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Fechados em casa: Três pequenas lições, com Maria, no Domingo das Vocações

Hoje, porque é o Domingo do Bom Pastor, o quarto Domingo da Páscoa, ainda que em confinamento compulsivo, somos desafiados pelo Papa Francisco a celebrar o dia Mundial das Vocações e a rezar por elas.

Que conjugação extraordinária e paradoxal de elementos! Jesus, que é o Bom Pastor, continua a chamar homens e mulheres a entregarem-se totalmente ao anúncio do Evangelho por este nosso mundo fora, mas estamos obrigatoriamente fechados em casa. Será uma contradição? Pode ser, mas também é sem dúvida uma oportunidade!

Lição 1: O Pai revela o seu plano no silêncio da casa

Pensando na história de Nossa Senhora – porque este é o primeiro Domingo de Maio, o seu mês – entende-se que um acontecimento extraordinário da sua vocação foi vivido justamente em casa, em Nazaré, longe do olhar do mundo. Foi ali que o anjo entrou – na cozinha, imagino eu, compondo o lugar – e disse-lhe no silêncio doméstico: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo… Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus» (Lc 1, 28.30-31). Que surpresa teve! E tão bem se portou ela perante essa novidade que lhe ressoou na sua existência. Guardou corajosamente no seu coração a certeza da vontade do Pai!

Primeira pequena lição de humildade que a Mãe do Céu nos ensina: não somos nós que dizemos ao Pai do Céu qual a vocação que queremos para nós. É Ele que nos dá o plano para a nossa vida. Cabe-Lhe revelá-lo e cabe-nos descobri-lo/segui-lo!

Jesus é que é o Bom Pastor, não nós. Nós somos as ovelhas. É ele que nos deve guiar e não nós a Ele! Pedimos humildade para sermos boas ovelhas do seu redil.

Lição 2: Maria preparou-se para sair de casa rezando a ladainha do “nada é impossível”

Depois do anjo se ter retirado, o Evangelho informa que Maria demorou alguns dias a sair de casa e ir ter com a sua prima Isabel (Cf. Lc 1,39). Que aconteceu nestes dias após o plano de Deus lhe ser revelado? Ela preparou-se para sair do seu confinamento. Como? Robustecendo a certeza vocacional recebida, lembrando-se das últimas palavras que o anjo lhe dissera: «…porque nada é impossível a Deus» (Lc 1,37). A cada impossibilidade, contrastou com a ilimitação do poder de Deus.

Será impossível eu ser mãe, sendo virgem?! Não, porque nada é impossível a Deus!

Será impossível eu ser padre, ainda que gostando de casar?! Não, porque nada é impossível a Deus!

Será impossível eu ser um missionário no outro extremo do mundo, tendo medo de andar de avião e não sabendo outras línguas?! Não, porque nada é impossível a Deus!

Será impossível eu ser monge ou monja de clausura, quando gosto tanto de sair e falar? Não, porque nada é impossível a Deus!

Se já sabes qual o plano do Pai do Céu para ti, perante as tuas perguntas e incertezas, confronta-as e reza com a Mãe do Céu a ladainha do “nada é impossível”. Robustece essa certeza recebida. Deixa-te envolver pela alegria que ela traz. Acredito que Nossa Senhora encher-te-á de mais certeza e de grande satisfação interior.

Lição 3: Arriscou, saiu e confirmou a sua vocação

Maria sai de casa para ir ter com a sua prima Isabel já de idade avançada que, por milagre, estava grávida, «porque nada é impossível a Deus»! A sua saída é uma oportunidade valiosa para confirmar a sua vocação. Quando chega à casa da prima, ao se cumprimentarem, Isabel reconhece Jesus em Maria, reconhece a sua vocação de Mãe de Deus: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1,42-43).

Esta é a derradeira lição. Ao chegar o momento de sair de casa, é preciso arriscar e confrontar a verdade do Pai que se revelou em nós com alguém que vai à nossa frente no caminho. Não se faz discernimento vocacional sozinhos. Na verdade, seja qual for o plano do Pai, ele passa sempre por entrar em comunhão com os irmãos na fé, quer para caminhar, quer para entender o que Jesus, pelo Pai, quer de nós, sempre a partir da herança de fé que persiste na Igreja. Estando com Santa Isabel, Nossa Senhora regressa a casa confirmada que o que viveu não é fantasia. Agora espera-lhe uma grande e nova etapa da sua vida e da história da humanidade que é a realização da Obra de Deus.

É verdade que Jesus continua a chamar e é verdade que continuamos em casa. Porém, se ainda não sabes o que fazer da vida, aproveita para fazer silêncio e perguntar a Jesus o que Ele quer de ti. Se já sabes o que Ele quer e não tens coragem ou vontade para o assumir, pede à Mãe do Céu que te ajude a ser valente. Se já sabes e estás disposto a assumir a vocação que o Pai planeou para ti, não deixes de confrontar com o teu pároco ou director espiritual e de ser conduzido ou reconduzido.

Ganhemos tempo em casa, aproveitando este tempo!

Mãe do Céu, ensina-nos a ser humildes. Jesus, Bom Pastor, que te sigamos de todos o coração!

Padre Rui Gouveia, diretor do Secretariado Diocesano das Vocações e reitor do Seminário de São Paulo de Almada

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03 de Maio de 2020