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Reflexão: A paróquia numa ‘cultura do encontro’

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Reflexão do Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita 

Este artigo é a continuação da reflexão sobre a nova Instrução da Congregação para o Clero “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missa evangelizadora da Igreja.”

«A “cultura do encontro” é o contexto que promove o diálogo, a solidariedade e a abertura a todos, fazendo emergir a centralidade da pessoa. É necessário, portanto, que a paróquia seja um “lugar” que favorece o estar juntos e o crescimento das relações pessoais duradouras, que consintam a cada um de perceber o sentido de pertença e de ser bem quisto».

Este excerto da Instrução da Congregação do Clero ‘A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja’ (n.º 25) serve-nos de paleta ao comentário deste tema da paróquia que encetamos aprofundar.

Esta Instrução foi tornada pública no final do passado mês de junho e podemos ajudar a consciencializar alguns aspetos sobre a paróquia e as suas implicações na vida futura da Igreja católica.

Respigamos algumas ideias do capítulo quarto da Instrução (n. os 16 a 26) e iremos fazendo os ‘nossos’ questionamentos.

– ‘É verdade que uma característica da paróquia é o seu radicar-se ali onde cada um vive quotidianamente. Porém, especialmente hoje, o território não é mais apenas um espaço geográfico delimitado, mas o contexto onde cada um exprime a própria vida feita de relações, de serviço recíproco e de tradições antigas. É neste “território existencial” que se encontra todo o desafio da Igreja em meio da comunidade’ (n.º 16). O que é que conta, onde se reside ou onde cada um celebra a sua fé? Não será que o plano canónico amordaça o âmbito do pensamento e da ação normal em vida?

– ‘A mera repetição de atividade sem incidência na vida das pessoas concretas, permanece uma tentativa estéril de sobrevivência, diversas vezes acolhida pela indiferença geral’ (n.º 17). A rotina revela que algo pode estar morto ou talvez moribundo. Algumas rotinas das nossas paróquias – onde se podem incluir certas devoções – manifestam que já vivemos do trabalho de outros e pouco da vitalidade do lançar, hoje, a semente…para que outros venham a colher.

– ‘O renovamento da evangelização exige novas atenções e propostas pastorais diversificadas, para que a Palavra de Deus e a vida sacramental possam alcançar a todos, coerente com o estado de vida de cada um’ (n.º 18). Dá a impressão que, na maior parte dos casos nas paróquias, nos focamos em pouco para não conseguirmos atingir o mínimo em vez de ansiarmos o máximo podendo alcançar menos do que o suficiente. Dá a impressão que somos pouco (ou quase nada) audazes!

– ‘A comunidade paroquial é chamada a ser sinal vivo da proximidade de Cristo através de uma rede de relações fraternas, projetadas pelas novas formas de pobreza’ (n.º 19). Teremos minimamente presente que pelo acolhimento anunciamos Jesus? Quem nos procura encontra-O em nós e encontramo-nos n’Ele?

– Aspetos que devem manifestar a dimensão missionária da paróquia: ‘anúncio da Palavra de Deus deve tocar, a vida sacramental e o testemunho da caridade’ (n.º 20); levando a que ‘paróquia eduque à leitura e à meditação da Palavra de Deus através de propostas diversificadas de anúncio, assumindo formas comunicativas claras e compreensíveis, que apresentem o Senhor Jesus segundo o testemunho sempre novo do kerigma’ (n.º 21). Com tanta pressa com que andamos nas tarefas paroquiais, será que conseguimos atingir estes objetivos preconizados pelo documento do Vaticano? Para além da instalação sonora nas igrejas que mudou desde os tempos medievais? E os novos meios não se podem reduzir a questões tecnológicas…

– ‘Celebrando a Eucaristia, a comunidade cristã acolhe a presença viva do Senhor Crucificado e Ressuscitado, recebendo o anúncio de todo o seu mistério de salvação’ (n.º 22). Já percebemos que temos de estar em dinâmica catecumenal (n.º 23), sem conotação com qualquer movimento em sentido estrito? Aceitamos ser catequizados em todas as idades da vida?

– ‘A evangelização está estreitamente ligada à qualidade das relações humanas’ (n.º 24), pois ‘a comunidade paroquial é chamada a desenvolver uma verdadeira e própria ‘arte da proximidade’ (n.º 26). Estaremos disponíveis para vivermos deste modo nas nossas paróquias? Não seremos demasiado anónimos uns para os outros?

Deixamos esta sugestão de leitura e de interpretação…

Padre António Sílvio Couto

 

Este artigo é a continuação da reflexão sobre a nova Instrução da Congregação para o Clero “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missa evangelizadora da Igreja.”

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20 de Agosto de 2020