Testemunho de Pedro Correia, da Paróquia de Vale de Figueira, sobre a Catequese Paroquial
Hoje, fazemos um flashback, voltando ao dia 11 de março de 2020. Este dia que ficou marcado com a “suspensão da catequese paroquial a partir de 14 de março e por tempo indeterminado”.
Uma decisão tomada pela Coordenação de Catequese e pelo administrador paroquial, Padre Luís Marques, antecipando um pouco aquilo que viria a acontecer. Eis que sexta-feira surge a suspensão não só da catequese, mas também da Eucaristia e de todos os sacramentos.
Foi um acontecimento completamente atípico que nos deixou, a nós catequistas, com o coração completamente desolado, mas com a certeza e consciência de que tudo isto era a decisão certa a tomar para o bem de todos.
Os fins de semana foram passando, e todos sentíamos um vazio dentro de nós, pois faltava algo, algo muito especial e que ocupava um lugar importante do nosso fim de semana – estávamos com sede de anunciar Cristo. Foram-nos chegando algumas mensagens de famílias que sentiam também esta falta, e nos enviam mensagens como “a minha filha ou o meu filho têm saudades da catequese” ou “era bom que pudéssemos caminhar de alguma forma juntos”. E isto foi um despertar de Deus em todos nós, pois no fundo, o Senhor continuava a chamar-nos para a nossa missão. Neste momento, fomos nós que nos colocámos à escuta, à semelhança de Samuel e, numa atitude de encontrar o caminho que teríamos de seguir, respondemos: “Fala, Senhor; o teu servo escuta»(I Sam 3,9).
Foi aqui que surgiu a questão: “Porque não reinventar o modo como levamos este anúncio às nossas crianças/jovens e famílias?” E percebemos que a catequese não pode parar, mas sim adaptar-se às novas realidades.
Pensámos em vários modelos que foram sendo discutidos e debatidos entre todos, mas rapidamente percebemos que o caminho passava pela catequese online, via videoconferência. E porquê? Porque as crianças têm saudades de ver os seus irmãos de caminho, têm saudades de ver os catequistas, há uma saudade de ENCONTRO. Havia saudade de poder estarmos juntos.
Reconhecemos que as próprias crianças se estão a adaptar à telescola e ao novo método de ensino que lhes permite continuar a adquirir conhecimento, mas que infelizmente não lhes consegue devolver os momentos de brincadeira no pátio, as conversas entre colegas, os abraços e olhares dos seus amigos e que tudo isto também faz parte do processo de crescimento e desenvolvimento das crianças e jovens.
Por isso a catequese não poderia ser encarada como “mais um momento de telescola”, teria de ser algo mais dinâmico em que, aqueles que nos são confiados, pudessem interagir e recuperar de certa forma esta vertente que não existe no seu quotidiano.
E foi tendo em conta esta realidade que avançámos para uma catequese através de videoconferência em que respondemos ao Senhor, em total liberdade «Aqui estou, pois me chamaste» (I Sam 3,8). E, assim, um grupo de catequistas da Paróquia de Vale de Figueira, confiando no Imaculado Coração de Maria e sem qualquer experiência ou “receita”, avançou sem hesitar disposto a caminhar em UNIDADE.
O Senhor chama-nos a caminhar enquanto grupo de catequese, apela-nos à unidade entre todos, para que possamos estar todos juntos na mesma estrada. Desde o primeiro momento em que se pensou neste modelo de catequese, que os catequistas se mostraram disponíveis a participar ainda que alguns reconhecendo neles mais aptidão na utilização destes meios, outros com menos, mas que tudo isto faz parte da vivência de grupo. Hoje, ao fim de algumas semanas, agradecemos a todos os catequistas por sermos um verdadeiro grupo que caminha em direção ao Senhor. Nota-se um espírito de entreajuda, um desejo enorme de fazer e, acima de tudo, de recriar e levar o melhor da catequese a todas as casas. O amor é criativo, e se nos deixarmos guiar por Ele, Ele opera em nós quase sem darmos conta.
Neste momento dividiu-se os volumes de catequese (1.º ao 9.º) em quatro grandes grupos: Grupo 1 – 1.º e 2.º volumes; Grupo 2 – 3.º e 4.º volumes; Grupo 3 – 5.º e 6.º volumes; e Grupo 4 – 7.º ao 9.º volumes.
Assim, e até ao Domingo de Pentecostes estaremos a percorrer esta I Etapa deste novo Caminho – “Viver a Ressurreição de Jesus” aprofundando a mensagem do Evangelho de cada Domingo. Cada grupo de catequese, à mesma hora (sábados, 16:30h) estarão a anunciar a mensagem do evangelho adaptando a linguagem e pedagogia de acordo com a faixa etária de cada grupo.
Isto permitiu-nos que alguns irmãos, na impossibilidade de assistirem em dispositivos diferentes na mesma casa, pudessem assistir no mesmo grupo, pois apesar da pedagogia variar de acordo com a faixa etária, o tema dos grupos é o mesmo.
O esquema utilizado é o de uma catequese habitual, definindo sempre os objetivos que se pretende transmitir, o momento de acolhimento e experiência humana, seguido da escuta da Palavra e Expressão de Fé.
No acolhimento há sempre um tempo de interação com as crianças/jovens onde há um espaço para poderem dialogar entre todos. Notamos a felicidade de nos podermos reencontrar, de pudermos estar juntos ainda que estejamos à distância de um monitor.
Para a videoconferência temos utilizado a plataforma Zoom, com licenças adquiridas através de um contributo de um benfeitor da paróquia.
Procuramos sempre recorrer ao uso de músicas e vídeos, ou quizz’s online para tornar a catequese mais interativa e substituir as atividades que não conseguimos por em prática não estando juntos fisicamente. No fundo, a catequese tem de ter uma componente muito visual e interativa para que os consigamos manter atentos e ligados a estes meios.
Tem-nos chegado um feedback bastante positivo por parte das famílias e catequistas, em geral tem corrido bem. Temos neste momento, no horário da catequese, mais perto de 100 pessoas na catequese online (entre catequistas, crianças e jovens) e temos, para já, uma adesão acima dos 80%. Temos, também, procurado manter o contacto com as restantes famílias.
Tem sido um projeto muito desafiante, vivido no seio da nossa comunidade, mas que com a oração e unidade temos ultrapassado as dificuldades que nos aparecem no caminho.
Desafiamos outras paróquias a ligarem-se a esta “Igreja em Rede”, que vai muito além da rede de internet mas que nos conecta a todos e nos coloca a todos no sinal de Deus.
Pedro Correia, Paróquia de Vale de Figueira