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A Palavra do Papa: a fraternidade, a subsidiariedade, o trabalho na vinha e o brilho do Sol

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Aos trabalhadores da vinha do Senhor, o Papa Francisco apela à “fraternidade real” e à responsabilidade de cada um na regeneração da sociedade. Aos Estados, pede que capacite os mais humildes e que, no contexto da pandemia, se globalizem opções de tratamento.

“Chamados a trabalhar na vinha”

Aos fiéis reunidos na Praça São Pedro no passado domingo, Francisco exortou a sentir todos os dias “a alegria e o estupor de ser chamados por Deus a trabalhar para Ele no seu campo, que é o mundo; na sua vinha, que é a Igreja. E ter como única recompensa o seu amor, a amizade de Jesus”.

O Papa comentava o Evangelho antes de rezar a oração mariana do Angelus. A passagem narra a parábola dos operários chamados pelo patrão para uma jornada de trabalho na vinha. Por meio desta narração, explicou o Pontífice, Jesus mostra-nos o surpreendente modo de agir de Deus, representado por duas atitudes do patrão: o chamado e a recompensa.

Francisco reconhece Deus neste patrão, que está “sempre em saída”, “em busca das pessoas” para que “ninguém fique excluído do seu desenho de amor”. É um exemplo para as comunidades eclesiais que saem em busca de quem “estaciona nas periferias existenciais e ainda não experimentou, ou perdeu, a força e a luz do encontro com Cristo.”

O Papa apela à Igreja que seja sempre em saída. “É melhor uma Igreja acidentada por sair, anunciar o Evangelho, do que uma Igreja doente de fechamento. Deus sempre sai, porque é Pai, porque ama.”

Sobre a recompensa de Deus, o Sumo Pontífice afirma que o seu agir se manifesta na Graça. “Tudo é Graça. A nossa salvação é Graça. A nossa santidade é Graça. Doando-nos a Graça, Ele nos oferece mais do que nós merecemos.”

A globalização das oportunidades terapêuticas

Ao receber, no passado sábado, uma delegação da Fundação Banco Farmacêutico pelo seu 20º aniversário, o Papa Francisco não deixou de analisar a atual emergência social provocada pela pandemia: “Repito que seria triste se, ao fornecer a vacina, se desse prioridade aos mais ricos, ou se esta vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação e se não fosse para todos”.

O Pontífice denunciou uma “marginalidade farmacêutica”, isto é, pessoas que carecem de medicamentos devido à pobreza.

“Isso cria um ulterior abismo entre as nações e os povos. No plano ético, existe a possibilidade de curar uma doença com um medicamento, isto deveria estar disponível a todos. De contrário, cria-se injustiça”, afirmou o Pontífice.

“Conhecemos o perigo da globalização da indiferença; eu proponho-lhes, ao invés, a globalização do tratamento, a possibilidade de acesso àqueles medicamentos que poderiam salvar tantas vidas para todas as populações. Isso requer um esforço comum, uma convergência que envolva a todos.”

O caminho da fraternidade

A fraternidade foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para assinalar o Dia Internacional da Paz, celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a 21 de setembro.

No Twitter, o Santo Padre apelou à procura de uma “fraternidade real, baseada na origem comum de Deus”. “O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada que seja menos que isso”, acrescenta.

A fraternidade será o tema da encíclica que o Pontífice assinará no próximo dia 3 de outubro junto ao túmulo de São Francisco de Assis, cujo título é “Fratelli Tutti”.

“Cada um de nós é belo aos olhos de Deus”

O Sumo Pontífice recebeu na passada segunda-feira uma delegação do Centro austríaco para o Autismo “Sonnenschein”, que na tradução literal significa “Brilho do Sol”. Ao se dirigir ao grupo, Francisco encorajou as entidades no mundo inteiro empenhadas em cuidar de crianças autistas, que têm “uma beleza única aos olhos de Deus”: “tudo o que vocês fizeram a um só destes pequenos, fizeram a Jesus!”.

“Deus criou o mundo com uma grande variedade de flores, de todas as cores. Cada flor tem sua beleza, que é única. Cada um de nós também é belo aos olhos de Deus, e Ele ama-nos. Isso faz-nos sentir a necessidade de dizer a Deus: obrigado!”

Dizer “obrigado” a Deus, motivou o Papa às crianças, é uma bonita oração, porque Ele gosta desta forma de rezar. O Pontífice, então, também sugeriu fazerem uma pequena pergunta a Deus:

“Por exemplo: Bom Jesus, poderia ajudar a mãe e o pai no trabalho deles? Poderia dar um pouco de conforto à avó que está doente? Poderia dar às crianças de todo o mundo que não têm o que comer? Ou ainda: Jesus, por favor, ajuda o Papa a conduzir bem a Igreja. Se vocês pedirem com fé, o Senhor certamente vai ouvir-vos.”

O princípio da subsidiariedade

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa disse que “para sairmos melhores de uma crise como a atual, que é uma crise de saúde e ao mesmo tempo social, política e económica, cada um de nós é chamado a assumir a sua parte de responsabilidade”.

O Papa Francisco prosseguiu com o ciclo de catequeses sobre a pandemia de coronavírus, esta semana com o tema “Curar o mundo. Subsidiariedade e virtude da esperança”.

No Pátio São Dâmaso, dentro do Vaticano, o Pontífice ressaltou que para todos podermos “participar no cuidado e na regeneração dos nossos povos, é justo que todos tenham os recursos adequados para fazê-lo”, explicando a importância do princípio de subsidiariedade para uma verdadeira reconstrução.

“Cada um deve ter a oportunidade de assumir a própria responsabilidade nos processos de cura da sociedade da qual faz parte” defende o Papa, reforçando que não se pode colocar de lado a sabedoria dos grupos mais humildes, pelo que é necessária uma colaboração transversal para uma revitalização social.

O Santo Padre denuncia que a “falta de respeito pelo princípio da subsidiariedade propagou-se como um vírus” movida por interesses económicos e geopolíticos.

“Para sairmos melhores de uma crise, o princípio da subsidiariedade deve ser implementado, respeitando a autonomia e a capacidade de iniciativa de todos, especialmente dos últimos” afirma Francisco, apelando à responsabilidade dos estados.

Nas saudações finais em várias línguas, Francisco voltou a falar sobre a importância de tutelar a vida, desde a conceção até seu fim natural, apelando à consciência dos legisladores.

A Audiência Geral realizou-se um dia após a apresentação da Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, Samaritanus bonus, documento que oferece uma abordagem integral à pessoa humana, ao sofrimento e à doença, ao cuidado de quem se encontra nas fases críticas e terminais da vida.

JM (com recursos da Vatican News)

Foto: Vatican News

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25 de Setembro de 2020