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Igreja em Rede: Quarta-feira da X Semana do Tempo Comum – “Anuncio-vos uma grande alegria” (Lc 2, 8-14)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quarta-feira da X Semana do Tempo Comum

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre José Rodrigo Mendes

Como cidadãos portugueses celebramos hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Como cristãos do nosso país, somos neste dia convidados a escutar o que nos diz da parte de Deus o Santo Anjo da Guarda de Portugal. Para que tal aconteça, o Evangelho do dia manda-nos para Belém escutar o mesmo anjo que falou aos pastores na noite do nascimento de Jesus.

Como todos sabemos, a nossa cidade capital tem um bairro chamado Belém. Aí fica o Mosteiro dos Jerónimos à espiritualidade de Belém dedicado pelos frades a quem entregue pelo rei Manuel. Chamam-se Jerónimos porque foi junto à gruta de Belém que S. Jerónimo seu inspirador se recolheu para meditar a Palavra de Deus; e foi a partir de lá que contribuiu para que em todo o mundo fosse escutado o Verbo Eterno de Deus que em Belém se fez carne.

Desse lugar nos chegará este ano, dada a conjuntura pandémica, a mensagem do nosso Presidente da República e do Cardeal Tolentino Mendonça que preside às Comemorações. Não sei o que vão dizer porque escrevo antes de eles falarem. Mas sei o que de lá nos diz o poeta Camões aí sepultado e razão para que de lá tomem a palavra. De Belém o nosso poeta nacional recebeu e nos transmitiu a mensagem que plasmou neste belíssimo soneto:

Dos Céus à terra desce a mor Beleza,
Une-se à nossa carne a fá-la nobre;
E sendo a humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à mor alteza.

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;
Que ao mundo o seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo Céu despreza.

Como? Deus em pobreza à terra desce.
O que é mais pobre tanto lhe contenta,
Que este somente rico lhe parece.

Pobreza este Presépio representa;
Mas tanto por ser pobre já merece,
Que quanto mais o é, mais lhe contenta.

Hoje como há dois mil anos em Belém e no tempo de Camões, a mensagem do Anjo de Deus vem para iluminar a nossa noite e ajudar a vencer os nossos medos. Este ano eles provêm em grande parte da pandemia que nos apoquenta. A todo o custo procuramos vencê-la e parece que vamos ter êxito. Mas sabemos bem que esse êxito será só temporário e passageiro se nele não acolhermos agradecidos não só a saúde mas também a Salvação que o Menino de Belém nos vem trazer.

Escutar este ano o anjo de Belém ajuda-nos a descobrir o essencial: a natureza, a família e o mais pequenino que nos recebe e a quem ajudamos no Presépio. Aí nos é dada a única riqueza que nos pode satisfazer porque para o Infinito fomos feitos. Mas só a podemos receber se pusermos de parte as nossas desenfreadas corridas ao ter e ao poder com todas as suas bugigangas. Esses tão procurados luxos acabam sempre por transformar em lixo a vida à nossa volta e, ao fim e ao cabo, cada um de nós. Estamos no mundo mas não somos do mundo. A nossa vida neste mundo só é verdadeira vida se for caminhada para o Natal.

Padre José Rodrigo Mendes

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10 de Junho de 2020