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Igreja em Rede: Sábado da IV Semana da Páscoa – “Quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14, 7-14)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Sábado da IV Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Geraldo Kalemesa, Pároco da Marateca

Estamos no tempo da inesperada pandemia, desconfinados mas ainda confinados. Eu acredito que, por este caminho, Deus quer salvar o seu povo desta peste. Portanto, continuemos acatar as normas.

“Até quando nos vai trazer em suspenso? Se és o Messias, diz-nos claramente.” (Jo 10, 24-26)

Sabemos pela história que a falta de fé sempre levou os homens à cegueira de não reconhecer a identidade e a missão de Jesus no Mundo. Mas Deus nunca deixou de se revelar desde as origens. É exemplo, a história de Moisés na sarça-ardente (Ex 3, 1 -15), quando Deus se identificou como aquele que É: Eu sou – primeira pessoa do presente do indicativo do verbo ser. Do latim “Esse” – infinitivo do verbo ser – que é a “essência”. A essência é tudo aquilo que faz com que algo seja o que é e não outra coisa. Revelou-se assim como Criador, aquele que dá forma, o Arquétipo de todas as coisas. Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob. E hoje, Jesus Cristo torna-se «mediador e plenitude de toda a Revelação» (DV2).

Jesus Ressuscitado é a presença de Deus Pai no meio do povo. Por isso, depois da sua ressurreição, manifestou-se para dizer que era mesmo Ele, o Enviado do Pai, que tinha sido rejeitado e morto (Act 2, 23 -24), mostrando em que lugares o podem encontrar para buscar a sua graça: no caminhar, na Sagrada Escritura, na Eucaristia, na Comunhão com os outros e também nas nossas comunidades. Estas comunidades que, apesar do desconfinamento paulatino, ainda continuam confinadas pelo COVID 19, situação que leva a humanidade a interrogar-se e a pôr à prova o próprio Jesus Cristo. Até quando esta doença? Como Filipe: “Senhor mostra-nos o Pai, isto nos basta” (Jo 14, 8).

São episódios que ainda assistimos em pleno século XXI. O século de despertar a consciência de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26 ). Quer viva quer morra, pertence a Deus (Rom 14, 8): recebemos esta aliança da vida eterna pela ressurreição de Cristo. Mas ainda existe alguém que descarte o profundo significado, a importância e a verdade da Páscoa na vida dos homens.

“O homem só poderá encontrar a via de acesso para a verdadeira humanidade se tomar consciência da sua origem e do seu fim” (George Augustin).

O Homem precisa de tomar consciência de que nós somos filhos no filho.

Na liturgia de hoje, Jesus responde e esclarece: “sempre vo-lo disse mas nunca acreditastes. Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30) – Portanto, “Quem me vê vê o Pai”. (Jo 14, 9) Eu estou no Pai e o Pai está em Mim (Jo 14, 10).

O conhecimento do Pai está condicionado ao conhecimento de Jesus Cristo. Jesus é o rosto do Pai. Um olhar admirável do Pai em Jesus estende-se a todos aqueles que se convertem em sinal da sua presença no mundo. É imperativo no tempo que corre conhecer e viver Jesus Cristo, Palavra do Pai que encarnou. “As palavras que vos digo, não as digo por mim próprio, mas é o Pai permanecendo em mim” (Jo 14, 10).

Na primeira leitura tirada do livro dos Atos dos Apóstolos (Act 13, 44-52), a exemplo de Paulo e Barnabé, Deus faz de nós baptizados, luz, anunciadores e mensageiros desta Palavra tão poderosa. Acreditemos e sejamos doces ao Espírito Santo, para que através de nós a Palavra chegue aos confins da terra e penetre os corações daqueles que, como Filipe, ainda não acreditam em Jesus. É preciso fazer uma experiência íntima e pessoal com Deus.

Voltemos ao Pai protector e luz das nossas vidas que não abandona ninguém. Que a pandemia não deixe sequelas na vida cristã, que sejamos verdadeiramente filhos do mesmo Pai. Infelizmente soa nesta pandemia que devemos fugir – o outro como inimigo – talvez seja a linguagem que alguns técnicos encontraram para explicar o perigo do vírus. É natural! Mas pedagogicamente, na situação vigente, o inimigo não é o outro o inimigo: é o vírus, do qual todos nós somos alvos e vítimas. Que as crianças aprendam esta verdade.

Tal como o coronavírus nos obriga a lavar constantemente as mãos, também devemos lavar constantemente o nosso coração para que, com alegria e cheios do Espírito Santo, sejamos capazes de fugir do demónio inimigo invisível que desde sempre foi motivo de distanciamento social, da separação de irmãos, da falência de empresas, de injustiças, de ódio, de vingança e da desagregação de famílias, inquinando assim o ambiente da aliança que Deus Pai selou com o seu Povo.

Maria Santíssima nos ajude pela força e pela luz da fé a aprofundarmos a Palavra de Deus que sempre foi um desafio à liberdade das nossas opções. Que Jesus Cristo ressuscitado seja verdadeiramente o caminho, a verdade e vida do homem neste mundo.      

Padre Geraldo Kalemesa

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09 de Maio de 2020