste lugar e eu não sabia!” (Gn 28, 16). Diz-nos o livro do Êxodo que “Moisés aproximou-se da nuvem escura, onde estava Deus.” (Ex 20, 21). S. João da Cruz descreve a sua vida espiritual como uma “noite escura”: “Em uma noite escura / De amor em vivas ânsias inflamada / Oh! Ditosa aventura!”
A fé é um “dom do Espírito Santo” (primeira leitura), um dom que recebemos no Batismo, com a missão de o dar a conhecer pela palavra e pelo testemunho de uma vida coerente. É acreditar em Alguém que não vemos, mas que aceitamos pela Palavra que não engana e pelas testemunhas credíveis, muitas das quais por Ele deram a própria vida. S. Paulo explica: “Ora, como hão de invocar aquele em quem não acreditaram? E como hão de acreditar naquele de quem não ouviram falar? E como hão de ouvir falar, sem alguém que o anuncie? E como hão de anunciar, se não forem enviados? Por isso está escrito: Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas! (…) Portanto, a fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo.” (Rom 10, 14-17).
Nestes tempos de pandemia, muitos se interrogam: “Onde está Deus? Porque não nos acode nesta aflição?” O grande desafio será procurar os sinais da sua presença e da sua ação – e são tantos! Na verdade, Ele nunca está ausente, está sempre presente, sobretudo onde há sofrimento, onde há pobreza, onde há injustiça.
A grande pergunta, para estes dias e para os dias que se seguirão, poderá ser esta:
“O que é que Deus nos está a querer dizer com isto que nos acontece?”
Padre Horácio Noronha