Liturgia de Quarta-Feira da II Semana da Páscoa
Comentário ao Evangelho
O Evangelho que hoje a liturgia nos propõe para nossa reflexão, consta na conclusão do diálogo de Nicodemos com Jesus, onde vamos assistindo a um caminho de busca e inquietação para encontrar algo que apazigue o coração deste chefe de judeus.
Jesus teve este efeito nele. Surge-lhe como um provocador que o leva a levantar questões a colocar num estado de suspensão a sua vida, as suas certezas, a sua fé. Fá-lo consciente de uma sede de Verdade e de uma fome de Vida, que estariam latentes, mas não ciente delas… e que se vai tornando evidente no decurso do diálogo com Jesus.
Nicodemos vai percebendo que não se trata de uma mera inquietação intelectual ou ideológica, mas existencial e integral. Está perante uma “opção fundamental”! Aberto às palavras que Jesus profere, descobre o seu coração à Luz de Deus. Encontra diante dEle a fonte da Verdade e o maná da Vida Nova. E aquela atitude neutral da visita noturna, onde procura refúgio ainda na imparcialidade, é exposta neste encontro.
Assim, Nicodemos prefigura todos aqueles que procuram a Deus e que são por Este encontrados, encontro que não nos deixa na mesma. A partir daquele momento as decisões, gestos e palavras de Nicodemos farão dele um homem que busca participar e caminhar pela Verdade e pela Vida, em vez de um homem que orienta a sua existência por caminhos de mentira e de morte.
Mas, por vezes, no nosso quotidiano, colocamo-nos no pináculo do critério judicial da nossa vida e da dos outros… detentores e construtores das nossas “verdades”, que desvirtuam a realidade em que procuramos impor o que queremos, o que achamos ou o que nos convém, apartando-nos da Verdade revelada que é Cristo.
Ninguém é detentor da Verdade , porque a Verdade é Cristo e a Cristo ninguém detém. É Ele que se doa. Mas participa-se no dom que Ele se faz por cada um de nós. Como a Luz que nos chega e com a qual nos podemos deixar irradiar… ou optarmos nos refugiarmos na penumbra da nossa arrogância, da nossa soberba, do nosso egoísmo e vaidade.
Hoje, o desafio é que busquemos a Verdade de Deus em nós, na história de cada um. O Papa Emérito Bento XVI na Encíclica “Caridade na Verdade” escreve:
“Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 32).”
Que neste tempo em que vivemos, neste estado pandémico, onde somos assolados por muitas questões e onde certamente procuramos aquilo que Deus nos pede, não nos esqueçamos de suplicar um coração dócil à Sua vontade, para que em nós se manifeste a Sua Suma Verdade.