comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a missão de quem acredita, o amor como caminho e a oração como salvação

20201022-a-palavra-do-papa-francisco

“Ser presença viva na sociedade”, animada pelo Evangelho, é a missão dos cristãos, refere o Papa. No encontro inter-religioso pela paz, Francisco abordou a falta de amor, “raiz de todos os males”, e alertou na audiência-geral para a “oração falsa”.

Ângelus: “Cristãos chamados a ser presença viva na sociedade”

A passagem do Evangelho de São Mateus, na qual Jesus luta contra a hipocrisia dos seus adversários que o elogiam, inspirou a reflexão do Papa no Ângelus do XXIX Domingo do Tempo Comum, 18 de outubro.

Nesta passagem, Jesus sabia que queriam colocá-lo em apuros ao fazer-lhe a pergunta insidiosa: “É lícito, ou não, pagar imposto a César?’” à qual Jesus responde “Devolvei o que é de César a César e a Deus o que é de Deus.”

O Papa explica que Jesus, com esta resposta, coloca-se acima da polémica, encontrando “não apenas o critério da distinção entre as esferas política e religiosa, mas também diretrizes claras para a missão dos crentes”.

Assim como o pagamento de impostos é um dever do cidadão, continua o Pontífice, o mesmo acontece com a afirmação da “primazia de Deus na vida e na história humana, respeitando o direito de Deus ao que lhe pertence”.

Francisco pondera: “Disso deriva a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho dele aos homens e mulheres do seu tempo”.

Afirmou em seguida que “Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo”.

Na saudação final, Francisco pediu ainda um momento de oração em silêncio pelos 18 pescadores que estão detidos na Líbia há mais de um mês, num impasse diplomático. Também fez um apelo para que acabem as hostilidades nesse país.

Dia Mundial das Missões: Cristãos são convidados a ser “tecelões de fraternidade”

Depois da oração do Angelus, o Santo Padre lembrou recordou que a Igreja celebrava o Dia Mundial das Missões neste domingo, destacando o trabalho dos missionários a quem chamou “tecelões de fraternidade” e lembrando o tema para este ano “Eis-me aqui, envia-me!”

Tecelões de fraternidade. Essa é uma palavra bonita “tecelões”. Cada cristão é chamado a ser um tecelão de fraternidade. De maneira especial, assim são os missionários e missionárias – sacerdotes, leigos, homens e mulheres consagrados – que semeiam o Evangelho no grande campo do mundo”.

O Papa apelou à oração “pelos missionários e catequistas e também por aqueles que são perseguidos ou sequestrados em várias partes do mundo”.

Francisco: só o amor é caminho para a plena comunhão

Esta terça-feira, Roma transformou-se na Capital da Paz com um encontro na qual marcaram presença líderes e representantes religiosos do islamismo, judaísmo e budismo, para além do Patriarca Bartolomeu I e do próprio Papa Francisco.

O evento, intitulado “Ninguém se salva sozinho – Paz e Fraternidade”, é promovido pela Comunidade de Santo Egídio que anualmente celebra, de cidade em cidade, esta iniciativa de oração e diálogo em prol da paz, entre os fiéis de várias religiões, a fim de recordar o encontro convocado por São João Paulo II, em 1986, em Assis.

O Papa Francisco começou a sua alocução no encontro de Oração pela Paz no Espírito de Assis, na Basílica de Santa Maria em Aracoeli agradecendo o facto de poderem estar juntos, em oração.

Francisco recordou um momento da Paixão do Senhor, na sua crucificação em que muitos, sem piedade, lhe diziam “Salve-se a si mesmo!”: “Trata-se duma tentação crucial que ameaça a todos, mesmo a nós cristãos: a tentação de pensar só em se defender ou ao próprio grupo, pensar apenas nos próprios problemas e interesses, quando tudo mais não importa. É um instinto muito humano, mas mau, e constitui o último desafio a Deus crucificado”, frisou o Papa.

O Sumo Pontífice critica os que que querem “um deus configurado à sua medida” e os que são especialistas em colocar os outros na cruz, contanto que se salvem a si mesmos.

“Jesus deixa-se crucificar, para nos ensinar a não descarregar o mal sobre os outros”, afirma o Papa referindo que Deus vem “não tanto para nos livrar dos problemas, que sempre reaparecem, mas sobretudo para nos salvar do verdadeiro problema: a falta de amor.” Esta é, na visão do Papa, “a causa profunda dos nossos males pessoais, sociais, internacionais, ambientais”.

Da cruz, brotou o perdão, renasceu a fraternidade: «A cruz nos torna irmãos». Os braços de Jesus, abertos na cruz, assinalam uma mudança radical, porque Deus não aponta o dedo contra ninguém, mas abraça a cada um. Pois só o amor apaga o ódio, só o amor vence completamente a injustiça. Só o amor dá espaço ao outro. Só o amor é o caminho para a plena comunhão entre nós”.

Sobre a paz, o Papa elogiou todo o trabalho realizado entre as religiões desde o célebre encontro de Assis e que trouxe aos crentes a possibilidade de compreender que a diversidade religiosa “não justifica a indiferença nem a inimizade”.

“Antes pelo contrário, a partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio”, sublinha.

Defendendo que o mundo hoje tem “uma sede ardente de paz”, o Papa apelou que os decisores políticos se aproximem dos que sofrem com a guerra e que tornem a paz uma “prioridade”.

“A fraternidade, que brota da consciência de sermos uma única humanidade, deve penetrar na vida dos povos, nas comunidades, no íntimo dos governantes, nos fóruns internacionais” defende o Sumo Pontífice.

“Estamos juntos, nesta tarde, como pessoas de diferentes tradições religiosas, para comunicar uma mensagem de paz. Isto mostra claramente que as religiões não querem a guerra; pelo contrário, desmentem quem sacraliza a violência, pedem a todos que rezem pela reconciliação e atuem para que a fraternidade abra novas sendas de esperança”, concluiu o Papa. 

A oração autêntica é a salvação do ser humano

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, na Sala Paulo VI, o Papa prosseguiu com a segunda parte do tema “A oração dos Salmos”.

“Primeiramente, notamos que nos Salmos aparece frequentemente uma figura negativa, a do “ímpio”, ou seja, aquele ou aquela que vive como se Deus não existisse. É a pessoa sem nenhuma referência ao transcendente, sem nenhum impedimento à sua arrogância, que não teme o julgamento sobre o que pensa e o que faz”, começou Francisco.

Para o Santo Padre, o Saltério apresenta “a oração como a realidade fundamental da vida”, que nos salva, que impede que “nos aventuremos nesta vida de modo predatório e voraz”.

O Pontífice reconhece como real a oração sincera que “adquire profundidade” nas nossas vidas e que se transforma pela mão de Deus. Criticou a “oração falsa”, “feita apenas para ser admirado pelos outros”, “só para se mostrar socialmente.”

O pior serviço que pode ser prestado, a Deus e também ao homem, é rezar com tédio, de maneira habitual. Rezar como um Papagaio. Não! Reza-se com o coração. A oração é o centro da vida. Se houver oração, o irmão, a irmã, também se torna importante. Alias, até mesmo os inimigos. Um antigo ditado dos primeiros monges cristãos reza: «Abençoado é o monge que, depois de Deus, considera todos os homens como Deus». Quem adora a Deus, ama os seus filhos. Quem respeita a Deus, respeita os seres humanos.”

O Papa adverte que se alguém “reza muitos terços” mas depois pratica a maledicência, o rancor, o ódio, a sua oração “é puro artifício, não é verdade, não é consistente”.

“De Deus recebemos este mandamento: ‘aquele que amar a Deus, ame também ao seu irmão’. Deus não suporta o ‘ateísmo’ daqueles que negam a imagem divina impressa em cada ser humano. Aquele ateísmo de todos os dias: acredito em Deus, mas com os outros à distância e me permito odiar os outros. Isto é ateísmo prático.”

Francisco acrescenta que “Deixar de reconhecer a pessoa humana como imagem de Deus é um sacrilégio, uma abominação, é a pior ofensa que se pode levar ao templo e ao altar.”

“Que a oração dos Salmos nos ajude a não cair na tentação da “impiedade”, ou seja, de viver, e talvez até de rezar como se Deus não existisse, como se os pobres não existissem”, concluiu o Papa.

“São João Paulo II foi um dom extraordinário do Senhor à Igreja”

Nesta quinta-feira, 22 de outubro, a Igreja recorda São João Paulo II. Para a ocasião, o Papa Francisco recordou o santo na rede social Twitter em que o descreve como um homem “apaixonado pela vida e fascinado pelo mistério de Deus, do mundo e do homem”. Foi um dom extraordinário do Senhor à Igreja. Recordemos a sua fé: que seja de exemplo para viver o nosso testemunho hoje”.

“Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! (São João Paulo II).”

JM (com recursos do portal Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
23 de Outubro de 2020