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A Palavra do Papa: Lampedusa e o “inferno” por que passam os migrantes

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Esta quarta-feira, o Papa Francisco assinalou o 7º aniversário da sua histórica visita a Lampedusa, na Eucaristia a que presidiu na Casa Santa Marta.

O Sumo Pontífice ressaltou que conhecemos uma “versão destilada” do que acontece nos campos de detenção na Líbia e alertou novamente para a “globalização da indiferença”, “um pecado” dos cristãos de hoje, que nos torna insensíveis ao “encontro com o outro” que também é “um encontro com Cristo”.

Há 7 anos, o Papa visitou pela primeira vez Lampedusa, uma ilha entre a Tunísia e a Itália, que, aos olhos do mundo inteiro, virou um símbolo de angústia e sofrimento para os imigrantes que se viram obrigados a fugir dos seus países para lutar pela vida. E milhares têm o sonho interrompido diariamente, quando morrem junto com a esperança.

Encontro com migrantes e com Deus

Longe do Mediterrâneo, mas sempre próximo à história de cada um do migrantes que encontrou, o Papa Francisco celebrou missa na capela da Casa Santa Marta, junto aos colaboradores da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral – os únicos que puderam fazer parte da cerimónia, por causa das restrições da pandemia.

O Pontífice recordou aquela viagem feita em 2013 quando encontrou, no olhar de cada migrante, a face de Deus. A reflexão de Francisco na homilia partiu justamente dessa atitude que é “fundamental na vida de quem crê”, que é “garantia de sucesso da nossa viagem neste mundo”, “nosso destino” e “nossa estrela polar, que nos permite a não perder o nosso caminho.”

O alerta à globalização da indiferença

O Pontífice trouxe, então, para os nossos dias, o exemplo do povo “perdido” de Israel, descrito pelo profeta Oséias na primeira leitura do dia. Na época, os israelitas vagavam “no deserto da iniquidade”, devido à distância que tomaram do Senhor por causa da “prosperidade e riqueza abundante” que geraram um coração cheio de “falsidade e injustiça”. “É um pecado do qual até nós, cristãos de hoje, não somos imunes”, alertou Francisco, ao relembrar e reforçar o que disse em 2013 sobre a “globalização da indiferença” criada pela atual cultura do bem-estar, “que nos leva a pensar em nós mesmos” e acaba nos tornando “insensíveis aos gritos dos outros”.

Por ocasião do aniversário de 7 anos da visita do Pontífice a Lampedusa, a Palavra de Deus reforça a importância do “encontro com o outro” que também é “um encontro com Cristo”. Acolher – ou não – quem bate à nossa porta, seja ele um estranho ou um doente que precisa “ser encontrado e ajudado”, é acolher – ou não – Jesus, “no bem e no mal”.

A versão destilada da viagem da esperança

O Papa contou uma memória pessoal da sua viagem à ilha italiana, onde muitas apresentaram “as suas histórias, quanto tinham sofrido para ali chegar”.

Francisco sublinhou que tinha estranhado a diferença entre a duração dos testemunhos e a sua tradução, pelo intérprete.

“Quando voltei a casa, à tarde, na receção, havia uma senhora – paz à sua alma – que era filha de etíopes e percebia a língua. Tinha visto na TV o encontro e disse-me: ‘ouça, o que o tradutor lhe disse não é nem a quarta parte das torturas, dos sofrimentos que eles viveram’. Deram-me a versão destilada. Isso acontece hoje com a Líbia”, referiu.

A viagem do Papa à ilha italiana de Lampedusa, situada a menos de 115 quilómetros da costa da Tunísia, evocou o drama dos milhares de migrantes que tentam entrar na Europa e acabam por perder a sua vida no mar Mediterrâneo.

JM com Agência Ecclesia e Vatican News

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09 de Julho de 2020