Liturgia de Segunda-feira da VII Semana da Páscoa
Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Pedro Cerantola, Pároco ‘In solidum’ da Amora
A Palavra de Deus, desde a Páscoa, conduz-nos para o Pentecostes, fazendo saborear os capítulos do Evangelho de São João, no ambiente da Última Ceia, onde Jesus prepara os seus discípulos a quanto, naquela noite, está por acontecer: a Paixão e Morte e a Ressurreição.
É o momento das confidências e da despedida; é um daqueles momentos onde cada palavra, fica gravada no coração. O jovem João, uns sessenta anos depois escreverá como se estivesse ainda a ouvir o que Jesus ia dizendo. Os apóstolos desta vez acham que estão a entender bem; na realidade ninguém se apercebe do que está para acontecer: a traição e a debandada do grupo.
Tinha Jesus falado em parábolas, em imagens bonitas. Ele é o pastor que cuida, eles são as ovelhas; Ele é a videira e eles os ramos … tudo bonito e poético. Dava para sonhar de olhos abertos.
Mas agora Jesus fala de despedida, de ida e volta ao Pai. Quando Jesus falava do Pai, ficavam encantados. Por isso Lhe dizem que já não há enigmas (parábolas) e que não precisam de explicações, em parte, na intimidade, como em outras ocasiões.
Jesus dá-se conta então, como acontece à professora, quando os seus alunos não lhe fazem mais perguntas: é porque pensam de saber quanto chega. É a ilusão de quem diz de ter muita fé, não ter mais dúvidas, e não precisa saber mais nada. Desta maneira nos declaramos como os mais ignorantes, porque pensamos saber já tudo.
Jesus fala abertamente e não duvida da sinceridade deles, mas não deixa de chamar atenção para a fragilidade da sua fé, que daí a pouco se manifestará na fuga geral de todos, no momento em que iniciar a Paixão.
Está à porta o traidor, eles todos serão dispersos, cada um para o seu lado. Ele ficará só. E nesta hora amarga de solidão sentirá verdadeiramente só a presença do Pai.
“Anunciei-vos estas coisas …”. E recomenda a não se deixar perder nas dúvidas, nas dificuldades, nas pandemias, nas solidões. É crise de fé? Pelo contrário: é o momento da purificação, é o momento do silêncio, que revela a presença misteriosa de Deus, que infunde coragem e paz. Não entrar em pânico. A fuga será sempre uma derrota. Ele, dando livremente sua vida na Cruz, venceu o mundo e todas as forças de mal.
Com Ele, quem se mantiver fiel, sairá vencedor.
Padre Pedro Cerantola