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Óbito: “Foi à pastoral social que o Padre Manuel Vieira ofereceu o empenho maior do seu coração de pastor”

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Nota biográfica do Padre Manuel Vieira, pelo Padre José Lobato, Vigário Geral da Diocese de Setúbal

O Padre Manuel Vieira nasceu em Assentis, Torres Novas, no dia 5 de maio de 1922, tendo falecido com 98 anos.

Foi ordenado presbítero pelo Cardeal Manuel Cerejeira, na Sé de Lisboa, no dia 29 de junho de 1953.

Em 3 de setembro de 1956 foi nomeado Pároco de Castelo de Sesimbra.

Sete anos depois, em 1963, foi nomeado pároco de Anunciada, na cidade de Setúbal, missão que desempenhou até 4 de janeiro de 1998, permanecendo como administrador das Obras Sociais da paróquia até 16 de outubro de 2005, data a partir da qual assumiu o título de Pároco Emérito da Anunciada, dado por D. Gilberto Reis.

Foi nesta paróquia de Nossa Senhora da Anunciada que o Padre Manuel Vieira nos deixou um testemunho extraordinário de mais de 35 anos como pároco e mais alguns ainda como administrador do Centro Social Paroquial.

Não escondia a razão dada pelo Cardeal Cerejeira para o transferir do Castelo de Sesimbra para Setúbal: pedira-lhe que viesse apoiar o Movimento dos Cursilhos de Cristandade que começara a florescer na região de Setúbal, então porção do Patriarcado de Lisboa.

Para além do apoio dado a este Movimento, o Padre Manuel Vieira, sempre atento aos novos movimentos que iam surgindo na Igreja, chamou para a paróquia e a diocese o Movimento do Caminho Neo-Catecumenal e o dos Convívios Fraternos.

Foi, no entanto, à pastoral social que o Padre Manuel Vieira ofereceu o empenho maior do seu coração de pastor.

Ainda havia, em Setúbal, nos primeiros anos em que o Padre Manuel Vieira foi pároco da Anunciada, dois setores sociais de grande importância económica, social e, por isso mesmo, também pastoral.

Um era o dos trabalhadores marítimos, portugueses e estrangeiros, que, dada a maior demora que então se verificava, por razões técnicas, nos trabalhos de estiva no porto de Setúbal, passavam largos dias na cidade, desocupados e, de alguma forma, abandonados, sendo então convidados a frequentar o Clube Stella Maris que o Padre Manuel Vieira fundou e que funcionou primeiro na Rua dos Trabalhadores do Mar e, depois, nas instalações da paróquia da Anunciada. Ali podiam comer, dormir e conviver.

Outro setor era o das muitas fábricas de conserva de sardinha que ainda laboravam em Setúbal nesse tempo. Quando as sardinhas chegavam das pescas, e isso podia acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, soavam os sinais de cada fábrica e as respetivas operárias tinham de sair de casa para os trabalhos de preparação das sardinhas, levando muitas vezes com elas os seus bebés. O Padre Manuel Vieira começou por criar instalações para acolher essas crianças cujas mães tinham de ir para as fábricas. A partir dessas primeiras instalações, o Padre Manuel Vieira foi criando novas valências, até chegar ao grande Centro Social Paroquial na antiga Quinta Alves da Silva.

Quando começaram a chegar os “retornados” das antigas colónias portuguesas, estava a nova diocese de Setúbal a dar os primeiros passos, muitas famílias vindas de África foram alojadas no antigo convento de S. Francisco, sem água, nem luz nem condições minimamente dignas para seres humanos viverem. Aproximava-se o Natal. O Padre Manuel Vieira, com a ousadia que lhe era reconhecida, anunciou uma greve pessoal: não celebraria a liturgia do Natal se aqueles irmãos, partilhando o mesmo espaço da paróquia da Anunciada, não tivessem, ao menos, água e eletricidade. A ameaça produziu frutos. O Padre Manuel pôde celebrar, feliz, aquele Natal. E para ajudar à alegria deste Natal, o Padre Manuel testemunhava o gesto evangélico de uma paroquiana viúva. A recente revolução de abril tinha tornado possível que às pensões fosse atribuída fração do “13º mês” (assim se chamava então ao atual subsídio de Natal). Essa viúva, cujo nome o Padre Manuel sempre omitiu, entregou-lhe a totalidade do que, pela primeira vez, tinha recebido como “13º mês”, com o objetivo de ajudar as famílias alojadas no mencionado convento de São Francisco. O Padre Manuel tinha este dom: com a suas palavras e atitudes, incentivava a dar vida à Palavra de Deus.

Hoje, com todos e todas a quem anunciou e ensinou a pôr em prática o Evangelho – e são tantos e tantas – o Padre Manuel Vieira partilha a mesma alegria sem fim do Reino prometido àqueles que procuraram pôr em prática a Palavra de Deus, com as suas ousadias, os seus sonhos, as suas originalidades.

Óbito: Faleceu o Padre Manuel Vieira

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06 de Julho de 2020