Liturgia de Quarta-feira da XI Semana do Tempo Comum
Comentário à liturgia de hoje pelo Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita
Inserido no “Sermão da Montanha”, dos capítulos 5-7 do evangelho segundo São Mateus, encontramos na liturgia da palavra deste dia a prevenção de Jesus, dizendo para em três situações termos cuidado: quanto à esmola, quanto à oração e quanto ao jejum. Jesus faz estas advertências – escutamo-las com reputada solenidade na quarta-feira de cinzas de cada quaresma – por contraste com o comportamento ostensivo dos hipócritas fariseus, escribas e doutores da Lei, isto é, os mentores da religião judaica, mais exterior do que interior.
Em cada item Jesus contrapõe o comportamento dos “senhores” da religião judaica com qual deve ser a atitude dos seus discípulos.
– “Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai que vê no segredo te dará a recompensa;
– “Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai que vê o que está oculto, te dará a recompensa”;
– “Quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto para que os homens não percebam que jejuas, nas apenas o teu Pai, que está presente no que é oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa”.
Estes três vetores da espiritualidade cristã precisam de ser renovados, aprofundados e vividos com novo ardor na nossa vida pessoal e comunitária. Se bem que, na Quaresma, devam estar mais revigorados, em todo o tempo precisamos de os ter em conta não meramente como recursos, mas como alicerces da nossa vida espiritual.
Por seu turno, o texto da primeira leitura de 2 Reis 2,1.6-14 apresenta-nos a transferência do espírito profético de Elias para o seu discípulo Eliseu. Arrebatado ao Céu num carro de fogo, Elias deixa cair o manto de profeta. Elias recebe-o com alegre gratidão e logo tenta perceber o poder desse manto, afastando as águas do Jordão.
Num mundo entorpecido aos sinais de Deus precisamos de exercer a ousadia profética através da esmola ao irmão em Cristo, da oração pela escuta de Deus e dos irmãos e pelo domínio das tendências terrenas/mundanas exageradas.
Como é a minha atitude de esmola: de libertação ou de condicionamento do outro?
A minha oração é gratuita, sadia e de escuta sincera?
Quando jejuo faço-o como oportunidade de crescimento para melhor acolher a graça de Deus e em abertura aos demais?
Cuidemos de Deus em nós e sintamos Deus nos outros e pela natureza.
Padre António Sílvio Couto