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A Palavra do Papa: a autoridade no serviço, o protagonismo feminino, a inovação pelo bem comum e a oração agridoce

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Numa semana marcada pela publicação da sua nova Encíclica “Fratelli Tutti”, o Papa fundamentou autoridade como “serviço”. Elogiou as mulheres na iniciativa ativa que têm na Igreja, incentivou os cientistas ao trabalho em prol do bem comum e explicou aos financeiros que o lucro deve ter como objetivo o desenvolvimento humano. Na audiência geral, retomou o tema da oração tendo o profeta Elias como referência.

Ângelus: a verdadeira autoridade é servir

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Ângelus no passado domingo, 4 de outubro, memória de São Francisco de Assis, com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro.

No Evangelho deste dia, prevendo a sua paixão e morte, “Jesus conta a parábola dos vinhateiros homicidas, para admoestar os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo que estão prestes a tomar o caminho errado. Estes, de fato, têm más intenções em relação a ele e procuram formas de eliminá-lo”.

O Papa esclarece que “a imagem da vinha representa o povo que o Senhor escolheu e formou com tanto cuidado e amor; os servos enviados pelo patrão são os profetas, enviados por Deus, enquanto o filho é a figura de Jesus. E tal como os profetas foram rejeitados, assim também Cristo foi rejeitado e morto”.

“Com esta parábola muito dura, Jesus coloca os seus interlocutores diante das suas responsabilidades, fá-lo com extrema clareza. Mas não pensemos que esta admoestação vale apenas para aqueles que rejeitaram Jesus naquele momento. Vale para todos os tempos, também para o nosso. Ainda hoje Deus espera os frutos da sua vinha daqueles que enviou para trabalhar nela. Todos nós.”

Segundo o Pontífice, “em cada época, aqueles que têm autoridade, qualquer autoridade, mesmo na Igreja, no povo de Deus, podem ser tentados a fazer o seu interesse em vez do interesse de Deus. E Jesus diz que a verdadeira autoridade é quando se faz o serviço, é servir, e não explorar os outros. A vinha é do Senhor, não nossa. A autoridade é um serviço, e como tal deve ser exercida, para o bem de todos e para a difusão do Evangelho”.

Mulheres “portadoras de paz e de renovação” e “protagonistas de uma Igreja em saída”

O Papa Francisco enviou esta quinta-feira uma mensagem para Conselho Feminino do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano que promove o seminário “As mulheres leem o Papa Francisco: leitura, reflexão e música”.

O Santo Padre elogiou a ação do dicastério que criou um espaço para ouvir e valorizar a presença das mulheres e, com elas, refletir as grandes questões culturais, sociais e religiosas do mundo.

O Papa parabenizou a realização do seminário que pretende “criar um diálogo entre intelecto e espiritualidade, entre unidade e diversidade, entre música e liturgia, com um objetivo fundamental, ou seja, a amizade e a confiança universal”.

“O vosso percurso de leitura será capaz de oferecer uma visão peculiar sobre o tema do confronto social e cultural como contribuição para a paz, pois as mulheres têm o dom de trazer uma sabedoria que sabe melhorar as feridas, perdoar, reinventar e renovar.”

“As mulheres são protagonistas de uma Igreja em saída, através da escuta e do cuidado que manifestam com as necessidades dos outros e, com uma marcada capacidade de sustentar dinâmicas de justiça”, conclui o Santo Padre.

Inovações científicas e inclusão social

O Papa Francisco enviou uma mensagem à Pontifícia Academia das Ciências por ocasião do plenário virtual que se realizou de 7 a 9 de outubro. O Pontífice iniciou a sua mensagem agradecendo o tema do plenário deste ano que “se compromete em colocar a pesquisa científica de base ao serviço da saúde do nosso planeta e dos seus habitantes, especialmente os mais pobres e desfavorecidos”.

Recorda que é um tema de profunda importância para toda a humanidade “com a concentração da noção de ciência ao serviço das pessoas para a sobrevivência da humanidade na pandemia da Covid-19 e noutras questões globais”.

O Sumo Pontífice refere que seria benéfico o aumento das inovações científicas e tecnológicas em correspondência com uma maior equidade e inclusão social.

Por fim, salienta a responsabilidade ética dos cientistas nas ações em prol do bem comum, especialmente no combate à ameaça nuclear e ao desenvolvimento de armas biológicas, “com o seu potencial de devastar”.

Lucro vs desenvolvimento humano

O Papa Francisco recebeu esta segunda-feira os diretores e funcionários da Caixa de Depósitos e Empréstimos, instituição financeira italiana, por ocasião de seus cento e setenta anos de fundação.

Na audiência, o Santo Padre referiu a problemática do lucro, ao qual o pensamento cristão não se opõe, desde que não seja a qualquer custo, esquecendo o ser humano e tornando-o escravo.

“Na gestão de negócios é necessário saber distinguir o bem do mal. De fato, mesmo no campo da economia e das finanças, a intenção correta, a transparência e a busca de bons resultados são compatíveis e não devem ser separadas”, acrescenta.

O Papa concluiu, dizendo que uma instituição como a Caixa de Depósitos e Empréstimos “pode testemunhar concretamente uma sensibilidade solidária, favorecendo o relançamento da economia real como força motriz do desenvolvimento das pessoas, das famílias e de toda a sociedade”.

Oração é água que alimenta a existência

“A oração de Elias” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI, por causa da chuva.

O Pontífice retomou as catequeses sobre o tema da oração, interrompidas para dar espaço ao ciclo de catequeses dedicadas à pandemia de coronavírus.

“Conheçamos uma das personagens mais fascinantes de toda a Sagrada Escritura: o profeta Elias”, disse o Papa, frisando que este é apresentado como “um homem de fé cristalina”, “integérrimo, incapaz de compromissos mesquinhos”.

“Será o primeiro a ser posto à prova e permanecerá fiel. Ele é o exemplo de todas as pessoas de fé que passam por tentações e sofrimentos, mas não deixam de viver à altura do ideal para o qual nasceram”.

“A oração é a linfa que alimenta constantemente a sua existência” explica o Papa, mesmo em “momentos de oração que nos puxam para cima, nos enche de entusiasmo, e momentos de oração de dor, aridez e provações. A oração é assim: deixar-se conduzir por Deus e deixar-se também golpear, pelas situações ruins e até mesmo pelas tentações.”

“A oração não é um fechar-se com o Senhor para maquilhar a alma. A oração é um confronto com Deus e um deixar-se enviar para servir aos irmãos”, disse o Pontífice.

“Todos nós podemos tocar uma orla do manto de Elias. E mesmo que tivéssemos feito algo de errado, ou se nos sentíssemos ameaçados e apavorados, regressando a Deus com a oração, voltarão também como que por milagre a serenidade e a paz. Isto é o que nos ensina o exemplo de Elias”, concluiu o Papa.

Dirigindo-se aos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, Francisco evocou as aparições de Fátima para pedir aos católicos que rezem o Rosário, nestes tempos de pandemia, e que a sua vida seja “serviço de amor” ao próximo, especialmente os mais desprotegidos.

“Nossa Senhora, nas suas aparições, exortou muitas vezes à recitação do Rosário, especialmente perante as ameaças que pairavam sobre o mundo. Também hoje, neste momento de pandemia, é necessário ter o Rosário nas mãos, rezando por nós, pelos nossos entes queridos e por todas as pessoas”, disse Francisco, nas saudações aos peregrinos.

“Convido-vos a tomar o rosário nas mãos todos os dias e erguer o vosso olhar para Nossa Senhora, sinal de consolação e esperança segura. Que a Virgem Santa ilumine e proteja toda a peregrinação da vossa vida até à Casa do Pai”, disse.

Encíclica “Fratelli tutti”

No meio de tantas palavras, o silêncio. Na tarde do passado sábado, em Assis, Francisco celebrou a missa mas não fez Homilia. A oração, o silêncio e a simplicidade marcaram esta visita que, por vontade do Papa devido à situação de saúde, se realizou sem nenhuma participação dos fiéis.

Na cripta da Basílica inferior, o Papa Francisco celebrou e no final, no túmulo de São Francisco de Assis, assinou a sua terceira Encíclica, “Fratelli tutti”, dedicada à fraternidade e à amizade social, valores imprescindíveis para restaurar a esperança e o impulso de uma humanidade ferida, caminhos indicados pelo Pontífice para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico, com o compromisso de todos.

Pouco antes da assinatura, o Papa agradeceu à Primeira Seção da Secretaria de Estado que trabalhou na redação e tradução da Encíclica.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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09 de Outubro de 2020