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Igreja em Rede: Quinta-feira da VII Semana da Páscoa – “Sejam consumados na unidade” (Jo 17, 20-26)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quinta-feira da VII Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Luiz Carlos Junior, da Aliança de Misericórdia e Pároco de Arrentela

O texto bíblico do Evangelho de São João situa-se na chamada “Oração Sacerdotal”, também interpretado como o “Discurso da Despedida”. Neste contexto, é fundamental compreender o sentido litúrgico desta perícope joanina, uma vez que vemos Jesus a referenciar a sua própria glorificação de um modo particular, pois para Ele, a Glória do Pai e a Sua são uma só. Além disso, Jesus revela uma comunhão e intimidade profunda entre as pessoas da Trindade porque toda a ação de Cristo é movida pelo seu Espírito.

O gesto de erguer os olhos ao céu e suplicar a Deus Pai retrata o facto de Ele não se destacar como um ser inferior ou de menor importância, muito pelo contrário, nestas linhas de São João estão contidas as características para uma verdadeira vivência da comunhão espiritual e em Igreja.

“Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: Pai, santo, não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti.” João 17, 20

A oração apresentada faz alusão à igreja vindoura. Numa perspetiva escatológica, podemos afirmar que Cristo ora pela Igreja na história que se perpetua pelos séculos e é confortante pensar que Cristo já orou por nós.

Quando aproximamos a nossa reflexão para o texto original escrito em grego, percebemos que a expressão usada para representar a oração de Jesus é o verbo ἐρωτάω (erótaó) que significa “um desejo profundo”. Desta forma é fascinante a compreensão de que Jesus faz uma das orações mais importantes da sua vida terrena. Além disso, a oração é direcionada, isto é, Cristo pede para que sejamos protegidos dos perigos mundanos, sendo o termo “Mundo” entendido como a realidade inclinada ao pecado e não no entendimento de Cosmos – espaço de habitação.

“Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim.” João 17, 21

Na sequência da petição de proteção, o evangelista dá-nos outro elemento importante para o entendimento deste texto, ou seja, Cristo quer que os homens experimentem uma comunhão mais profunda, que vai além dos meros relacionamentos humanos, mas que possa ser capaz de “tocar o divino”, por isso em Cristo e por meio de Cristo chegamos ao Pai, podendo chamar Deus de Pai Nosso.

Temos com as palavras do nosso Salvador, um convite a examinar, numa primeira instância, a nossa consciência e identificar os “mundanismos” que por vezes podem estar a influenciar o nosso modo de viver e, num segundo momento, a possibilidade de nos permitirmos modificar por Cristo. Neste caso, costumo usar uma expressão que cabe bem a todo cristão e não apenas aos padres: “É preciso configurar-se a Cristo na Igreja”.

Como nota conclusiva desta reflexão, peço que o Espírito Santo ilumine a nossa inteligência para compreender que um dia, mesmo sem pedirmos, fomos todos agraciados com a oração pessoal de Jesus Cristo e, por isso, a sua oração não deve esmorecer nem se perder, ao longo dos tempos. Além de que, Ele espera uma resposta de cada um. Mas que resposta é essa? Que todos juntos possamos dizer “Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o vosso reino seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

Padre Luís Carlos Junior

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28 de Maio de 2020