comprehensive-camels

Liturgia de Terça-feira da XV Semana do Tempo Comum – “No dia do juízo haverá mais tolerância para Tiro e Sidónia do que para vós.” (Mt 11, 20-24)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Terça-feira da XV Semana do Tempo Comum

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Geraldo Kalemesa, Pároco da Marateca

Deus é o autor do Universo e fonte da vida em toda a Criação. A bondade da Criação reflecte-se na harmonia, na paz e no amor que reina entre o Criador e as suas Criaturas, bem como nas Criaturas entre si (Génesis 1-2).

Mas este amor foi transmitido por Jesus Cristo que, para além da Graça que nos vem do Madeiro da Cruz, fez Ele, incansavelmente, um périplo para atingir as regiões circundantes e levar os homens ao Reino de Deus e ao caminho da salvação e da vida eterna (S. Pio X). 

Jesus Cristo, com a sua palavra e acção, foi revelando a vontade do Pai, que é instaurar o Reino. Contudo, nem todos foram capazes de perceber a presença do Reino e a sua justiça em Jesus (Mateus 11, 25-30).

No Evangelho de hoje, Jesus faz um balanço da sua missão na Galileia, sobretudo às cidades de sua preferência. O balanço sai negativo. A maioria não correspondeu à sua mensagem, as expectativas foram abaladas e a conversão esperada não aconteceu. Jesus exprime o seu descontentamento utilizando a palavra Ai. Segundo os entendidos nesta matéria, é uma exclamação onomatopaica que exprime dor ou raiva.

Na LXX versão grega do Antigo Testamento, Ouai (ai) ocorre 69 vezes, usualmente representando o hebraico hôy, do qual deriva a palavra “uivar”. Como os demais termos hebraicos, empregam-se para expressar aflição (Provérbios 23, 29), desespero (1 Samuel 4, 7) lamentação (1 Reis 13, 30), insatisfação (Isaías 1, 4), dor (Jeremias 10, 19), ameaça (Ezequiel 16, 23) ou apenas para atrair atenção (Isaías 55, 1).

Já houve sete Ais pronunciados sobre os escribas e fariseus em Mateus 23, 13s, quando os seus ensinos, bem como sua exposição das escrituras, estavam a obscurecer as questões reais da crença e da conduta. Estes Ais estão carregados de sentimentos de compaixão e de tristeza. Outros Ais encontram-se ainda em (Lc 11, 42-52) para exprimir denuncias.

Jesus pronuncia os “Ai de ti…” como recriminação que recai sobre as três cidades: Corazim, Betsaída e Cafarnaum porque se tornaram exemplos de auto-suficiência e orgulho por não reconhecerem a presença do Reino nas acções realizadas por Jesus. Por isso anuncia o julgamento mais severo que os das cidades pagãs que tinham como símbolos da perdição. Grandes desafios…

Na verdade, muito desses desafios acontecem na vida actual: o homem não consegue acolher os carinhos do Senhor… não agradece a vida, a saúde, a família, a riqueza, a inteligência e tantas outras oportunidades geradoras de felicidade que reclamam a Mão de Deus. O homem tornou-se autêntico auto-suficiente e orgulhoso, fruto do consumismo e do materialismo. 

“Se o senhor não edificar a casa em vão trabalham os que a constroem. Se o senhor não guardar a cidade em vão vigiam as Sentinelas” (Sl 127, 1)

Quantos Ais de Jesus podem recair sobre cada um de nós? Que não conseguimos fazer dos nossos corações um terreno fértil, onde o verbo divino penetre e transforme a vida. Muitas das vezes perdemos tempo em apontarmos os defeitos dos outros, (como aconteceu com os habitantes de Cafarnaum, cidade preferida de Jesus), quando nos tornamos totalmente orgulhosos e auto-suficientes. O actual cenário é um tempo desafiante para todos os Cristãos. Haja fé. Se não tiverdes fé não podereis sobreviver (Is 7, 9)

“Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, Não fecheis os vossos corações” Sl 94 (95), 8ab

Como muitos disseram, estes problemas têm solução quando são encarados à luz da fé. Tendes cuidado, mas não temais, não desanimes… (Is 7, 4) O Próprio Senhor  proclama uma oportunidade, mostra o caminho. O caminho é abrir o coração para Deus e optar pela conversão. Sem a conversão da pessoa é impossível crescer como pessoas e como cristãos. Para Jesus Cristo o sinal de Crescimento passa pela conversão aos valores do Reino.

Na liturgia de hoje temos exemplos claros: São Camilo de Léllis é um milagre da graça de Deus. Este Santo da caridade, que prestou tão grandes serviços nos hospitais e casas particulares com a assistência corporal e espiritual aos enfermos, não nasceu santo nem viveu como tal por muito tempo. Simplesmente abriu o seu coração para Deus e por fim, a graça transformou- o num prodígio de caridade e sacrifício, e depois vem a ser nomeado por Leão XIII padroeiro especial de todos os moribundos. De facto também a fé em Deus – opera pela caridade (Gal. 5,6). Nasceu em Bucchianico – Itália em 1550 e morreu em  Roma 1614.

Com São Francisco Solano, o seu zelo era alimentado de oração, de humildade, de pobreza sincera e de União a Deus. Nasceu em Espanha, em Montilia, na diocese de Córdova em 1549 e morreu em Lima 1610. Beatificado por Clemente X em 1675 e Canonizado por Bento XIII em 1726.

Aprendamos todos nós que o fim de toda história humana se encontra no seu Senhor e Mestre Jesus Cristo (Catecismo da Igreja Católica nº 74).

E a implementação do reino de Deus, atingirá a sua plenitude no fim do mundo. Nesse reino eterno, o mal não existirá, os que perseverarem viverão. Os Homens ressuscitados para o Juízo final e que alcançaram a salvação passarão a viver eternamente em Deus, com Deus e junto de Deus. Porque desde a Origem Deus convidou – os a uma comunhão íntima consigo, e revestindo – os de graça e justiça resplandecentes (catecismo da Igreja católica nº 54).

Com fé e humildade acolhamo – nos na Misericórdia do Pai.

Padre Geraldo Kalemesa

Partilhe nas redes sociais!
14 de Julho de 2020