Damos todos graças a Deus e vivemos com alegria a aproximação do momento de voltarmos a poder celebrar a Eucaristia e outros atos litúrgicos nas nossas igrejas, com a presença da comunidade, no contexto da melhoria da condição sanitária do nosso país. Pedimos ao Senhor da Vida que acolha nos seus braços misericordiosos aqueles que pereceram nestes meses e dê conforto e esperança às suas famílias. Agradecemos também a todos os que, com admirável dedicação e risco da própria vida, vão tornando possível estas melhorias, nos hospitais, nos lares de idosos e em tantos outros serviços de gestão e apoio aos que, em tantas formas, estão a ser atingidos pela pandemia. Que Deus vos abençoe e proteja!
Dou também graças a Deus pela dedicação criativa que se tem verificado ao longo deste tempo de confinamento, na nossa Diocese e em toda a Igreja: pelos sacerdotes, incansáveis na reconversão dos gestos pastorais para velar pela fé e a comunhão das comunidades; pelo engenho de tantas pessoas, grande parte jovens, que criaram e geriram plataformas de comunicação das paróquias com as famílias e as pessoas isoladas; pela sensibilidade perante quem precisa, que fez crescer o número de pessoas assistidas; e por tantas outras manifestações da presença criativa e misericordiosa do Senhor ressuscitado.
A fim de preparar esta nova fase, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou um conjunto de orientações para serem adaptadas à realidade de cada Diocese. São orientações concordadas com a Direção Geral de Saúde, para assegurar o regresso às nossas igrejas com segurança e confiança, para louvar a Deus, celebrar a comunhão que nos une, guiados pelo Espírito do Senhor.
Não vou comentar as orientações, que são do domínio público e se encontram nos órgãos de comunicação da CEP e da Diocese, mas gostaria de chamar a atenção para alguns aspetos concretos, adaptando-os à nossa realidade diocesana.
A) O preceito dominical
- Participar na Eucaristia dominical faz parte das atitudes básicas do ser cristão. É o centro do preceito de “santificar (dedicar a Deus) o domingo” e as festas importantes da Igreja. É aceitar o convite de Deus para a reunião festiva da Sua família, em que Ele próprio se faz pão partilhado para a vida, a comunhão e a força de todos e cada um.
- Quando esta participação presencial se torna impossível ou seriamente inconveniente, a Igreja aconselha os cristãos, a partir do seu coração, a responderem ao convite de Deus de santificar o domingo, na melhor forma possível. Sugere-se a leitura da Palavra de Deus e um tempo de oração, possivelmente em família ou em grupo, a participação numa transmissão da celebração dominical, a caridade para com quem precisa…
- Além disso, quem não pode participar presencialmente na Eucaristia dominical procure, se isso for possível, estar presente numa eucaristia durante a semana, afirmando assim o compromisso de santificar o dia do Senhor, renovando a sua comunhão com o Ele e com a comunidade.
- Por seu lado, os pastores velem para que a comunidade acompanhe aqueles que, por doença ou outros motivos sérios, não podem ou não devem participar na Eucaristia paroquial, a fim de que possam receber a sagrada comunhão em suas casas. Se não forem suficientes os ministros extraordinários da Eucaristia existentes, o Pároco pode encarregar outras pessoas, a título excecional, tendo a preocupação de as qualificar com uma preparação adequada, para serem portadores do Corpo do Senhor e para agirem segundo as normas de segurança.
- Onde não for possível a presença de um sacerdote que celebre a Eucaristia, favoreça-se a celebração da Palavra de Deus e a distribuição da comunhão, preparando pessoas para o fazerem.
- Nestes tempos, muitos irmãos e irmãs, apesar dos seus esforços e das suas famílias e comunidades, podem ficar impedidos de participar na Eucaristia e na vida da comunidade. Que ninguém se sinta, por isso, abandonado por Deus, pois Ele está sempre bem perto de nós, particularmente nas horas de maior dificuldade. A comunidade reza por vós. Uni-vos também a Ela na oração e estaremos unidos ao Senhor.
B) Acolher na casa de Deus
- As nossas igrejas devem ser lugares de acolhimento, de bem receber, acomodar e oferecer as melhores condições de participação nas celebrações. Esta atitude de acolhimento deve ser de todos, a começar por quem preside, e pode ser potenciada pelos grupos de acolhimento, de que falam as orientações, no nº 5 das Orientações da CEP.
- A função destes grupos não é simplesmente de vigilância e controlo, e muito menos de policiamento, mas a de cuidar para que todos se sintam bem e que a segurança de ninguém seja posta em causa, segundo as indicações que são dadas. Na presente situação e para maior segurança das pessoas pertencentes a grupos de risco, estas não devem integrar os grupos de acolhimento.
C) Celebrar com segurança e confiança
- Em nenhum caso se pode permitir que a festa e o encontro dos irmãos se transformem em focos de perigo, doença ou morte. Mas também não queremos que o medo nos impeça de viver e de celebrar. As orientações pretendem mesmo isso: contar com a responsabilidade e a boa vontade de cada um, para que, na oração, no canto, na escuta da Palavra e na partilha do Pão, todos possam encontrar-se com Deus, o Senhor da Igreja e com os outros irmãos.
- A par do uso de máscaras, medidas de higienização e outras, a segurança depende também do distanciamento entre pessoas, segundo as normas estabelecidas. Isso levará a uma significativa redução do número de presenças em cada celebração. As paróquias verão, em cada caso, como organizar o espaço celebrativo e os tempos de celebração, informando os fiéis, de modo que a todos seja oferecida a possibilidade de participar na Eucaristia.
- Além disso, como foi dito acima (cf. nº 2) durante o tempo de pandemia, as pessoas, especialmente as mais fragilizadas, poderão participar presencialmente na Eucaristia, durante a semana, em lugar do domingo.
- Para obviar a esta redução, os sacerdotes poderão celebrar mais vezes a Eucaristia no fim de semana, procurando, se possível, não ultrapassar as 5 (cinco) celebrações.
- Procure-se coordenar os horários das celebrações entre as paróquias vizinhas para servir o melhor possível os fiéis e vele-se para que esses horários estejam disponíveis em todas as igrejas e sejam sempre atualizados nos meios de comunicação das paróquias e da Diocese.
D) Outras celebrações
- Como indicam as orientações da CEP, é possível celebrar todos os sacramentos, como o batismo, o matrimónio, a reconciliação e a santa unção, e assim também outras celebrações, como primeiras comunhões ou promessas de escuteiros, no respeito pelas normas indicadas para cada caso. Chamo a atenção apenas para alguns pontos específicos:
- Até ao fim deste ano pastoral, não terão lugar celebrações da confirmação. Ulteriores indicações serão dadas a partir do mês de Setembro.
- Acompanhamos com especial carinho os doentes nos hospitais e os anciãos nos lares ou em suas casas, procurando, no estrito respeito pelas normas sanitárias e em diálogo com os responsáveis e autoridades de saúde, encontrar possibilidades de levar conforto espiritual, nomeadamente a sagrada comunhão, àqueles que o desejem.
- A celebração das exéquias cristãs pode ter lugar nas igrejas, nas capelas mortuárias e/ou no cemitério, com a presença de familiares, respeitando normas de segurança idênticas às da celebração da Eucaristia e adaptando o número de participantes às dimensões e caraterísticas de cada ambiente. As igrejas, desde que estejam livres de outras celebrações, podem ser utilizadas para a celebração das exéquias, segundo as orientações do pároco, particularmente quando o número de participantes não permita a utilização das capelas mortuárias.
E) Partilhar em Igreja
- A pandemia está a ter consequências económicas dramáticas para inúmeras famílias e para as nossas paróquias, especialmente as menos capazes economicamente. As portas das nossas igrejas vão estar abertas para a oração e as celebrações da fé, mas também para a partilha e a caridade. Nesse sentido, faço dois apelos concretos.
- O primeiro apelo é para que cada um assuma o seu dever de contribuir para a sustentação da própria paróquia. As despesas continuam, mas, sem celebrações, a generosidade dos fiéis não teve ocasião de se exprimir como habitualmente. Que o sentido de pertença à Igreja se manifeste também no contributo generoso para a sua sustentação, a partir da própria paróquia.
- Em segundo lugar, peço muito encarecidamente que olheis com coração de misericórdia para as inúmeras famílias que passam por graves carências dos bens mais elementares. Neste momento, em toda a Igreja de Setúbal, as paróquias e instituições a ela ligadas já apoiam mais de 5.800 famílias, num total superior a 16.500 pessoas. E o número não para de crescer.
- Estamos a lançar uma campanha a nível Diocesano para recolher géneros e fundos para acudir a esta grande necessidade. Ponto de partida para dar ajuda e também para recebê-la será sempre a paróquia. Nesta campanha pode ser incluída também a recolha da renúncia quaresmal, que foi interrompida pela pandemia, identificando devidamente este destino.
- A Diocese, no seu conjunto, vai também participar na campanha e a Caritas Diocesana, que é a expressão da caridade de toda a Igreja de Setúbal, porá ao serviço deste projeto toda a sua experiência e capacidade, a fim de que possamos minorar as carências de quem precisa. Em breve serão dadas novas indicações sobre a organização da campanha. Decida cada um em seu coração como pode partilhar com os mais carenciados os bens que recebe de Deus.
Peço para todos a bênção do Senhor Jesus, por intercessão da sua Mãe, que invocamos, neste mês de maio, como Nossa Senhora de Fátima, para que sejamos capazes de enfrentar juntos esta crise e saiamos dela fortalecidos na fé, consolidados na comunhão das nossas comunidades e solidários na caridade. Deus nunca nos abandona; animados pelo Seu Espírito, façamos sentir a Sua presença misericordiosa junto de quem precisa, a fim de que ninguém seja abandonado nas suas dificuldades.
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal