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Nota Pastoral de D. José Ornelas: Retoma das celebrações públicas nas igrejas

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Damos todos graças a Deus e vivemos com alegria a aproximação do momento de voltarmos a poder celebrar a Eucaristia e outros atos litúrgicos nas nossas igrejas, com a presença da comunidade, no contexto da melhoria da condição sanitária do nosso país. Pedimos ao Senhor da Vida que acolha nos seus braços misericordiosos aqueles que pereceram nestes meses e dê conforto e esperança às suas famílias. Agradecemos também a todos os que, com admirável dedicação e risco da própria vida, vão tornando possível estas melhorias, nos hospitais, nos lares de idosos e em tantos outros serviços de gestão e apoio aos que, em tantas formas, estão a ser atingidos pela pandemia. Que Deus vos abençoe e proteja!

Dou também graças a Deus pela dedicação criativa que se tem verificado ao longo deste tempo de confinamento, na nossa Diocese e em toda a Igreja: pelos sacerdotes, incansáveis na reconversão dos gestos pastorais para velar pela fé e a comunhão das comunidades; pelo engenho de tantas pessoas, grande parte jovens, que criaram e geriram plataformas de comunicação das paróquias com as famílias e as pessoas isoladas; pela sensibilidade perante quem precisa, que fez crescer o número de pessoas assistidas; e por tantas outras manifestações da presença criativa e misericordiosa do Senhor ressuscitado.

A fim de preparar esta nova fase, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou um conjunto de orientações para serem adaptadas à realidade de cada Diocese. São orientações concordadas com a Direção Geral de Saúde, para assegurar o regresso às nossas igrejas com segurança e confiança, para louvar a Deus, celebrar a comunhão que nos une, guiados pelo Espírito do Senhor.

Não vou comentar as orientações, que são do domínio público e se encontram nos órgãos de comunicação da CEP e da Diocese, mas gostaria de chamar a atenção para alguns aspetos concretos, adaptando-os à nossa realidade diocesana.

A)     O preceito dominical

  1. Participar na Eucaristia dominical faz parte das atitudes básicas do ser cristão. É o centro do preceito de “santificar (dedicar a Deus) o domingo” e as festas importantes da Igreja. É aceitar o convite de Deus para a reunião festiva da Sua família, em que Ele próprio se faz pão partilhado para a vida, a comunhão e a força de todos e cada um.
  2. Quando esta participação presencial se torna impossível ou seriamente inconveniente, a Igreja aconselha os cristãos, a partir do seu coração, a responderem ao convite de Deus de santificar o domingo, na melhor forma possível. Sugere-se a leitura da Palavra de Deus e um tempo de oração, possivelmente em família ou em grupo, a participação numa transmissão da celebração dominical, a caridade para com quem precisa…
  3. Além disso, quem não pode participar presencialmente na Eucaristia dominical procure, se isso for possível, estar presente numa eucaristia durante a semana, afirmando assim o compromisso de santificar o dia do Senhor, renovando a sua comunhão com o Ele e com a comunidade.
  4. Por seu lado, os pastores velem para que a comunidade acompanhe aqueles que, por doença ou outros motivos sérios, não podem ou não devem participar na Eucaristia paroquial, a fim de que possam receber a sagrada comunhão em suas casas. Se não forem suficientes os ministros extraordinários da Eucaristia existentes, o Pároco pode encarregar outras pessoas, a título excecional, tendo a preocupação de as qualificar com uma preparação adequada, para serem portadores do Corpo do Senhor e para agirem segundo as normas de segurança.
  5. Onde não for possível a presença de um sacerdote que celebre a Eucaristia, favoreça-se a celebração da Palavra de Deus e a distribuição da comunhão, preparando pessoas para o fazerem.
  6. Nestes tempos, muitos irmãos e irmãs, apesar dos seus esforços e das suas famílias e comunidades, podem ficar impedidos de participar na Eucaristia e na vida da comunidade. Que ninguém se sinta, por isso, abandonado por Deus, pois Ele está sempre bem perto de nós, particularmente nas horas de maior dificuldade. A comunidade reza por vós. Uni-vos também a Ela na oração e estaremos unidos ao Senhor.

B)     Acolher na casa de Deus

  1. As nossas igrejas devem ser lugares de acolhimento, de bem receber, acomodar e oferecer as melhores condições de participação nas celebrações. Esta atitude de acolhimento deve ser de todos, a começar por quem preside, e pode ser potenciada pelos grupos de acolhimento, de que falam as orientações, no nº 5 das Orientações da CEP.
  2. A função destes grupos não é simplesmente de vigilância e controlo, e muito menos de policiamento, mas a de cuidar para que todos se sintam bem e que a segurança de ninguém seja posta em causa, segundo as indicações que são dadas. Na presente situação e para maior segurança das pessoas pertencentes a grupos de risco, estas não devem integrar os grupos de acolhimento.

C)     Celebrar com segurança e confiança

  1. Em nenhum caso se pode permitir que a festa e o encontro dos irmãos se transformem em focos de perigo, doença ou morte. Mas também não queremos que o medo nos impeça de viver e de celebrar. As orientações pretendem mesmo isso: contar com a responsabilidade e a boa vontade de cada um, para que, na oração, no canto, na escuta da Palavra e na partilha do Pão, todos possam encontrar-se com Deus, o Senhor da Igreja e com os outros irmãos.
  2. A par do uso de máscaras, medidas de higienização e outras, a segurança depende também do distanciamento entre pessoas, segundo as normas estabelecidas. Isso levará a uma significativa redução do número de presenças em cada celebração. As paróquias verão, em cada caso, como organizar o espaço celebrativo e os tempos de celebração, informando os fiéis, de modo que a todos seja oferecida a possibilidade de participar na Eucaristia.
  3. Além disso, como foi dito acima (cf. nº 2) durante o tempo de pandemia, as pessoas, especialmente as mais fragilizadas, poderão participar presencialmente na Eucaristia, durante a semana, em lugar do domingo.
  4. Para obviar a esta redução, os sacerdotes poderão celebrar mais vezes a Eucaristia no fim de semana, procurando, se possível, não ultrapassar as 5 (cinco) celebrações.
  5. Procure-se coordenar os horários das celebrações entre as paróquias vizinhas para servir o melhor possível os fiéis e vele-se para que esses horários estejam disponíveis em todas as igrejas e sejam sempre atualizados nos meios de comunicação das paróquias e da Diocese.

D)    Outras celebrações

  1. Como indicam as orientações da CEP, é possível celebrar todos os sacramentos, como o batismo, o matrimónio, a reconciliação e a santa unção, e assim também outras celebrações, como primeiras comunhões ou promessas de escuteiros, no respeito pelas normas indicadas para cada caso. Chamo a atenção apenas para alguns pontos específicos:
  • Até ao fim deste ano pastoral, não terão lugar celebrações da confirmação. Ulteriores indicações serão dadas a partir do mês de Setembro.
  • Acompanhamos com especial carinho os doentes nos hospitais e os anciãos nos lares ou em suas casas, procurando, no estrito respeito pelas normas sanitárias e em diálogo com os responsáveis e autoridades de saúde, encontrar possibilidades de levar conforto espiritual, nomeadamente a sagrada comunhão, àqueles que o desejem.
  • A celebração das exéquias cristãs pode ter lugar nas igrejas, nas capelas mortuárias e/ou no cemitério, com a presença de familiares, respeitando normas de segurança idênticas às da celebração da Eucaristia e adaptando o número de participantes às dimensões e caraterísticas de cada ambiente. As igrejas, desde que estejam livres de outras celebrações, podem ser utilizadas para a celebração das exéquias, segundo as orientações do pároco, particularmente quando o número de participantes não permita a utilização das capelas mortuárias.

E)     Partilhar em Igreja

  1. A pandemia está a ter consequências económicas dramáticas para inúmeras famílias e para as nossas paróquias, especialmente as menos capazes economicamente. As portas das nossas igrejas vão estar abertas para a oração e as celebrações da fé, mas também para a partilha e a caridade. Nesse sentido, faço dois apelos concretos.
  2. O primeiro apelo é para que cada um assuma o seu dever de contribuir para a sustentação da própria paróquia. As despesas continuam, mas, sem celebrações, a generosidade dos fiéis não teve ocasião de se exprimir como habitualmente. Que o sentido de pertença à Igreja se manifeste também no contributo generoso para a sua sustentação, a partir da própria paróquia.
  3. Em segundo lugar, peço muito encarecidamente que olheis com coração de misericórdia para as inúmeras famílias que passam por graves carências dos bens mais elementares. Neste momento, em toda a Igreja de Setúbal, as paróquias e instituições a ela ligadas já apoiam mais de 5.800 famílias, num total superior a 16.500 pessoas. E o número não para de crescer.
  4. Estamos a lançar uma campanha a nível Diocesano para recolher géneros e fundos para acudir a esta grande necessidade. Ponto de partida para dar ajuda e também para recebê-la será sempre a paróquia. Nesta campanha pode ser incluída também a recolha da renúncia quaresmal, que foi interrompida pela pandemia, identificando devidamente este destino.
  5. A Diocese, no seu conjunto, vai também participar na campanha e a Caritas Diocesana, que é a expressão da caridade de toda a Igreja de Setúbal, porá ao serviço deste projeto toda a sua experiência e capacidade, a fim de que possamos minorar as carências de quem precisa. Em breve serão dadas novas indicações sobre a organização da campanha. Decida cada um em seu coração como pode partilhar com os mais carenciados os bens que recebe de Deus.

Peço para todos a bênção do Senhor Jesus, por intercessão da sua Mãe, que invocamos, neste mês de maio, como Nossa Senhora de Fátima, para que sejamos capazes de enfrentar juntos esta crise e saiamos dela fortalecidos na fé, consolidados na comunhão das nossas comunidades e solidários na caridade. Deus nunca nos abandona; animados pelo Seu Espírito, façamos sentir a Sua presença misericordiosa junto de quem precisa, a fim de que ninguém seja abandonado nas suas dificuldades.

+ José Ornelas Carvalho

Bispo de Setúbal

Covid-19: Orientações da Conferência Episcopal Portuguesa para a celebração do culto público católico

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16 de Maio de 2020