Liturgia de Sábado da V Semana da Páscoa
Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Carlos Russo, Pároco de Quinta do Conde
«Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas porque não sois do mundo, pois a minha escolha vos separou do mundo” Jo 15, 18-21
Existe uma diferença abissal em ser do mundo e ser de Cristo. Este sentido de que somos escolhidos por Deus desde toda a eternidade e consagrados a Ele pelo santo Batismo, remete-nos a uma dimensão de vida diferente, daqueles que optam por viver uma dimensão mais mundana da sua existência.
Nestes tempos que são os nossos e antes desta pandemia, que nos assola e nos amedronta, muitos de nós escolheram viver pelo espírito do mundo, esquecendo o que é ser de Cristo, vivendo duma forma superficial, vivendo o já e o agora, como se fossem momentos únicos da existência, procurando satisfazer todas as nossas paixões e caindo numa atitude narcisista sobre a vida e o outro.
Eis que algo, diferente, estranho e aterrador caiu sobre este nosso mundo: um inimigo invisível, mortal, que nos veicula, que nos atinge nas nossas ruas, nas nossas casas, no convívio familiar, nas nossas Igrejas – o fatídico coronavírus.
Muitos que antes optavam pelo mundo, foram confinados às suas casas, alguns infectados, fechados dias e dias nos seus quartos, esperando o desfecho do dito vírus.
Mas este é também um tempo de Esperança. Todos estes dias de silêncio e recolhimento forçado fizeram que muitos, que optavam pelo espírito do mundo, descobrissem a interiorização e que alguns até se questionassem sobre a existência de Deus.
Alguns, posso testemunhar, perderam os chamados “respeitos humanos” e começaram novamente um itinerário para Cristo. Como que houve um rebentar as barreiras que nos limitavam no diálogo franco e sincero com o próximo e com o Outro que é Deus.
Posso testemunhar que no dia 13 de Maio, na Quinta do Conde, localidade da Diocese, sem grandes formas de comunicação pessoal, organizámos uma procissão diferente: viaturas com famílias e pessoas nas varandas aclamaram a Santa Mãe de Deus, figurada na imagem de Nossa Senhora de Fátima. Transeuntes que caminhavam na ruas, ajoelhavam à passagem da caravana de cristão e acompanhavam a Mãe na sua jornada pelas ruas.
Penso que este débil sinal, foi ao mesmo tempo o explodir de uma semente de fé, que está no coração de tanta gente que “a Minha escolha vos separou do mundo”
Saibamos ser de Cristo, aderir ao seu projecto salvífico. Que no dia de Pentecostes deste ano de 2020, mesmo obedecendo a novas regras e formas de celebração, possamos cantar o grande aleluia Pascal, que ficou por cantar comunitariamente nesta Páscoa.
Padre Carlos Russo