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A Palavra do Papa: a escola de Maria, o princípio do amor, os sonhos para a Europa e o dom da oração

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“Enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos os nossos corações, ainda estaremos distantes de ser discípulos” frisou o Papa no Angelus. Esta semana, apelou à redescoberta dos ideais europeus e à criação de espaços dignos para a mulher na Igreja. Incentivou-nos a acolher o dom da oração “como uma semente que quer criar raízes”.

Marianum: o mundo sem mães não tem futuro

O Papa recebeu esta semana os professores e alunos da Pontifícia Faculdade Teológica “Marianum”, de Roma, a celebrar 70 anos da sua fundação. No encontro, Francisco recordou que “os tempos em que vivemos são os tempos de Maria”: mãe que regenera a vida e mulher que cuida do povo de Deus. “Quantas mulheres – afirma o Papa – não recebem a dignidade que lhes é devida”.

“Ir à escola de Maria é ir a uma escola de fé e de vida” refere o Sumo Pontífice, afirmando que o mundo precisa redescobrir o seu coração materno.

“Precisamos da maternidade, de quem gera e regenera a vida com ternura, porque só o dom, o cuidado e a partilha mantêm a família humana unida. Pensemos no mundo sem as mães: não tem futuro. As vantagens, os lucros, por si só, não dão um futuro, na verdade, por vezes aumentam as desigualdades e as injustiças. As mães, em vez disso, fazem com que cada filho se sinta em casa e dão esperança”, insiste.

O Papa mencionou ainda que o estudo mariológico é chamado “a procurar espaços mais dignos para a mulher na Igreja, começando pela comum dignidade batismal.”

Angelus: o princípio do amor na relação com Deus e os irmãos

“Aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus que não vê”. São palavras do Papa Francisco que, na oração do Angelus do passado domingo, advogou que “enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos os nossos corações, ainda estaremos distantes de ser discípulos, como Jesus nos pede”.

Refletia o Evangelho de Mateus 22, 34-40. Quando um doutor da Lei pergunta a Jesus – disse o Papa – qual é “o grande mandamento”, ou seja, o mandamento principal de toda a Lei divina, Jesus responde: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”. E acrescenta imediatamente: “O segundo é semelhante a este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

A resposta de Jesus retoma e une dois preceitos fundamentais que Deus deu ao seu povo através de Moisés. A fé não consiste numa “obediência ansiosa e forçada”, disse Francisco, reiterando que a vida moral e religiosa tem como princípio o amor, que “deve tender junto e inseparavelmente para Deus e para o próximo.”

No Evangelho deste domingo – disse o Pontífice -, mais uma vez, Jesus ajuda-nos a ir à fonte viva e efusiva do amor, trilhando um caminho de “comunhão, conversão e santidade”. Apesar das inimizades, diz o Papa, a “divina misericórdia” de Deus “não nos permite desanimar, pelo contrário, Ele chama-nos a recomeçar todos os dias para viver de forma coerente o Evangelho”.

No final de oração, o anunciou ainda um novo Consistório para o dia 28 de novembro com vista à criação de 13 novos cardeais.

O Papa Francisco manifestou igualmente uma “particular preocupação” com o que está a acontecer na Nigéria, onde os confrontos entre as forças policiais e alguns jovens manifestantes se arrastam há dias.

“Rezemos ao Senhor”, acrescentou, “para que todas as formas de violência sejam sempre evitadas na constante busca da harmonia social através da promoção da justiça e do bem comum”.

Sonho uma “Europa-comunidade”, solidária, amiga das pessoas

O Sumo Pontífice partilhou esta semana uma carta dirigida à Europa na qual partilha a sua visão sobre o “velho continente”, espaço de povos unidos pela solidariedade, acompanhando as visões de Robert Schuman, um dos precursores da União Europeia e S. João Paulo II.

A missiva foi dirigida ao Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, em virtude dos 50 anos de colaboração entre a Santa Sé e as instituições europeias, dos 40 anos do nascimento da COMECE, Comissão dos Episcopados das Comunidades Europeias, e dos 70 anos da Declaração Schuman, com os qual a Europa renunciava às divisões da guerra.

Sobre os desafios à unidade provocados pela pandemia, o Papa descreve “uma encruzilhada que obriga a tomar uma opção: ou prosseguimos pelo caminho embocado no último decénio que aparece animado pela tentação da autonomia, esperando-nos mal-entendidos, contraposições e conflitos cada vez maiores; ou redescobrimos o ‘caminho da fraternidade’”.

O Pontífice inspira-se na célebre frase de S. João Paulo II, “Europa volta a encontrar-te. Sê tu mesma”, proferida em 1982 em Santiago de Compostela, apelando a uma redescoberta dos ideias europeus “que têm raízes profundas” e que se estão perder no seu ímpeto.

Na longa carta, Francisco partilha os seus quatro sonhos: “com uma Europa que seja amiga da pessoa e das pessoas”, onde “a dignidade de cada pessoa seja respeitada”.  

“Sonho com uma Europa que seja uma família e uma comunidade”, capaz de “viver em unidade, valorizando as diferenças, a partir da fundamental entre homem e mulher”.

O terceiro sonho do Papa é o de “uma Europa solidária e generosa”, um “lugar acolhedor e hospitaleiro, onde a caridade – que é a virtude cristã suprema – vença todas as formas de indiferença e egoísmo”, frisando em particular a assistência aos migrantes provenientes de África.

E depois o quarto sonho, que o Papa expressa desta forma: “Uma Europa saudosamente laica, na qual Deus e César apareçam distintos, mas não contrapostos”, com abertura “à transcendência, onde a pessoa crente se sinta livre para professar publicamente a fé e propor o seu ponto de vista à sociedade”.

O Papa acredita que a “Europa ainda tem muito a dar ao mundo” pelo que apela à “grande responsabilidade” dos cristãos, confiando o continente aos seus santos padroeiros, Bento, Cirilo e Metódio, Brígida, Catarina e Teresa Benedita da Cruz.

Audiência Geral: “Jesus oferece-nos a sua própria oração”

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração na Audiência Geral desta quarta-feira. “Jesus, homem de oração” foi o tema deste encontro semanal, realizado na Sala Paulo VI.

Na catequese, o Santo Padre recorda o batismo de Jesus, o seu primeiro ato público, descrito na Sagrada Escritura como um “encontro com claro caráter penitencial”.

“As pessoas iam a João Batista para serem batizadas, para o perdão dos pecados. Há um caráter penitencial, de conversão” com a qual Jesus se solidariza, rezando “com os pecadores do povo de Deus”.

“Coloquemos isso na cabeça: Jesus é justo, não é pecador. Ele quis vir até nós, pecadores. Ele reza connosco. Quando nós rezamos Ele está a rezar connosco. (…) Nós nunca rezamos sozinhos, sempre rezamos com Jesus. Ele não permanece na margem oposta do rio, para marcar a sua diversidade e distância do povo desobediente, mas mergulha os seus pés nas mesmas águas de purificação. Ele age como um pecador. E esta é a grandeza de Deus que enviou o seu Filho, se aniquilou e apareceu como um pecador.”

No momento do seu Batismo, Jesus “abre a porta do céu, e daquela brecha desce o Espírito Santo” que lhe dá a certeza que mesmo “nas experiências mais duras e tristes que deverá suportar (…) nunca está sem o amparo de uma morada: habita eternamente no Pai.”

“Ele obteve este dom para nós e convida-nos a rezar como Ele rezou”, disse ainda o Papa, acrescentando que “se numa noite de oração nos sentirmos fracos e vazios, se nos parecer que a vida tem sido completamente inútil, nesse momento devemos implorar que a prece de Jesus se torne também nossa”.

“Jesus ofereceu-nos a sua própria oração, que é o seu diálogo de amor com o Pai. Ele concedeu-nos como uma semente da Trindade, que quer criar raízes no nosso coração. Acolhemo-la! Acolhamos este dom, o dom da oração. Sempre com Ele e não erraremos”, concluiu Francisco.

Nice: o Papa reza pelas vítimas do atentado e apela ao fim da violência

O Papa Francisco manifestou o seu pesar pela tragédia de Nice, situada no sul da França, através de uma mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, enviada ao bispo de Nice, dom André Marceau. Três pessoas morreram no ataque perpetrado na manhã desta quinta-feira, na Basílica de Notre-Dame dessa cidade. Uma das vítimas foi decapitada.

O Santo Padre condena “da maneira enérgica tais atos violentos de terror”, assegurando “a sua proximidade à comunidade católica da França e a todo o povo francês que chama à unidade”.

Respondendo aos jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, afirmou que o Papa “reza pelas vítimas e pelos seus entes queridos, para que cesse a violência, para que as pessoas voltem a olhar-se como irmãos e não como inimigos, e para que o amado povo francês possa reagir unido ao mal com o bem.”

JM (com recursos do portal Vatican News)

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30 de Outubro de 2020