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Igreja em Rede: Festa de São Matias – “Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 9-17)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia da Festa de São Matias

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Abraão Kasisa, Pároco de Faralhão e Praias do Sado

São Matias era um discípulo que acompanhou Jesus no tempo de Seu apostolado e foi tão fiel na vivência dos ensinamentos do Mestre, que tornou-se testemunha da Sua ressurreição.

No livro dos Atos dos Apóstolos, estão registados os fatos que levaram à escolha de um discípulo que ocupasse o lugar deixado por Judas, o traidor: “é necessário, portanto, que de entre os homens que estiveram connosco durante todo o tempo que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, desde o baptismo de João até ao dia em que do meio de nós foi elevado ao Céu, um deles se torne connosco testemunha da sua ressurreição. Apresentaram dois: José, chamado Barrabás, de sobrenome Justo, e Matias…” (1ª leitura). Evangelizou na Palestina e na Ásia Menor e morreu mártir por apedrejamento.

O Evangelho convida-nos à “alegria” no seguimento a Cristo, o Ressuscitado.

Em tempos remotos, nos ensinaram: “um santo triste é um triste santo”! Isto comprova o Evangelho que é uma Boa Notícia, uma notícia de alegria! É o que experimentaram os apóstolos e todos os verdadeiros cristãos, mesmo durante as perseguições mais duras.

Nos versículos do Evangelho de hoje, insiste-se fortemente nas palavras amar, amor, que são o fruto de quem permanece unido a Cristo. Jesus fala do amor que circula entre a Santíssima Trindade e a comunidade cristã, criando comunidade de amor: “como o Pai me amou, também Eu vos amei”. O amor do Pai para com o Filho se resume na comunicação do Espírito, e o amor de Jesus para os cristãos também se sintetiza na efusão do Espírito sobre a comunidade que crê (cf. Act. 7,39). É o Espírito que governa a Igreja e que suscita nela os instrumentos de evangelização necessários.

Cristo indicou muito bem em que consiste essa felicidade verdadeira e fundamental. Para assegurar essa felicidade, Cristo explica que o seu amor para connosco é igual ao amor que o Pai celeste tem para com Seu filho unigénito. Por isso, Jesus insiste: “Permanecei no meu amor”. Não há condições impossíveis. “Observai os meus mandamentos!” Amor é a motivação da vida daqueles que procuram Deus. Amor é alegria, é felicidade.

Sou convocado para um amor íntimo com Jesus. Aí está a oportunidade de minha vida. No amor realizo toda a aspiração do meu ser. Este amor não morre com a morte, mas permanece na eternidade.

É interessante observar que tão logo alguém faz uma experiência séria de encontro com Cristo, a sua reação é sempre em benefício dos irmãos. A experiência de Deus beneficia sempre o irmão necessitado. Não será por que Cristo se identificou de maneira especial com o pobre? Os apóstolos perceberam que a sua missão (a missão apostólica) só será eficaz quando deixar transparecer o amor d’Aquele que os enviou!

Jesus chama-nos “amigos!” Esta palavra encerra todo o afeto de um Homem-Deus para comigo. Não posso nem compreender o seu conteúdo pleno. Arrebata! Aniquila! Deslumbra! Silencia a pessoa…

Jesus chama-nos “amigos”, porque nos deu a conhecer tudo o que ouviu a seu Pai (Jo 15,15). Foi a sua amizade que fez com que ele nos escolhesse e nos destinasse para irmos e darmos fruto, um fruto que permaneça (Jo 15,16). Ser amigos de Jesus significa viver para os outros, como ele: “Ele deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos amigos (1 Jo 3,16). Cultivar a amizade, no quotidiano, traduz-se em dar tempo aos outros, partilhar bens do espírito e bens materiais, praticar obras de misericórdia. Queremos descobrir em Jesus o “amigo dos homens”. Ele não quis ser dominador, juiz, legislador, mas sim o “grande amigo”.

Jesus diz-nos ainda: “fui Eu que vos escolhi e destinei….”; escolhi-vos entre tantos outros que poderia ter escolhido, para conhecer as profundezas do amor do meu coração. Escolhi-os para trabalharem comigo, para juntos construirmos o reino, o reino de amor entre os homens. 

Eu quero precisar de vós. Preciso de vossas mãos, de vossos pés, de vossos lábios, do vosso esforço, de vossa dedicação, do vosso interesse; porque minha causa é vossa causa, meu reino é vosso reino de amor e vida.

Amigos, entre nós deve haver um íntimo intercâmbio de amor. Pois, no mundo, o amor não é amado. Se o mundo amasse, não faltaria pão para ninguém, não faltaria paz, não faltaria nada. Mas o amor fugiu dos corações.

Eu, o escolhido, o eleito, o íntimo, começo a amar e tudo se resolverá. “O que vos mando é que vos ameis uns aos outros.” Como S. Matias, que tudo sacrificou para anunciar o amor de Deus. Hoje somos escolhidos para realizar os desígnios salvadores de Deus numa abertura de total dedicação e de compromisso com os mais carenciados.

Confiança em Deus:

Certo dia, pegou fogo num edifício de 5 andares. No 2º (andar) estava um menino de 10 anos. O fogo começou debaixo e foi subindo de tal modo que, quem estava no alto não podia descer. O fumo espalhava-se e criava muita confusão.

Entretanto, chegou ao local o pai do menino, que estava no 2º andar. O pai parou, olhou… e viu o seu filho na janela a chorar e a gritar: Ó pai, ó pai…

O pai ouve e diz: “filhinho… podes saltar, que eu seguro-te. Mas o menino não via o pai, por causa do fumo; ouvia sim a voz (do pai), e gritava cada vez mais: “Pai não te vejo como posso saltar”?!

Responde o pai: “Não te preocupes, porque eu vejo-te. Podes saltar, não há problema, podes confiar”. Depois de muito hesitar, o menino saltou e foi parar nas mãos do pai!…

Os Apóstolos perseguidos e mortos confiaram sempre em Deus e alcançaram a glória de Deus. E nós hoje confiemos também em Deus para que nos defenda desta pandemia.

Matias rogai por nós! Nossa Senhora de Fátima rogai por nós.

 

Padre Abraão Kasisa

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14 de Maio de 2020