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Testemunho Covid 19: as saudades de um sacerdote e a beleza do reencontro

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Em contexto de reabertura de igrejas e retoma das celebrações comunitárias, o Padre Nuno Pacheco, scj, partilha a sua experiência do regresso à “nova” normalidade.

A vida das nossas comunidades cristãs sofreu mudanças acentuadas por causa da pandemia causada pelo SARS-CoV-2. Acordámos de forma repentina para um vírus chamado COVID-19. Fizemos piadas sobre ele e, nalguns casos, desvalorizámos o seu efeito devastador. Parámos de conseguir rir quando começaram a surgir as primeiras vítimas mortais e vimos a nossa liberdade ser confinada ao pequeno espaço das nossas casas. Esta é a nossa realidade atual, a qual todos somos chamados a intervir de forma convicta e com sentido de responsabilidade.

Os nossos bispos deram a maior prova de amor pelo seu rebanho quando decidiram tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança de todos. Uma decisão certamente sofrida, mas que permitiu a cura do corpo sem nunca pôr em causa a salvação da alma, pois os sacramentos sempre estiveram ao dispor dos fiéis, desde que estivesse garantida a segurança da sua administração. Santo Irineu afirmou que «a glória de Deus é o homem vivo» e a Sagrada Escritura garante-nos que «o nosso Deus é um Deus dos vivos e não de mortos». (cf. Lc 20, 38).

Nesse sentido a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reuniu-se com a DGS de modo a encontrar quais regras e comportamentos que deveriam ser assumidos na reabertura tão desejada e esperada das celebrações eucarísticas com a presença física dos fiéis. Dessa lista, já tão amplamente divulgada pelos diversos meios de comunicação, fica a certeza de que a vida humana está em primeiro lugar e que se todos respeitarem as recomendações feitas que tudo irá decorrer da melhor forma.

Não deixará de ser um desafio que exigirá de todos a maior compreensão e respeito pelas indicações dadas pela equipa de acolhimento. Não podemos pôr em risco a nossa vida nem a vida dos nossos irmãos. Será um tempo de adaptação a uma nova realidade, mas iremos prevalecer se soubermos caminhar juntos e sermos parte da solução. Haverá desafios, sem que haja evolução? Não. Esta não é a situação que desejávamos viver, mas se colocarmos o bem de todos em primeiro lugar, então teremos como certeza de que fizemos tudo o que está ao nosso alcance para garantir que a vida e ritmos normais da vida de uma comunidade voltará em breve ao que estávamos tão acostumados.

Nunca me senti só durante este tempo de isolamento social a que fomos forçados. Celebrei a Santa Missa todos os dias tendo como intenção o povo a mim confiado. Fi-lo em união com o Santo Padre, com o nosso Bispo Diocesano, com todos os meus colegas no sacerdócio. Fiz a experiência que mesmo distantes é possível não estarmos ausentes da vida dos irmãos. Antes pelo contrário, aproximou-nos. Redescobrimos a Igreja Doméstica, onde os pais voltaram a ser os primeiros anunciadores do evangelho a seus filhos. Rezamos em família como noutros tempos. Sentimos sede de Deus e da presença dos irmãos e, talvez por isso, aquele espaço vazio das igrejas darem a sensação de estarem «tão cheios»: cheios do amor de quem ali queria estar e não podia. Dei-me conta da beleza das igrejas que me foram confiadas e compreendi tão bem que a sua verdadeira beleza vem do facto de estarmos todos lá reunidos em nome do Senhor.

Senti saudades. Chorei, confesso-me! Mas nunca deixei de sentir as consolações de Deus através daqueles que Ele mesmo me confiou. Agora voltaremos a abrir as portas à celebração das missas com a presença dos fiéis. Limitamo-nos, por agora, a celebrar sem o abraço da paz, mas não deixará de haver a alegria da multiplicação dos pães e a alegria do vinho novo que o Senhor nos dá ao dar-se por amor na Eucaristia.

Padre Nuno Pacheco, scj, Pároco de Alhos Vedros e Santo André 

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29 de Maio de 2020