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Convento de Jesus: espaço recupera “vocação transcendental” ao mesmo tempo que é centro da humanidade e da cultura em Setúbal

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Monumento nacional reabriu no passado fim de semana, depois das intervenções realizadas pela autarquia. D. José Ornelas celebrou no edifício conventual, que agora se quer como “casa do Pai do Céu”, no âmbito do protocolo de utilização da igreja, confiada à Diocese de Setúbal.

Foi com “satisfação e gratidão” que as portas do Convento de Jesus foram novamente abertas à comunidade para usufruto cultural e espiritual, depois de 20 anos de “clausura” devido à degradação e aos demorados processos de requalificação.

Nas palavras do Bispo de Setúbal, “a reabertura desta belíssima Igreja de Jesus representa um momento feliz de restituir à cidade uma joia da sua arquitetura e da sua história, com grande significado no país e na cultura da humanidade” ao mesmo tempo que permite “revisitar e atualizar a vocação original deste edifício e do seu caráter histórico – da alma – desta cidade e região.”

 

Na homilia, D. José Ornelas refletiu sobre o lugar das igrejas como “centros de relação e sentido” entre os diferentes tempos – passado, presente e futuro – e como espaços que se “abrem ao mundo, à humanidade, à transcendência e a Deus”.

Agradecendo à Câmara Municipal de Setúbal e a todas “as pessoas e entidades que tornaram possível esta obra”, o prelado considera pertinente o convento ser um local de museu “que faz memória do passado, da sua cultura e da sua antiga vida.”

Contudo, defende que a igreja do edifício conventual não pode ser apenas parte do museu, uma “pura representação do passado”, apesar de constituir uma “preciosa joia da nossa arquitetura” e um símbolo da identidade cultural local.

“Sempre foi, e é vocação dele que continue a ser, espaço em busca de sentido em cada época da história. Há de ser povoado e repovoado por pessoas concretas que aqui convergem, partilham e adquirem energia e sentido para a sua vida e para a transformação do mundo.”

 

Igreja que se abre a “horizontes globais”

“A universalidade livre e humanizadora do templo” é transmitida na Palavra de Deus proclamada nesta Eucaristia, na profecia de Isaías (Is 25,6-10) e na parábola do banquete (Mt 22, 8s).

Para D. José Ornelas, o templo é visto como a casa de Deus, “que prepara um banquete não apenas para o seu povo, mas para todas as nações”.

“De contrário, estes lugares, em vez de serem espaços onde se prepara o banquete para todos – o banquete do estômago, da solidariedade e da partilha, da inteligência e da cultura, do espírito, da criatividade e da esperança – podem tornar-se em centros de poder fechado e centralizador, ou, pior ainda, em prisões de muros, de medo, de manipulação e exploração, ao serviço dos que os controlam”, acrescenta.

Sem esta dimensão, o prelado afirma que os “templos não passam de pedras, que cairão em ruínas”, pelo que “precisam de ser restaurados não só nas suas pedras, mas sobretudo no seu significado e na sua vocação e função, em cada geração, em cada tempo, em cada cultura”.

Ao lembrar que o Tratado de Tordesilhas foi ratificado neste espaço a 5 de setembro de 1494, o bispo de Setúbal salienta que a igreja e o convento, desde as suas origens, “abrem-se a horizontes globais, na sua imobilidade local”, acompanhando as vicissitudes da cidade e do povo e “abrindo perspetivas de tempos que queremos que sejam novos e inovadores”.

“Na sua imobilidade, abrem-se a horizontes infinitos; na sua localidade, revestem-se de coloridos universais; na sua materialidade, elevam-se a dimensões que apenas o espírito entende, na frieza das suas pedras, enchem-se de afetos e de fé, que juntam pessoas e transformam o mundo.”

 

Colaboração com o poder local

D. José Ornelas agradeceu à Câmara Municipal de Setúbal, na pessoa da sua presidente Maria das Dores Meira, “o empenhamento pessoal e da autarquia a que preside, para que este processo tenha sido levado a bom termo”.

“Esta Igreja, agora recuperada, é património nacional, cuja utilização é confiada à Diocese de Setúbal, na figura canónica de Reitoria, a que preside o Padre José João Lobato”, esclarece o prelado.

O bispo diocesano sublinha que “o entendimento e a boa colaboração entre a Câmara Municipal e a Diocese de Setúbal permitem que esta igreja, casa de Deus no coração da cidade, continue a ser um centro de arte e cultura, mas sobretudo um apelo a encontrar o seu sentido na transcendência que preside ao intento desta casa desde as suas origens”.

“No respeito e colaboração pela diversidade de funções de cada um, queremos fazer jus à história e vocação desta igreja e deste convento, como memória atualizada de identidade, inspiração para o presente e energia criadora para um futuro de justiça, dignidade e paz, aberto ao mundo e a Deus, como o Sado se abre para o mar”, conclui.

 

A celebração contou com a presença da Presidente da Câmara Municipal de Setúbal e demais autarcas do município, do Alcaide de Tordesilhas, Miguel Ángel Oliveira Rodríguez, que participou no evento de reabertura, e várias dezenas de fiéis e curiosos que não deixaram de visitar o espaço requalificado. A Eucaristia foi animada pelo Grupo Coral Luísa Todi.

Vídeos da Câmara Municipal de Setúbal sobre a reabertura do Convento de Jesus e a sua história:

Setúbal: Convento de Jesus reabre ao público depois de um longo período de requalificação

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14 de Outubro de 2020