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Igreja em Rede: Segunda-Feira da II Semana da Páscoa – “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3, 1-8)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Segunda-Feira da II Semana da Páscoa

Comentário do Padre Ramiro da Cruz Ferreira, Pároco de Alcochete

Depois de na Oitava da Páscoa os Evangelhos da Missa terem percorrido as várias aparições de Jesus Ressuscitado, a partir desta semana, vamos fazer a leitura quase contínua do Evangelho segundo São João, omitindo as passagens já lidas noutras alturas do ano.

Hoje, amanhã e depois ouviremos do capítulo III o relato da entrevista de Jesus com Nicodemos, um sábio judeu do partido dos fariseus que intrigado com as palavras e milagres de Jesus vem procurá-l’O discretamente durante a noite.

O capítulo anterior do Evangelho contava-nos dois factos pelos quais Jesus afirma o seu poder sobre a natureza: primeiro, o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de Caná que conduz à fé dos discípulos; depois, a expulsão dos vendilhões do Templo com a profecia da Ressurreição de Jesus, seguida de vários milagres que conduzem à fé das multidões.

A conversa com Nicodemos versa sobre outro aspecto da obra de Jesus: a regeneração espiritual do homem. Nicodemos, sinceramente desejoso de aprender com Jesus, usando de modo correcto mas insuficiente a sua inteligência, reconhece-O como Mestre enviado por Deus: mas Jesus é muito mais que isso – Jesus é o próprio Deus.

Jesus começa por lhe indicar que ele tem que subir de nível, tem que ver mais longe – contudo, tal visão superior é graça do Espírito Santo, é preciso nascer do alto, para ver o Reino de Deus, para ver a Realeza divina de Jesus. Nicodemos continua a argumentar com válida sabedoria humana mas sem se elevar acima dela: a vida do homem é irreversível, o tempo não volta atrás. Jesus revela-lhe que o novo nascimento é pela água e pelo Espírito – o Baptismo. Nicodemos não consegue perceber porque não ultrapassa o nível da visão carnal. Jesus usa então uma imagem tirada do duplo sentido da palavra espírito nas línguas antigas: sopro (vento) e espírito (como entendemos hoje). Tal como o vento sopra onde quer, o Espírito é soberano. Tal como o vento não se vê mas ouve-se, o Espírito revela-se pela Palavra. E apesar de conseguirmos carnalmente identificar a direcção do vento, o homem simplesmente carnal não conhece a origem e destino do Espírito.

Tal como o Espírito, assim é o homem nascido do Baptismo: é livre da escravidão do pecado, reconhece-se pelas palavras e obras da fé, tem sua origem no Sacramento que a homem carnal não entende, tem o seu destino na bem-aventurança eterna que ninguém pode imaginar.

A primeira leitura ilustra o efeito desta obra na vida da primeira comunidade cristã – diante das dificuldades só deseja poder dar testemunho do que lhe aconteceu: a vitória de Cristo. Que, nas nossas dificuldades presentes, nos seja concedida a mesma graça.

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Padre Ramiro da Cruz Ferreira

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20 de Abril de 2020