A espiritualidade arrábida é, desde tempos imemoriais, um dos registos mais simbólicos da serra, com particular destaque para a Lenda de Nossa Senhora da Arrábida. A narrativa de carácter religioso, muito ligada à serra e ao convento, está a concurso na iniciativa “7 Maravilhas da Cultura Popular”, na categoria “Lendas e Mitos”.
Conta-se que, por volta de 1215, um abastado mercador inglês chamado Hildebrant deixara o seu país, rumo a Lisboa, em busca de novas riquezas. Ao largo da costa portuguesa, durante a noite, uma tempestade imprevista atirou-o para além do Cabo Espichel e, em frente da praia de Alportuche, viu o seu barco e tripulação perdidos na tempestade violenta.
Trazia a bordo, numa câmara especial, uma imagem de pedra de Nossa Senhora, de quem era muito devoto, uma herança de família de grande estima pessoal. Hildebrant correu ao seu camarote para rezar à imagem que trazia mas não a encontra.
Não esmorecendo, toda a tripulação rezou pedindo a Nossa Senhora que os protegesse. Conta a lenda que surgiu um clarão que iluminou a noite e a tempestade amainou. Guiados pela luz, navegaram até à costa da Arrábida em segurança.
Os marinheiros desembarcaram e foram procurar o sítio de onde, na serra, brilhara a luz salvadora, tendo encontrado a imagem que na véspera desaparecera do navio. Agradeceram a intervenção divina e consideraram que, ao aparecer naquele local a imagem, Nossa Senhora tinha o escolhido e ali queria ser venerada. Hildebrant resolveu construir uma ermida e uma casa que lhe servisse de habitação e prometeu dedicar os seus dias a amar e servir Nossa Senhora, tornando-se o primeiro monge eremita.

Nossa Senhora da Arrábida | Século XVI | Cerâmica | Igreja Paroquial de São Lourenço de Azeitão, Diocese de Setúbal | Fonte: Bens Culturais da Igreja
A Ermida da Memória, assim ficou designada, torna-se local de romagem e culto. Com a sua degradação natural e já no reinado de D. João III (1542) é fundado o Convento Velho. Graças à intervenção do Duque de Aveiro, D. João de Lencastre, ali se instala Frei Martinho de Santa Maria e é ordenado um Convento Franciscano, com autorização do Bispo de Lisboa. Lá vivem em celas escavadas na rocha e condições bastante austeras, os 4 primeiros frades arrábidos: Frei Martinho, Diogo de Lisboa, Francisco Pedraita e São Pedro de Alcântara.
A família do 1º Duque de Aveiro foi sucessivamente sendo patrocinadora desta obra. A lenda de Hildebrant foi o ponto de partida para o culto de Nossa Senhora da Arrábida e não foi esquecida neste Novo Convento – por cima do altar-mor encontramos uma pintura alusiva à mesma (terá sido pintada por José do Avelar Rebelo por volta de 1650). A lenda e o culto de Nossa Senhora da Arrábida deram origem ao Círio – na Caixa de Círio presente no Convento pode ler-se que o mesmo se terá iniciado em 1558.
A Lenda está a concurso na iniciativa “7 Maravilhas da Cultura Popular”, sendo um dos 7 finalistas regionais. A eliminatória regional decorre a 10 de agosto, com transmissão em direto na RTP 1, a partir do Montijo.
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Foto de capa: Setúbal Mais