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Catequese: Novo Diretório projeta contemporaneidade do Evangelho

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Documento assenta novo modelo de formação e comunicação na cultura digital, na globalização da transmissão da fé e na atenção ao mundo e ao outro, em particular às pessoas portadoras de deficiência.

O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que desde 2013, por decisão de Bento XVI, assumiu entre as suas competências o setor da Catequese, apresentou esta quinta-feira o novo Diretório de Catequese.

O documento, que sucede ao “Diretório Catequético Geral” de 1971 e ao “Diretório Geral de Catequese” de 1997, foi aprovado pelo Papa Francisco a 23 de março de 2020, memorial litúrgico de San Turibio di Mogrovejo que, no século XVI, deu forte impulso à evangelização e catequese.

Ao longo de 428 pontos, a cultura digital, globalização da fé, a renovação das linguagens, a inclusão social e a atenção às questões sociais, ecológicas, culturais e espirituais são alguns dos pontos chave do novo documento.

O portal Vatican News apresenta um resumo, que aqui replicamos, dos pontos essenciais do novo diretório que irá orientar a ação catequética nas comunidades católicas.

Em Portugal o novo documento orientador da Catequese vai ser editado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã, com apresentação da obra nas Jornadas Nacionais de Catequistas.

 

Novo diretório de catequese: atualizando o evangelho

A peculiaridade do novo Diretório é o estreito vínculo entre evangelização e catequese, que sublinha a união entre o primeiro anúncio e o amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. Essa peculiaridade – explica o documento – é mais necessária diante de dois desafios que a Igreja enfrenta no tempo atual: a cultura digital e a globalização da cultura. Em mais de 300 páginas, divididas em 3 partes e 12 capítulos, o texto lembra que toda a pessoa batizada é um discípulo missionário e que esforços e responsabilidades são urgentemente necessários para encontrar novas linguagens com as quais comunicar a fé.

Três princípios básicos pelos quais podemos agir: testemunho, porque “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”; misericórdia, catequese autêntica que torna credível a proclamação da fé; e o diálogo, o livre e gratuito, que não obriga, mas que, partindo do amor, contribui para a paz. Dessa maneira – explica o Diretório -, a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à sua existência.

 

A formação dos catequistas

Na sua primeira parte, intitulada “Catequese na missão evangelizadora da Igreja”, o texto foca, em particular, a formação dos catequistas: para serem testemunhas credíveis da fé, eles devem “ser catequistas antes de serem catequistas” e, portanto, devem trabalhar com gratuidade, dedicação, coerência, segundo uma espiritualidade missionária que os afasta do “esforço pastoral estéril” e do individualismo. Professores, educadores, testemunhas, catequistas devem acompanhar a liberdade dos outros com humildade e respeito. Ao mesmo tempo, será necessário “estar vigilante para garantir que todas as pessoas, especialmente menores e pessoas vulneráveis, garantam proteção absoluta contra qualquer forma de abuso”. Os catequistas também são convidados a adotar um “estilo de comunhão” e a serem criativos no uso de ferramentas e linguagens.

 

A linguagem da catequese: narração, arte, música

O desafio da linguagem está presente, em particular, na segunda parte do Diretório, intitulada “O processo de catequese”. Numerosas modalidades expressivas mencionadas, a partir da narração, definiram como “um modelo comunicativo profundo e eficaz”, pois são capazes de entrelaçar, de maneira frutífera, a história de Jesus, a fé e a vida dos homens. Como exemplo, a arte é importante, pois, através da contemplação da beleza, permite que se experimente o encontro com Deus, enquanto a música, especialmente a música sacra, impregna no espírito humano o desejo pelo infinito.

 

Catequese na vida das pessoas: a importância da família

Mas é quando a catequese se torna concreta na vida das pessoas que emerge claramente a importância da família: um sujeito ativo de evangelização e um lugar natural para viver a fé de maneira simples e espontânea. Oferece, de facto, uma educação cristã “mais testemunhada que o ensino”, através de um estilo humilde e compassivo. Diante de situações irregulares e de novos cenários familiares presentes na sociedade contemporânea, nos quais há um esvaziamento do significado transcendente da família, a Igreja pede que se acompanhe na fé com proximidade, escuta e compreensão, na ótica da preocupação, respeito e solicitude, para restaurar a confiança e a esperança para todos e superar a solidão e a discriminação. A catequese também será projetada de acordo com as faixas etárias dos seus destinatários: crianças, jovens, adultos e idosos. Mas, embora diversificada em idiomas, deve ter um estilo único: o de acompanhamento, que torna testemunhas catequistas credíveis, convictos e envolventes, discretos mas presentes, capazes de aprimorar as qualidades de cada fiel e fazê-lo sentir-se bem-vindo e reconhecido dentro da comunidade cristã.

 

“Cultura de inclusão” e acolhimento de deficientes e migrantes

Hospitalidade e reconhecimento são as palavras-chave que devem acompanhar também a catequese para os deficientes: diante do constrangimento e do medo que podem despertar porque lembram a dor e a morte, será importante responder com uma “cultura de inclusão” que vença a “cultura do descarte”. As pessoas com deficiência são, de facto, testemunhas das verdades essenciais da vida humana, como vulnerabilidade e fragilidade, devendo, portanto, ser aceites como um grande presente, enquanto as suas famílias merecem “respeito e admiração”. Outra categoria específica mencionada pelo Diretório é a dos migrantes que, longe da sua terra natal, podem sofrer uma crise de fé: para eles também, a catequese terá que se concentrar em hospitalidade, confiança e solidariedade, para que sejam apoiados na luta contra preconceitos e perigos sérios que possam incorrer, como o tráfico de seres humanos.

 

A prisão, “autêntica terra missionária”, e a opção preferencial pelos pobres

O documento olha para as prisões como uma “autêntica terra missionária”: para os presos, a catequese será o anúncio da salvação em Cristo, perdão e libertação, juntamente com uma escuta atenta que mostra o rosto materno da Igreja. Entre as categorias mais marginalizadas, a Igreja não esquece os pobres: a opção preferencial em relação a eles também é a “atenção espiritual” – pergunta o Diretório – lembrando o primado da caridade e a importância de um dinamismo missionário que, em reunião com o mais necessitado, faça o encontro com Cristo.

“A Igreja também – recomenda o texto – é chamada a viver a pobreza como abandono total a Deus, sem confiar nos meios mundanos”. Nesse contexto, a catequese deve educar a pobreza evangélica, promover a cultura da fraternidade e incentivar os fiéis a se indignarem com situações de miséria e injustiça. Além disso, perto do Dia Mundial dos Pobres, a reflexão catequética deve ser acompanhada de “um compromisso concreto e direto, com sinais tangíveis de atenção aos pobres e marginalizados”.

 

Paróquias, associações e escolas católicas

Na terceira parte, dedicada à “catequese na Igreja particular”, emerge sobretudo o papel das paróquias, associações, movimentos eclesiais e escolas católicas. No primeiro, definido como “exemplo de apostolado comunitário”, destaca-se a “plasticidade” que os torna capazes de uma catequese criativa, “em escuta” e “em saída” em relação às experiências das pessoas. Associações e movimentos, por outro lado, são lembrados pela “grande capacidade evangelizadora” que os torna uma “riqueza da Igreja”, desde que cuidem da formação e da comunhão eclesial. Quanto às escolas católicas, elas são instados a mudar de escolas-instituições para escolas-comunidades ou comunidades de fé com um projeto educacional baseado nos valores do Evangelho.

 

Ensino de religião e catequese: distinto, mas complementar

Nesse contexto, um parágrafo separado é dedicado ao ensino da religião, o qual – enfatizam – é distinto, mas complementar à catequese, e é caracterizado por dois aspetos: entrar em relacionamento com outros conhecimentos e saber transformar o conhecimento em sabedoria da vida. “O fator religioso é uma dimensão da existência e não deve ser esquecido”, diz o Diretório; portanto, “é direito dos pais e dos alunos” receber formação integral que também leve em consideração o ensino da religião. O importante é que isso sempre ocorra através de um diálogo aberto e respeitoso, livre de conflitos ideológicos.

 

Pluralismo cultural e pluralismo religioso: a relação com o judaísmo e o islão

Um grande capítulo foca os diferentes cenários contemporâneos com os quais a catequese deve se confrontar: pluralismo cultural que leva ao tratamento superficial de questões morais; os contextos urbanos difíceis, muitas vezes desumanos, violentos e segregadores; o confronto com os povos indígenas que requerem conhecimento adequado para superar os preconceitos; a piedade popular e o seu ser, por um lado, um “lugar teológico” e “reserva de fé”, mas, por outro, correr o risco de se abrir para superstições e seitas.

Em todas essas áreas, a catequese é chamada a trazer esperança e dignidade, superar o anonimato e promover a proteção ambiental. Setores especiais são, então, os do ecumenismo e do diálogo inter-religioso com o judaísmo e o islamismo: com relação ao primeiro ponto, o Diretório enfatiza como a catequese deve “despertar o desejo de unidade” entre os cristãos, para ser “uma ferramenta credível de evangelização”. Quanto ao judaísmo, convida-se a um diálogo que combata o antissemitismo e promova a paz e a justiça. Diante do fundamentalismo violento que às vezes se encontra no Islão, a Igreja insta a evitar generalizações superficiais, promovendo o conhecimento e encontro com muçulmanos. De qualquer forma, num contexto de pluralismo religioso, a catequese deve “aprofundar e fortalecer a identidade dos crentes”, ajudando-os a discernir e promover o seu impulso missionário por meio do testemunho, colaboração e diálogo “afável e cordial”.

 

O mundo digital: luzes e sombras

A reflexão do Diretório muda então para o tema digital: primeiro, a importância de garantir uma presença que ateste aos valores do Evangelho é reiterada. Portanto, os catequistas são instados a educar as pessoas sobre o bom uso do digital: em particular os jovens deverão ser acompanhados, pois o mundo virtual pode ter profundas repercussões na gestão das emoções e na construção da identidade. Hoje, a cultura digital – continua o documento – é percebida como “natural”, tanto que mudou a linguagem e as hierarquias de valores em escala global. Rico em aspetos positivos (por exemplo, enriquece habilidades cognitivas e promove informações independentes para proteger as pessoas mais vulneráveis), o mundo digital, ao mesmo tempo, também possui um “lado sombrio”: pode trazer solidão, manipulação, violência, cyberbullying, preconceito, ódio. Não apenas isso: a narrativa digital é emocional, intuitiva e envolvente, mas é desprovida de análises críticas, acabando por tornar os destinatários simples usuários, em vez de descodificadores de uma mensagem. Sem esquecer a atitude quase “fideísta” que se pode ter em relação, por exemplo, a um mecanismo de busca.

 

Contra a cultura do instante

Então, o que a catequese pode fazer nesse setor? Educar, antes de tudo, para contrastar a “cultura instantânea”, desprovida de hierarquias e perspetivas de valor, fraca na memória e incapaz de distinguir verdade e qualidade. Acima de tudo, os jovens serão acompanhados na busca de uma liberdade interior que os ajude a se diferenciar do “rebanho social”. “O desafio da evangelização envolve o da inculturação no continente digital”, afirma o Diretório, reiterando a importância de oferecer espaços de experiência de fé autêntica, capazes de fornecer chaves interpretativas para temas fortes, como corporalidade, afetividade, justiça e paz.

 

Ciência e fé: conflitos aparentes, testemunho de cientistas cristãos

O documento foca a ciência e a tecnologia. Reafirmando que devem orientar-se para a melhoria das condições de vida e o progresso da família humana, colocando-se assim ao serviço da pessoa, o Diretório recomenda uma catequese bem preparada e aprofundada que possa neutralizar uma disseminação científica e tecnológica muitas vezes imprecisa. Por isso, exorta-nos a eliminar preconceitos e ideologias e a esclarecer os aparentes conflitos entre ciência e fé, além de aprimorar o testemunho de cientistas cristãos, um exemplo de harmonia e síntese entre os dois. O cientista, de facto, busca a verdade com sinceridade, inclina-se à comunicação e ao diálogo, ama a honestidade intelectual e pode, portanto, incentivar a inculturação da fé na ciência.

 

Bioética: nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível

Uma reflexão separada, no entanto, deve ser feita para a bioética, partindo do pressuposto de que “nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível”. Portanto, será necessário distinguir entre intervenções terapêuticas e manipulações, e prestar atenção à eugenia e às discriminações que isso implica. Na denominação de “género”, recorde-se que a Igreja acompanha “sempre e em qualquer situação”, sem julgar, pessoas que vivem situações complexas e às vezes conflitantes. No entanto, “numa perspetiva de fé, a sexualidade não é apenas um dado físico, mas é uma realidade pessoal, um valor confiado à responsabilidade da pessoa”, “uma resposta ao chamado original de Deus”. No campo bioético, portanto, os catequistas precisarão de formação específica que parte do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana e contrasta a cultura da morte. Nesse sentido, o Diretório condena a pena de morte, definida como “uma medida desumana que humilha a dignidade da pessoa”.

 

Conversão ecológica, compromisso social e proteção ao emprego

Entre as outras questões abordadas no documento, destaca-se uma “profunda conversão ecológica” a ser promovida por meio de uma catequese atenta à proteção da Criação e inspirando uma vida virtuosa, longe do consumismo, porque “a ecologia integral é parte integrante da vida cristã”. ” Há também um forte incentivo a um compromisso social ativo dos católicos, para que eles ajam em favor do bem comum, contrastando as estruturas do pecado com a retidão moral e a abertura ao diálogo. Quanto ao mundo do trabalho, ele recomenda a evangelização de acordo com a Doutrina Social da Igreja, com especial atenção à defesa dos direitos dos mais fracos. Por fim, os dois últimos capítulos do Diretório concentram-se nos catecismos locais, com as indicações relativas à obtenção da aprovação da Sé Apostólica e nos órgãos a serviço da catequese, incluindo o Sínodo dos Bispos e as Conferências Episcopais.

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25 de Junho de 2020