comprehensive-camels

Igreja em Rede: Terça-feira da III Semana da Páscoa – “Não é Moisés, mas meu Pai, que vos dá o verdadeiro pão do Céu” (Jo 6, 30-35)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Terça-feira da III Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Daniel Jorge Sachipangue, Pároco de Canha, Pegões-Cruzamento e Pegões Velhos

Caríssimos irmãos: continuamos com o longo discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum sobre o pão da vida.

No evangelho vemos que o maná matou a fome física dos israelitas em marcha pelo deserto, mas que não lhes deu a vida definitiva, não lhes transformou os corações. O maná pode representar aqui todas essas propostas de vida que, tantas vezes, atraem a nossa atenção e o nosso interesse, mas que vêm a revelar-se falíveis, ilusórias, parciais, porque não nos libertam da escravidão nem geram vida plena. É preciso aprendermos a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança no “pão” que não sacia a nossa fome de vida definitiva; é necessário aprendermos a discernir entre o que é ilusório e o que é eterno…

Porque é que os judeus rejeitam a proposta de Jesus e não estão dispostos a aceitá-l’O como “o pão que desceu do céu”? Porque vivem instalados nas suas grandes certezas teológicas, prisioneiros dos seus preconceitos, acomodados num sistema religioso imutável e estéril e perderam a faculdade de escutar Deus e de se deixar desafiar pela novidade de Deus. Eles construíram um Deus fixo, calcificado, previsível, rígido, conservador, e recusam-se a aceitar que Deus encontre sempre novas formas de vir ao encontro dos homens e de lhes oferecer vida em abundância. Esta “doença” de que padecem os líderes e “fazedores” de opinião do mundo judaico não é assim tão rara… Todos nós temos alguma tendência para a acomodação, a instalação; e quando nos deixamos dominar por esse esquema, tornamo-nos prisioneiros dos ritos, dos preconceitos, do religiosamente corretas, de catecismos muito bem elaborados mas parados no tempo, das elaborações teológicas muito coerentes e muito bem arrumadas mas que deixam pouco espaço para o mistério de Deus e para os desafios sempre novos que Deus nos faz. É preciso aprendermos a questionar as nossas certezas, as nossas ideias pré-fabricadas, os esquemas mentais em que nos instalamos comodamente; é preciso termos sempre o coração aberto e disponível para esse Deus sempre novo e sempre dinâmico, que vem ao nosso encontro de mil formas para nos apresentar os seus desafios e para nos oferecer a vida em abundância.

“Quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede” – diz-nos Jesus. “Acreditar” em Jesus é aderir, de facto, a essa vida que Jesus nos propôs, viver como Estevão na escuta constante dos projetos do Pai, segui-l’O no caminho do amor, do dom da vida, da entrega aos irmãos. É urgente redescobrir o tempo de Páscoa como tempo de amizade com Deus nos irmãos.

Daniel Jorge Sachipangue

Partilhe nas redes sociais!
28 de Abril de 2020