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Igreja em Rede: Terça-feira da IX Semana do Tempo Comum – “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Lc 12, 13-17)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Segunda-feira da IX Semana do Tempo Comum

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Armando Azevedo, Pároco do Seixal

Depois do tempo festivo pascal, a Igreja recomeçou o tempo comum na nona semana. Na primeira leitura retomamos o edificante Livro de Tobias. Entre os deportados para a Assíria, distinguiu-se a piedosa família de Tobit que, incompreendido por muitos, incluindo a própria esposa, se manteve sempre fiel a Deus e à Lei de Moisés. Na prática da caridade, sepultando os judeus mortos e abandonados, ficou cego. E não se lamentou contra Deus pela desgraça que lhe sucedera. Pelo contrário, insiste com a esposa que devemos manter a fidelidade a Deus mesmo nas desgraças, louvando-O em tudo. Belo exemplo para todos os tempos.

No evangelho temos o conhecido episódio sobre a legitimidade, ou não, de os judeus pagarem o tributo a César. Era tema muito discutido no tempo de Jesus.

O grupo dos saduceus, e os partidários do rei Herodes, defendiam essa obrigação, porque assim defendiam os seus postos de trabalho e a sua posição social. Os fariseus, ao contrário, defendiam que era ilícito a um judeu pagar impostos a um soberano que se declarava ser um deus e até mandara cunhar a sua imagem nas moedas do tributo. E os guerrilheiros zelotas a isso se opunham pelas armas. Por isso a pergunta colocada a Jesus era muito delicada e capsiosa: “é lícito, ou não, pagar o tributo a César? “De que lado te colocas? Jesus tinha que medir as suas palavras para não ser acusado como “inimigo” dos romanos. A resposta de Jesus: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” afirma que há deveres cívicos para com as autoridades civis que até exercem o poder em nome de Deus (1Pd) e deveres religiosos para com Deus. A questão é saber se são deveres complementares, ou se se opõem, como afirmavam os fariseus.

Ao longo da história esta resposta de Jesus teve interpretações diferentes, conforme o oportunismo de muitos. Nos dias de hoje, por exemplo, os defensores do laicismo exagerado e mal interpretado defendem que a fé em Deus e a prática de religião são um assunto privado e pessoal, sem direito a expressão social. É só para ser exercido dentro das igrejas e na consciência de cada um. Isso é roubar a Deus o que lhe pertence: a vida do homem, também na sua dimensão social. Na resposta que Jesus deu, César e Deus, o político e o religioso, não se opõem. O cristão tem deveres para com Deus, e deveres sociais e políticos, que deve cumprir. Só quando eles se opõem claramente, como o uso da eutanásia ou do aborto, hoje tão discutidos, é que é justa a objeção de consciência, pela qual o cristão deve recusar-se a praticar. O pagamento de impostos justos e necessários para o bem comum; o cumprimento rigoroso das leis de trânsito; as normas sanitárias de confinamento e distância social consideradas necessárias nas atuais circunstâncias da pandemia, pelo respeito pela saúde pessoal e dos outros, são obrigações de todos, também dos cristãos.

E poderíamos continuar lembrando a responsabilidade cívica da participação democrática na vida pública, a crítica construtiva e a solidariedade na justiça. Tema sempre palpitante de atualidade, porque a vida social e as sempre necessárias atualizações não param. 

Padre Armando Azevedo

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02 de Junho de 2020