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Externato Frei Luís de Sousa: a adaptação ao ensino à distância de uma escola que “não quer excluir ninguém”

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O colégio diocesano está nestes dias de isolamento a aprender a ser uma escola diferente: uma escola que se reinventou com o recurso às novas tecnologias mas que sente a falta de um contacto próximo, componente fundamental para a formação integral da pessoa.

Desde 16 de março que as atividades letivas presenciais estão suspensas no externato, localizado em Almada. Por força da pandemia e pelo perigo de contágio entre alunos, professores e respetivas famílias, a decisão manteve-se até ao final do ano escolar, com exceção dos alunos do 11º e 12ºanos de escolaridade, que regressam às atividades letivas na próxima segunda-feira e apenas às disciplinas sujeitas a exame nacional, e da creche e pré-escolar, que progressivamente retomarão as suas atividades até ao dia 1 de junho.

 

Para quem está habituado a visitar as salas de aula uma a uma, para dar uma palavra e saudar todos os alunos, pouco mudou. O Diácono Fernando Magalhães, diretor do estabelecimento de ensino continua a visitar e falar com todas as turmas nas aulas por videoconferência, nas salas virtuais criadas para o efeito na solução informática de e-learning.

As palavras certas para descrever o que fizemos são adaptação e reação. Adaptação porque este processo exigiu uma mudança de paradigma para muitos professores e um redobrado esforço na preparação dos documentos e recursos pedagógicos. Reação porque não valia a pena ficar a pensar ou lamentar: se era para fazer então vamos a isso, não há volta a dar.”

Fechadas as portas das salas de aulas (físicas), a escola teve que se reinventar de modo a chegar aos alunos: as atividades letivas, da creche ao 12ºano, passaram a serem ministradas através de uma plataforma eletrónica criada para o efeito, o FREIclassroom (“frei” em referência ao patrono do colégio e “sala de aula”, em inglês) que congrega toda a comunidade escolar no mesmo espaço virtual.

 

“Foi muito importante criarmos um modelo único para todo o colégio”, refere o responsável do colégio, explicando que para os pais, que se tornaram essenciais para o ensino em casa, e que em muitos casos têm filhos em diferentes anos de escolaridade, era difícil se houvesse uma plataforma ou várias com informação espartilhada.

A FREIclassroom é uma plataforma eletrónica baseada na aplicação Google Classroom e que nós formatámos completamente à imagem “FREI”. Todas as salas da creche, do pré-escolar e do primeiro ciclo e todas as turmas a partir do 2ºciclo têm ali o seu espaço de turma.”

O espaço das turmas é dividido em sub-áreas para cada uma das disciplinas, nos quais os alunos podem aceder às aulas em videoconferência com os professores, aos planos diários de aula, às tarefas associadas à disciplina e aos conteúdos que os professores disponibilizam para estudo. Todo o suporte às aulas e a comunicação com o professor são realizados via FREIclassroom.

 

Para o Diácono Fernando Magalhães, o colégio teve uma capacidade de reação e adaptação “muito positivas”, destacando em particular os professores e educadores, cujo o esforço de reajuste às circunstâncias e às novas plataformas de comunicação online foi “absolutamente heróico”. “A adaptação por parte dos alunos também foi muito boa, com elevado índice de responsabilidade, e claro das próprias famílias, que dão um suporte muito importante para nós.”

“Acho que, com as suas falhas e coisas a aperfeiçoar todos os dias, nos adaptámos à situação de uma forma sensata, tendo como principal preocupação ou desafio a não exclusão de ninguém”.

 

“O grande desafio é da não exclusão”

Na definição dos novos métodos de trabalho, era fundamental, nas palavras do diretor, que ninguém, por qualquer limitação de tempo ou de recursos, pudesse ficar excluído do processo de aprendizagem.

Há famílias com 4 ou 5 filhos em casa, há famílias com dois filhos em casa mas com o pai e a mãe em regime de teletrabalho… Portanto, de repente, a gestão dos horários e dos recursos tecnológicos tornou-se difícil. A nossa forma de ajudar foi definir um modelo de horário em que turmas de ciclos diferentes não tenham aulas síncronas (em tempo real) no mesmo período, de modo a que haja o mínimo possível de sobreposição de aulas. Assim, minimiza-se a possibilidade de famílias que tenham filhos em diferentes ciclos se atropelem no acompanhamento online das atividades letivas”.

“Claro que vai haver sempre constrangimentos: basta ter dois filhos dentro do mesmo ciclo, já vai haver sobreposição. Mas esta foi uma medida preventiva para evitar o menos possível que pessoas que tivessem alguma limitação, quer temporal quer por recursos tecnológicos, ficassem impedidas de assistir às aulas.”

Foi feito um levantamento de quem poderia estar mais limitado no acesso às aulas e procurou-se arranjar soluções. Por exemplo, com a criação de tutoriais para ensinar as famílias a manusear o FREIclassroom, aceder aos recursos e interagir nas aulas por videoconferência.

 

O modelo de ensino à distância está assente numa grande dose de confiança e numa forte componente de trabalho autónomo, o que para alguns alunos, em especial alunos com dificuldades de aprendizagem, pode ser muito complicado: “não nos esquecermos desses meninos e meninas neste processo é um grande desafio. Se no ensino presencial já não é fácil, o ensino à distância não veio a ajudar. Mais uma vez, há que reagir e procurar adaptações dentro do que é possível”.

Há alunos que requerem um acompanhamento maior, caso tenham mais dificuldade de concentração ou estejam menos habituados a estudar sozinhos. Por outro lado, muitos alunos dão provas de responsabilidade e disciplina. Diz o diretor do Externato, que é muito interessante “assistir a uma aula do primeiro ciclo porque grande parte deles estão fardados em casa. É importantíssimo manter a rotina, que convida à disciplina”.

 

Outro desafio é compensar esta componente de distanciamento com a presença, ou seja, anular o isolamento com proximidade e afeto. “A educação é muito tátil, é estar presente, muito olho no olho, muito palavra, muito ombro amigo. E é transversal a todas as idades: seja com os mais novos que procuram proximidade e afeto, ou os mais velhos que têm problemas e que procuram um professor para um desabafo. A nossa questão é como é que nós íamos fazer isto neste contexto. Mais ainda: enquanto escola católica, como é que íamos assegurar a formação integral da pessoa, apesar deste contexto de ensino à distância.”

Com estas preocupações, foi desenvolvido um conjunto de dinâmicas com as turmas para a comunidade escolar: é exemplo o “Agarra-te à esperança”, organizado pela equipa pastoral, que consiste no envio diário de uma mensagem positiva pelo whatsapp; os encontros quinzenais com os diretores de turma para saber se está tudo bem e outras iniciativas de carácter mais espiritual como a celebração pascal no início do terceiro período e a dinâmica de oração diária de uma Avé Maria durante o mês de maio.

Estas e outras iniciativas vão pautando o ritmo do Externato Frei Luís de Sousa, que temporariamente substituiu as habituais salas e quadros pelos ecrãs de computador, e que procura, de novas formas, continuar a ser escola.

JM

Fotos: Externato Frei Luís de Sousa

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15 de Maio de 2020