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Reflexão: “Paróquia em renovação e reestruturação”

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Reflexão do Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita 

Este artigo é a continuação da reflexão sobre a nova Instrução da Congregação para o Clero “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missa evangelizadora da Igreja”, publicada em junho deste ano.

«Neste processo de renovação e de reestruturação, a paróquia deve evitar o risco de cair na excessiva e burocrática organização de eventos e numa oferta de serviços, que não exprimem a dinâmica da evangelização, mas o critério de autopreservação».

Este excerto da Instrução da Congregação do Clero: “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja” (n.º 34), coloca-nos perante o desafio da conversão das pessoas à conversão das estruturas.

Tornada pública no final do passado mês de junho, esta Instrução do Vaticano procura ajudar-nos a consciencializar alguns aspetos sobre a paróquia e as suas implicações na vida atual e futura da Igreja católica.

Respigamos algumas ideias do ponto sexto da Instrução (n. os 34 a 41), fazendo os “nossos” questionamentos, observações e propostas.

– “A conversão das estruturas, que a paróquia deve propor-se, exige ‘muito antes’ uma mudança de mentalidade e uma renovação interior, sobretudo, de quantos são chamados à responsabilidade como guia pastoral. Os pastores e em modo particular os párocos, «principais colaboradores do Bispo», para serem fiéis ao que Cristo ordenou, devem advertir com urgência a necessidade de uma reforma missionária na pastoral” (n.º 35). Embora o longo ponto oitavo – com oito outros subtemas – aborde as “Formas ordinárias e extraordinárias de confiar o cuidado pastoral da comunidade paroquial” (n. os 62-65), aqui se faz um enunciado daquilo que se pretende que seja a ação dos párocos e seus colaboradores numa paróquia em “reforma missionária na pastoral”. Talvez a ousadia aqui apresentada se esbarre em questiúnculas de poderes subtis em tantas das nossas paróquias.

– “Os processos de reestruturação das comunidades paroquiais e, às vezes, diocesanas sejam conduzidas a realizá-las com flexibilidade e de modo gradual” (n.º 36). Este conselho à prudência tenta fazer com que não haja rutura tanto na memória (familiar e comunitária) como no respeito pelas gerações passadas e os eventos que “marcaram os itinerários pessoais e familiares”. Não se pode fazer tudo como se não tivesse havido antes… Mas da prudência ao imobilismo vai pouco mais do que estar parado!

– Tenta-se depois esclarecer quem são os principais intervenientes neste processo de renovação – “tal renovação, naturalmente, não diz respeito unicamente ao pároco, nem pode ser imposição vinda do alto, excluindo o Povo de Deus” (n.º 37).  Isto implica que todos – hierarquia, leigos e religiosos – queiram estar envolvidos num processo de “conversão que diz respeito a todos os integrantes do Povo de Deus”. Ninguém está excluído nem pode nem quer dar lições aos outros do seu pedestal.

– “É evidente quanto seja oportuno a superação tanto duma concessão autorreferencial da paróquia, quanto duma “clericalização da pastoral”O sujeito responsável da missão é toda a comunidade” (n.º 38). Pela fidelidade ao Espírito Santo e o exercício dos carismas recebidos acontecerá a evangelização, “no estilo e nas modalidades de uma comunhão orgânica”. Viveremos eclesialmente assim?

– “Será compromisso dos pastores manter viva tal dinâmica, para que cada batizado se perceba protagonista ativo da evangelizaçãoA comunidade paroquial na sua totalidade é habilitada a propor formas de ministério, de anúncio da fé e de testemunho da caridade” (n.º 39). Numa paróquia dinamizada pela ação de Deus se perceberá que todos têm responsabilidade de “crescer e de amadurecer” em cada etapa da sua vida em paróquia. O resto diferente disto poderá assemelhar-se a algo interesseiro…

– Daí decorre a gratuidade, expressa por excelência na Eucaristia, onde “cada membro da comunidade se sinta responsável e diretamente envolvido a socorrer as necessidades da Igreja” (n.º 40). Sentiremos e viveremos todos nesta dinâmica?

– “A missão que a paróquia é chamada a cumprir, enquanto centro propulsor da evangelização, diz respeito então a todo o Povo de Deus nos seus diversos componentes” (n.º 41).  Não será que vemos muitos “desempregados” de larga duração e desresponsabilizados nos meandros das nossas paróquias?

As paróquias têm futuro, mas com o compromisso de todos, sem exceção!

Padre António Sílvio Couto, Pároco de Moita

Foto: Paróquia de Amora, Seixal

 

Este artigo é a continuação da reflexão sobre a nova Instrução da Congregação para o Clero “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missa evangelizadora da Igreja.”

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31 de Agosto de 2020