comprehensive-camels

Catequese: A segunda vaga, os catequistas e os remédios para o tempo presente

20201103-catequese-catequista-pandemia

Reflexão do Padre Rui Gouveia, Diretor do Secretariado Diocesana da Catequese e Reitor do Seminário Maior de S. Paulo de Almada.

Não se fala de outra coisa. Não, não me refiro à segunda vaga da pandemia, ou às estatísticas relativas à evolução da pandemia. Tampouco me refiro aos mais recentes remédios que a medicina produz ou aos modelos de máscaras mais eficientes e confortáveis e que permitem uma maior clareza na fala. Sem prescindir deste cenário que marca profundamente a nossa vida, falo do novo ano pastoral que já começou, assim como a catequese! Ainda há dias a Igreja em Portugal celebrou a Semana de Educação Cristã e ocorreram online as Jornadas Nacionais de Catequistas. E é para eles, os catequistas, esses ilustres filhos de Deus que são pedras vivas das paróquias, a quem me gostava de dirigir.

Tenho recebido pelas redes sociais tantas sugestões de remédios para bem resistir a estes tempos, que também vos gostava de falar sobre algumas receitas eficazes…

Estes são tempos estranhos, inequivocamente. Muitas são as dúvidas, incertezas e até medos entre nós catequistas, mas já aprendemos que a catequese não pode parar, mesmo que limitados ou confinados. Também já descobrimos que os meios digitais são uma ajuda para a nossa missão na transmissão da fé, mas limitados na comunicação. Já concluímos que não há nada que substitua a presença real! Na verdade, aprendemos na pele que o ato catequético pressupõe uma comunicação que implica todas as dimensões da alma e do corpo, e que o mundo virtual não consegue transmitir na íntegra. A mensagem proclamada virtualmente fica como que incompleta e, não obstante ser mensagem evangélica, não chega a ser catequese porque a relação pessoal que se estabelece virtualmente não é completa. A pedagogia catequética, assente na pedagogia de Jesus, ordena-se imperiosamente para o mistério da presença – como toda a vida cristã, quer na dimensão da profissão de fé, sacramental ou moral. Claro que estarmos juntos, no mesmo espaço e tempo, requer hoje responsabilidade e prudência acrescidas. Este é um desafio!

Creio que o segredo está em discernir cada momento, sem perder a sanidade espiritual. Este é outro desafio. Esta saúde do espírito não diz respeito a idas ao psiquiatra e ou ao psicólogo (que ninguém deixe de ir se é necessário, obviamente) ou sequer consultar o tarô ou ler o horóscopo (que só a ideia é estapafúrdia, obviamente), ou que passemos a praticar alguma meditação oriental tipo mindfulness ou meditação transcendental (outro flop). De todo! A nossa tradição cristã ensina-nos que a boa saúde da alma e o discernimento verdadeiro é conseguido pela aproximação ao Senhor e não se focando em si mesmo, como as ditas vias ditam e que, por essa razão, são contrárias à nossa fé.

Nesta segunda vaga é fundamental que cada catequista se mantenha junto a Jesus porque Ele “é o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). O remédio, já bem nosso conhecido e que não passou de prazo, é entrar nos espaços que Ele habita. O problema é o de sempre, mascarado agora com outras justificações, mas com o mesmíssimo efeito na nossa atitude, a saber, a falta de fervor, firmeza e fidelidade. Três “efes” a tratar com remédios específicos.

Vejo muita gente cansada e desanimada, que se veem secas no fervor. Precisam de “vitaminas”. Desafio-os a que se apoiem na Eucaristia, pelo menos ao Domingo e que a tomem como remédio, na companhia real da vossa comunidade paroquial que tem Jesus no seu centro. Que reaprendamos a reconhecer Jesus presente nos irmãos, na Palavra e no Corpo e Sangue, que lhe entreguemos os nossos pesos, que nos deixemos consolar, que a Sua presença nos ilumine e nos faça arder por dentro em esperança e caridade. Que a força que daí advenha nos leve a catequizar, a consolar e a apoiar quem passa necessidades, ou anda fatigado e oprimido. Que a Eucaristia seja o nosso “prato” favorito.

Por outro lado os medos e a insegurança são patentes. Parece que preferimos inconscientemente ser vencidos pela suspeita e vacilação. Aspiremos à firmeza gerada pela fé. Se a oração comunitária é vital, também o é a oração pessoal. Recomendaria como remédio para os vossos receios a oração de ação de graças. Fechem-se diariamente no vosso quarto por três minutos. Façam memória dos grandes acontecimentos operados no passado pelo Espírito Santo nas nossas vidas. Durante esse tempo não peçam nada, apenas agradeçam ao Senhor cada coisa que Ele já fez em vós. A oração do “obrigado Espírito Santo” acalma o coração e faz-nos olhar para o presente com outra firmeza ou confiança. Deus tudo pode! A partir daqui, olhemos de novo para os nossos catequizandos e necessitados e não deixemos de interceder e favorecer a existência de todos os que vivem na ignorância da fé ou sofrem. E são tantos!

Também podemos sentir que não estamos à altura da missão de ser catequistas hoje, mas recordemos que somos chamados à fidelidade. É um apelo básico da fé. Não podemos desistir. O sacramento da Reconciliação é sem dúvida um instrumento de cura contra o nosso limite, o nosso pecado e restitui-nos à comunhão plena com o Pai, no Filho, pelo Espírito Santo, e com os irmãos. Ajuda-nos a perceber que o Pai tudo pode regenerar pelo sacrifício da Cruz. Se Ele é capaz de regenerar a nossa vida, prometendo-nos a vida eterna, tudo é possível. Não deixemos de tomar também este remédio tão necessário e que continua a estar ao nosso alcance. Basta procurá-lo com insistência, como tanta gente o faz às portas dos centros de saúde e da farmácia para serem vacinados contra a gripe. Como a vacina, o sacramento do perdão dá saúde (espiritual) e sustenta resistências às ameaças.

Nesta segunda vaga, ao falarmos que caminhos percorrer para dar o Senhor às nossas crianças, adolescentes e adultos da catequese, não fiquemos apenas pelo que a sabedoria humana nos diz, não nos tornemos meros funcionários da catequese. Tomemos nós próprios o remédio que queremos dar aos nossos catequizandos, Jesus, a Sabedoria incarnada, presente realmente na nossa paróquia. Quem está com Ele dirige forçosamente todos os que lhe são confiados até Ele.

Com responsabilidade e prudência, sem prescindir da real presença e centralidade de Jesus e da comunidade cristã, que Nossa Senhora nesta segunda vaga nos guarde no fervor, firmeza e fidelidade da fé!

Padre Rui Gouveia

Partilhe nas redes sociais!
03 de Novembro de 2020