comprehensive-camels

Igreja em Rede: Quarta-feira da VI Semana da Páscoa – “Tudo o que o Pai tem é meu. O Espírito receberá do que é meu, para vo-lo anunciar” (Jo 16, 12-15)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quarta-feira da VI Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Eduardo Nobre, Pároco do Castelo de Sesimbra

Caros irmãos, quantas vezes tendes de pensar bem para propordes um assunto aos vossos filhos ou à família no desejo que ele seja aceite com alegria e entusiasmo? Deveis imaginar o modo de o tornar aprazível e agradável e depois de pensar bem, lançais-vos à aventura, não é? Tudo tem de ser bem pensado, medido, calculado e verdadeiro, para ser aceite e às vezes não é! E pensais: tanto tempo perdido para nada! E em quantas situações começais o assunto pelo elogio, pois em geral, vai-se mais depressa à aceitação daquilo que pretendeis. E assim acontece.

Hoje, Paulo, vem mostrar-nos mais uma vez, como devemos ser audazes, para levar a Palavra de Deus a todos os povos. Ele também fez isso, pois fazer um primeiro anuncio, não é assunto fácil. Vamos ver melhor: reparai de novo no que nos diz o texto da 1ª leitura: «Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’»

Pois bem, assim fez Paulo: pega no positivo que entre eles descobriu e revela-se, um verdadeiro pedagogo:  “Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra. Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa. Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, … É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas”. Até lhes fala na maior glória que eles têm, os seus poetas e melhor ainda os cativa para o que pretende.

“Pois nós somos também da sua estirpe. Se nós somos da raça de Deus”. Até aqui, parecia haver uma maravilhosa adesão. “Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.”

Ele veio para anunciar Jesus Cristo vivo e ressuscitado a um povo, que já por si, é religioso. Era já uma vantagem. É Esse, para vós ainda desconhecido, que eu venho testemunhar. Ele tinha confiança que aderissem. Pois, sendo pessoas inteligentes, ao tomarem consciência deste desconhecimento, seria uma boa preparação para acolherem a revelação do verdadeiro Filho de Deus, sem grande resistência, era o que lhes faltava. Mas, na verdade, conhecer a realidade segundo Deus exige adesão de coração. É algo bem diferente do conhecimento simplesmente racional: é deixar que o Espírito fale num coração vazio de coisas demasiadamente terrenas.

Para isso, ainda precisavam do Espírito de verdade, que só é dado por meio do Ressuscitado e de uma adesão de mente e de coração. Muitos não estavam preparados para isso e «ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez»

Poucos aderiram, apesar de tudo estar bem preparado, (no entanto uma comunidade surgiu ali). “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora.” Não aprendemos tudo de uma vez, a fé é uma progressão. Há todos dias coisas novas a descobrir em Deus, como numa relação de amor com alguém. Temos de nos manter abertos e recetivos todos os dias à novidade de Deus.

A abertura ao Cristo Ressuscitado mudou toda a vida dos Apóstolos e deu-lhes uma nova força, uma nova coragem, sabedoria e determinação. Foi o Espírito Santo que Cristo lhes enviou. Ele é um dinamismo que anima aqueles que a Ele se entregam de corpo e alma. O Espírito será guia na compreensão da Palavra de Jesus e no encontro de coração com Ele, Senhor de uma vida nova e eterna. O Espírito Santo nos guiará para a verdade total, vai fazendo luz na vida dos que a Ele aderem.

Precisamos de o invocar e de nos abrirmos a Ele. Se nos deixarmos orientar por Ele a vida será nova. E se falarmos mais com Cristo sobre o Pai e se O ouvirmos também mais falar do Pai, não diremos palavras inúteis e praticaremos o que Ele nos ensinou. Com essa atitude nos vamos configurando com Ele, crescendo na santidade e, por natureza disso, seremos mais semelhantes a Ele em todo o nosso viver de cristãos, buscando em tudo a Verdade que é Deus. A nossa visão sobre a vida será outra e da nossa boca brotarão hinos de reconhecimento, louvor e glória.

A partir do batismo somos templos da Santíssima Trindade. Que maravilha! Temos Deus em nós. Jesus fala do que ouviu do Pai, que é amor. O Pai quer-nos sempre o melhor bem, as suas delícias são amar-nos. Quando descobriremos a fundo, esta verdade, que é a melhor notícia? Também nós, quando escutamos mais a Jesus, ficamos com o coração cheio de bondade e de vida que se transmite por palavras e obras. Temos de O ouvir mais vezes na oração, na leitura da Sua Palavra e com uma maior concentração, para O reproduzir na vida e o louvar a sério. Não mais podemos viver separados das três pessoas divinas. Elas são uma companhia constante na nossa vida, não as esqueçamos. Jesus gritava “Abbá”, igual a dizer: “paizinho querido”. Ele, que nos prometeu o Espírito Santo, é Esse Espírito que nos deixou, que clama também em nós e nos fará ver a realidade de Deus e dos homens, como o Pai e o Filho a veem. Precisamos de ter um coração receptivo, um coração acolhedor. O Espírito Santo nos fará conhecer a mundo e a história na perspectiva da novidade iniciada com a morte e a ressurreição de Cristo. Ele quer conduzir-nos à verdade que ainda não conseguimos suportar, é o “já e o ainda não” das nossas vidas.

O Espírito ainda é muito desconhecido entre nós. Reparai e pensai um pouco: quantas vezes já rezei hoje ao Espírito Santo?

Sempre que participo na Eucaristia, recordo-O certamente ao ouvir: “O Espírito Santo santifique estes dons, de modo que se convertam no corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”, mas depois, esquecemo-Lo muito. Ele é o prometido que Jesus nos enviou. Estamos no tempo do Espírito, foi Ele que encarnou em Maria e nela nos deu Jesus. Maria soube sempre orientar-se na vida, pois o Espírito Santo foi o seu iluminador em todas as causas. É Ele que nos guia na busca da verdade, é Ele que nos ilumina. Recorrei a Ele nas vossas aflições que não vos deixará sem resposta. Não o reduzamos só aos sete dons que aprendemos na catequese ou aos frutos que a carta aos Gálatas no fala. Ele é o distribuidor e dispensador das maiores graças que nos veem do Pai e do Filho, o Ressuscitado. Não foi de qualquer modo que Jesus no-Lo prometeu, para ficar sempre connosco. Logo que os Apóstolos O receberam, ficaram outros. Ele consola-nos nas nossas tribulações e dinamiza-nos nas nossas imprecisões. Ele tem muitas funções.

Ontem foi-nos apresentado como Defensor, hoje como Pedagogo, anunciador e glorificador. Ele é a força de Deus, a Ele ninguém o contem.

Peçamos a Cristo Ressuscitado, com humildade, determinação e coragem que no-Lo envie de novo e que purifique o nosso coração, pela infusão do Seu Espírito para nos irmos abrindo à compreensão da «Verdade completa», mergulhando muitas vezes no “três vezes Santo! Que é o mar imenso de amor que clama em nós. Que nos atraia ao fundo de nós, onde habita, e nos faça descobrir a Sua vontade ensinando-nos os Seus projetos sobre nós e sobre o mundo, neste tempo de pandemia, que tanto nos perturba e nos deixa inquietos.

Peçamo-Lo muitas vezes: Vinde Espírito santo Santificador! Vinde dinamizador de todo o bem! Vinde Espírito Santo e enviai do Céu um raio da vossa luz, vinde Pai dos pobres, vinde distribuidor de todos os dons, vinde consolador supremo, doce hóspede… Convido-vos a habituarem-se a rezar a sequência da Missa do Espírito Santo muitas vezes e verão como ela vos dará novo alento na vida do dia a dia.

Padre Eduardo Nobre

Partilhe nas redes sociais!
20 de Maio de 2020