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Opinião: “Um 13 de maio como o primeiro”

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Opinião do Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita

À luz daquilo que aconteceu na manifestação do “1.º de maio” da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) poderemos questionar tantas outras iniciativas de caráter público, seja qual for o promotor ou os participantes. Isto é, o modo de disposição no terreno dos presentes poderá ditar que algumas propostas com presença de pessoas possam ter idêntica configuração: colocadas em filas, com distanciamento considerado de segurança – dizem que com dois metros de separação – e com espaço ainda entre as filas…até à ocupação total do terreno.

Perguntado à Ministra da Saúde se, deste modo, poderão acontecer as celebrações religiosas do dia 13 de maio, em Fátima, ela não descartou a possibilidade, senão na prática, ao menos teórica, dizendo: “é uma possibilidade… desde que sejam respeitadas as regras sanitárias!”

Efetivamente, a manifestação do “1.º de maio” da CGTP, em Lisboa, apresentou um role de atropelos à lei em estado de emergência: pessoas acotoveladas umas às outras, nos passeios e em muitas das imagens televisionadas; pessoas procedentes de fora do concelho lisboeta (viram-se autocarros de várias localidades da “margem sul”), quando era proibido sair do concelho de residência; a presença de elementos maiores de setenta anos, quando são considerados, genericamente, em idade de risco; figuras sem máscara a dar ordens ao telemóvel, quando esta já era obrigatória na presença de mais pessoas em volta…

As filas armadas no terreno não são novidade, pois nos desfiles já é costume irem daquele modo. Só que os cartazes colocados estrategicamente encobrem mesmo a ausência de pessoas. Ali não era possível disfarçar. Com efeito, um oficial da polícia deixou escapar esta frase: “aquilo é uma máquina bem oleada”. Sim, só que desta vez se tornaram mais evidentes as lacunas, noutros anos ofuscadas…

Tendo em conta os ardis da CGTP não será oportuno intentar que as celebrações do “dia 13 de maio” possam realizarem-se, este ano, ainda em Fátima? A organização não deveria reconsiderar a sua posição, mesmo que trazendo à liça as razões de exceção aduzidas para a CGTP? Ou será que teremos – como é costume na arte de comunicação da governança – dentro de dias uma portaria a condicionar o decreto-lei que rege o “estado de calamidade”? Não terá chegado a hora de nós (os católicos, cidadãos, eleitores e contribuintes) colocarmos mais em confronto do que estarmos tão submissos ao poder, que, afinal, sabe proteger quem o vota, o elege e o suporta? Teremos ainda cristãos que não se atemorizam e defendem a sua fé, mesmo que pareçam menos cordatos do que os responsáveis episcopais? Até onde irá a nossa falsa resignação, acomodação ou cobardia, quando era preciso ser destemido, audaz e lutador? Não foi, por sinal Fátima quem desmentiu o político que prognosticou o fim da fé no espaço de duas gerações em Portugal? Se fosse hoje – e os indícios estão à vista – a “profecia” não seria facilmente cumprida, tal o amorfismo generalizado em que vivemos….a começar pelas cabeças? A máquina católica – dioceses, paróquias, movimentos, associações, fiéis (bispos, padres, religiosos/as e leigos) – não terá capacidade de se mobilizar ainda para as celebrações do “dia 13”? Mesmo que os “peregrinos a pé” tenham sido desmotivados, não há muitos outros recursos que poderiam dar uma resposta superior à máquina sindicalista.

Não há qualquer interesse em colocar-nos em confronto ou de entrarmos em comparações, mas não podemos permitir que sejamos tratados como cidadãos de segunda ou de terceira perante as regalias de uns tantos bem-pensantes, maldizentes ou provocadores. Como cristãos/católicos somos e devemos ser cidadãos que se regem pelas leis do estado, mas não podemos permitir que este seja o primeiro a criar estratos sociais, que foram abolidos e nunca deveriam ter existido. Confesso: não gosto de ser privilegiado por ser cristão (católico ou padre), mas também não aceito ser depreciado ou discriminado por sê-lo…

Basta de conluios entre a “espada e o altar”, onde este parece mais servir aquele do que em ser parceiro com igualdade de direitos, de obrigações e respeitando-se, mutuamente, nas suas funções. Foi assim que calaram tantas vozes proféticas, não pelo combate, mas pela adulação!    

Padre António Sílvio Couto

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04 de Maio de 2020