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Igreja em Rede: Quarta-feira da VII Semana da Páscoa – “Para que sejam um como Nós” (Jo 17, 11b-19)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quarta-feira da VII Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Luís Matos Ferreira, Vigário Episcopal para a Pastoral e Pároco de S. Paulo (Setúbal)

Estamos prestes a terminar o Tempo Pascal com a celebração do grande dom da descida do Espírito Santo à igreja nascente. Para preparar esta solenidade do Pentecostes sublinho três palavras das leituras propostas para esta quarta-feira da sétima semana do Tempo Pascal: doação, abraço e unidade.

No livro dos Atos dos Apóstolos, Paulo lembra à comunidade de Éfeso uma afirmação de Jesus: «Recordo-vos as palavras do Senhor Jesus: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’». A vida cristã é um desafio constante a uma plena configuração ao Senhor Jesus. Se pegarmos nos Evangelhos constatamos que desde o mistério da Encarnação até à Ascensão ao céu toda a vida de Cristo foi um total esquecimento de si para um cumprimento total da vontade do Pai e, simultaneamente, uma entrega e dedicação de Jesus aos seus Apóstolos.  A verdadeira felicidade está radicada na nossa configuração a Jesus, numa plena doação a Ele e aos nossos irmãos, sem procurar recompensa alguma. A vida dos santos foi e será sempre esta simbiose das suas vontades com a vontade do Senhor. Por isso, santidade é sinónimo de doação. O santo é feliz porque se dá. A doação implica ouvir, rezar e servir. Doação significa oferecer ao Senhor e aos irmãos o que recebemos como dom gratuito e com possibilidade de frutificar como a parábola do semeador em que uma só semente gerou cem. A verdadeira felicidade está radicada em Jesus que se doou por nós e nos desafia, no quotidiano da vida, a uma doação total à missão que o Senhor nos confia. Doação!

«Lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo». O abraço é um gesto de quem estima, de quem ama, de quem sente afeto, de quem nutre sentimentos interiores pelo outro e que o manifesta num gesto concreto. Quantas vezes terminamos as nossas mensagens no telemóvel dizendo “um abraço”. Este “gesto” significa uma despedida com estima a quem enviamos o SMS e que mesmo não estando fisicamente presente queremos enviar “virtualmente” o gesto que brota do nosso interior, transmitindo o que coração perscruta na sua intimidade: amor. Porém, neste tempo que vivemos de Pandemia estamos privados da concretização real deste gesto. Quantos vezes ao encontramo-nos com alguém por quem temos um carinho, uma amizade, uma sincera estima, ao olhar o outro(a) nos olhos, não queremos ficar apenas pelo gesto do “toque dos cotovelos”, mas queremos agir, abraçando concretamente. O abraço é um gesto tipicamente humano de quem ama, de quem estima, de quem quer bem, de quem quer ser feliz na doação, no chorar e/ou no rir. Abraçar é um gesto que tocando aquele ou aquela por quem nutro uma amizade manifesta o sentimento que brota do interior e, que para nós cristãos, é gerado no amor sincero ao Senhor. No livro dos Atos dos Apóstolos, lemos que toda a comunidade rompeu no pranto e lançou-se ao pescoço de Paulo num ato de despedida, de saudade que espelha a amizade, a estima, a confiança e a saudade por Paulo pois nunca mais veriam o seu rosto. O abraço sincero e verdadeiro desculpa, perdoa, emociona e deixa memória para a vida toda, sobretudo quando nunca mais vemos aquele ou aquela com quem temos este gesto, como foi o caso de Paulo. Abraço!

«Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que Me deste, para que sejam um, como Nós». Estamos diante da oração sacerdotal de Jesus ao Pai. Que bela. Faz-nos bem ler, reler e rezar todas estas palavras aplicando-as na nossa vida. Jesus reza ao Pai, o Seu “paizinho”, o Seu “Ábba”, para que guarde os seus amigos, os seus escolhidos, os seus apóstolos em Seu nome. “Guarda-os”. Que palavra sentida e profunda: guardar. Guardar que implica juntar, proteger para que sejam um só como Jesus o é com o Pai. Sublinho aquilo que dizia no início: A vida cristã é um desafio constante a uma plena configuração diária ao Senhor Jesus. Devemos ter uma unidade de vida com o Senhor que leva a uma boa orientação humana e espiritual: uma vida reta e equilibrada. As duplicidades de vida levam a um distanciamento do Senhor e o desenvolvimento de uma “esquizofrenia” espiritual. Jesus quer-nos na unidade de vida interior com o Pai. Esta unidade leva-nos a uma unidade de vida com os outros. A vida cristã não se joga no isolamento, mas na comunhão com o Senhor e com os demais. Já nos diz São João que quem ama a Deus tem de amar o seu irmão. Unidade.

Saibamos ordenar a vida em Jesus e por Jesus no gesto concreto da doação, que implica abraçar o outro na unidade com o Senhor.

Vem Espírito Santo!  

Padre Luís Matos Ferreira

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27 de Maio de 2020