Liturgia de Segunda-feira da VI Semana da Páscoa
Comentário à liturgia de hoje pelo Padre António Sérgio, Pároco da Aldeia de Paio Pires
É na cidade grega de Filipos que a evangelização começa na Europa. E é também curioso que parece iniciar-se em condições “anormais”, pois não havia uma Sinagoga, e a oração é feita ao ar livre na margem do rio (para fazerem as abluções rituais).
Paulo e o seu pequeno grupo – onde se incluía Lucas – chegam à cidade e fazem uma visita de reconhecimento, durante a qual vêm a saber que não tem Sinagoga, mas um grupo de mulheres costuma reunir-se para adorar o verdadeiro Deus. Há, portanto, gente religiosa, temente a Deus que pode aderir à pregação.
O grupo não se acanha e vai no dia de Sábado ter com as mulheres reunidas para lhes anunciar Jesus Cristo. Notemos que o gesto de se sentarem indica também disposição para levarem o tempo que for necessário para transmitirem a mensagem. Não têm pressa. O tempo é de Deus e por isso a Ele o dedicam.
Uma delas – notam com destaque – presta-lhes atenção. Lídia mostrou-se muito interessada e atenta. Absorvia as palavras com tanto agrado, que deixou o Senhor abrir-lhe o coração. E a conversa terminará com a sua conversão e o Baptismo de toda a família.
A pregação terá sido tão viva e entusiasmante, que a Comunidade cristã ali criada se vai tornar sólida e forte nos vínculos com o Apóstolo dos Gentios, ao ponto de o ajudar quando ele vier a ter dificuldades. As atitudes de Jesus para com as pessoas na Palestina cativaram aquelas que se encontravam mais longe, em Filipos, porque estavam ali reflectidas naquele grupo de missionários.
E será igualmente, na medida em que conseguirmos espelhar as atitudes de Jesus, que hoje e sempre os homens e mulheres de bom coração hão-de aderir e conseguir melhorar o mundo. Na verdade, é a cabal transposição da vida de Jesus Cristo em cada um nós, que nos vai garantir que não sucumbiremos, haja o que houver que nos tente derrubar.
A situação pandémica actual constituiu também hoje um desafio a cada cristão sobre se é ou não capaz de estar com Jesus e de O testemunhar. É o nosso mais recente desafio para afirmarmos, ou não, que a “pregação” do Espírito Santo Paráclito nos converteu e fez-nos aderir ainda mais a Jesus, como aconteceu com Lídia e sua família – e provavelmente com as outras mulheres e respectivas famílias – e depois ainda com outras famílias gregas.
A Palavra de Deus vivida pelo pequeno grupo apostólico fez crescer uma vigorosa Comunidade em Filipos; e é esse também o desafio para os cristãos actuais: se somos capazes de nos “sentarmos” para converter e fazer crescer a atenção do outro por forma a que o Senhor lhe possa abrir o coração à salvação.
Na Europa em crise espiritual, que se reflecte em tantas decisões sobre a vida social e económica como mera gestão empresarial – e vejam-se as posições brexitanas de isolamento egoísta; e que um pequeno vírus também vem pôr à prova, urge que os cristãos se “lembrem” do que Jesus nos “tinha dito”, para darmos um bom testemunho cristão.
Padre António Sérgio