comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a lâmpada da fé, o óleo da caridade, o templo dentro de nós e a oração tenaz

20201112-a-palavra-do-papa

O Santo Padre convidou à conversão “sem esperas” no Angelus deste domingo. Apelou à reconstrução do templo na dedicação da Basílica de São João de Latrão, ao diálogo entre fé e ciência e à necessidade de uma oração contínua e perseverante. Uma sugestão de Francisco deu origem a um projeto social, encarado pelo próprio como “farol de luz e esperança” para as pessoas vulneráveis da diocese siliciana de Gela.

 

Angelus: Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras

Os fiéis compareceram na Praça São Pedro para rezar o Angelus com o Papa Francisco, não obstante o aumento do número de contágios em Itália, mantendo a devida distância.

Na sua alocução, o Pontífice comentou o Evangelho deste domingo (Mt 25,1-13), no qual Jesus narra a parábola das 10 virgens convidadas a uma festa nupcial, símbolo do Reino dos céus.

Naquele tempo, havia o hábito de celebrar as núpcias à noite, portanto o cortejo dos convidados deveria realizar-se com as lâmpadas acesas. Algumas jovens são imprevidentes: levam as lâmpadas, mas não levam o óleo; as sábias, ao invés, levam os dois itens. O esposo demora para chegar e todos acabam a dormitar. Quando é anunciado, as imprevidentes vão comprar o óleo e o esposo chega neste momento. As jovens sábias entram com ele para a festa do casamento; as outras chegaram demasiado tarde e são recusadas.

Com esta parábola, explicou o Papa, Jesus quer dizer-nos que devemos estar preparados para o encontro com Ele. “Não somente para o encontro final, mas também para os pequenos e grandes encontros de todos os dias.”

Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras. Ser sábios e prudentes significa não esperar o último momento para corresponder à graça de Deus, mas fazê-lo ativamente desde já, começar agora:

“Sim, mais para frente me converto. Converta-se agora! Mude hoje de vida! – “Sim, sim: amanhã”. Para dizer o mesmo amanhã, que jamais chegará. Hoje!”

Para o Papa, muitos esquecem a verdadeira meta da vida, que é o encontro definitivo com Deus, perdendo assim o sentido da espera e absolutizando o presente.

“Quando alguém absolutiza o presente, olha somente para o presente, perde o sentido da espera, que é tão bonito. Esperar o Senhor é tão necessário e tira-nos das contradições do momento”, refere.

“Se deixarmos guiar por aquilo que parece mais atraente, pela busca dos nossos interesses, a nossa vida torna-se estéril”, disse ainda Francisco. “Não acumularemos nenhuma reserva de óleo para a nossa lâmpada, e esta apagar-se-á antes do encontro com o Senhor”, conclui.

“Deixemos que o Senhor reconstrua o seu templo dentro de nós”

No Twitter, o Papa Francisco recordou a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, “mãe e cabeça” de todas as igrejas da cidade de Roma e do mundo. O pontífice lembrou que “o Senhor deseja habitar em cada coração.”

“Mesmo se nos afastarmos Dele, para o Senhor são suficientes três dias para reconstruir o seu templo dentro de nós! (cf. Jo 2,19)”, acrescentou.

A Basílica Laterenense foi a primeira a ser construída depois do edito do imperador Constantino que, em 313, concedeu aos cristãos a liberdade de praticar a sua religião. A dedicação ocorreu em 324 e em 1565 a data passou a ser celebrada em todas as Igrejas de rito romano, como expressão de amor à Igreja que, como afirma Santo Inácio de Antioquia, “preside na caridade” toda a comunhão católica (Rm 1, 1).

A centralidade da pessoa na ciência e a agressão militar ao meio ambiente

O Papa recorreu às redes sociais para se associar a duas datas consagradas pela Organização das Nações Unidas: o Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempo de Guerra e Conflito Armado e o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, assinalados a 3 e 10 de novembro respetivamente.

“A guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. Se quisermos um desenvolvimento humano integral autêntico para todos, é preciso continuar incansavelmente no esforço de evitar a guerra”. Foram estas as palavras do Papa Francisco na sua conta de Twitter.

O objetivo do Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempo de Guerra e Conflito Armado é sensibilizar a comunidade internacional para os efeitos nocivos ao meio ambiente dos conflitos, como a destruição dos recursos naturais, o empobrecimento da terra e a impossibilidade de cultivar terras agrícolas, o desmatamento, a desertificação e a exposição das pessoas a substâncias tóxicas.

No Dia Mundial da Ciência para Paz e Desenvolvimento, o Papa reiterou os benefícios para a sociedade do diálogo entre ciência e fé, que “abre horizontes ao pensamento”.

No Twitter, Francisco reconhece que os progressos científicos devem ser iluminados com a luz da fé, para que respeitem a centralidade da pessoa humana”.

Audiência Geral: “a oração é como o oxigénio da vida”

Esta quarta-feira, o Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração na Audiência Geral, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus.

O Pontífice iniciou, dizendo que alguém lhe disse que ele fala muito sobre a oração, que não é necessário. “Sim é necessário”, disse o Papa, “porque se não rezarmos não teremos a força para ir em frente na vida. A oração é como o oxigénio da vida. A oração é atrair sobre nós a presença do Espírito Santo que nos faz ir adiante sempre. Por isso, eu falo muito sobre a oração”.

Considera o Papa que o exemplo de Jesus é de “uma oração contínua, praticada com perseverança”, “no silêncio e no recolhimento” e que essa oração é o alicerce de toda a sua missão.

O Santo Padre recordou “três parábolas contidas no Evangelho de Lucas que sublinham esta característica da oração”.

“A oração deve ser antes acima de tudo tenaz”, frisou o Papa, “como a personagem da parábola que, tendo que receber um hóspede que chegou de repente, no meio da noite, vai bater à porta de um amigo e pede-lhe pão. O amigo responde “não!”, porque já está na cama, mas ele insiste, e insiste a ponto de o obrigar a levantar-se e a dar-lhe. Um pedido tenaz!”.

Mas Deus é mais paciente do que nós, e quem bate à porta do seu coração com fé e perseverança não fica desiludido. Deus responde sempre. Sempre! O nosso Pai sabe bem do que precisamos; a insistência não serve para o informar ou convencer, mas para alimentar o desejo e a expectativa em nós.

A segunda parábola é a da viúva que se dirige ao juiz para que a ajude a obter justiça. Esta parábola faz-nos compreender que a fé não é o impulso de um momento, mas uma disposição corajosa para invocar Deus, até para “discutir” com Ele, sem se resignar ao mal e à injustiça.

A terceira parábola apresenta um fariseu e um publicano que vão ao Templo para rezar. O primeiro dirige-se a Deus gabando-se dos próprios méritos; o outro sente-se indigno até de entrar no santuário. Contudo, Deus não ouve a oração dos soberbos, mas atende a dos humildes. Não há verdadeira oração sem espírito de humildade. É a humildade que nos impele a orar.

O ensinamento do Evangelho é claro: é preciso rezar sempre, até quando tudo parece vão, quando Deus nos parece surdo e mudo, e que perdemos tempo. Mesmo que o céu se ofusque, o cristão não deixa de rezar. A sua oração anda de mãos dadas com a fé. E a fé, em muitos dias da nossa vida, pode parecer uma ilusão, uma labuta estéril. Existem momentos escuros em nossas vidas e ali a fé parece uma ilusão, mas praticar a oração significa também aceitar esta dificuldade.”

Segundo o Papa, “nestas noites de fé, quem reza nunca está sozinho. Na verdade, Jesus não é apenas testemunha e mestre de oração, é muito mais. Ele acolhe-nos na sua oração, para podermos rezar n’Ele e através d’Ele. E isto é obra do Espírito Santo”.

“Cristo é tudo para nós, inclusive na nossa vida de oração”, disse Francisco. Santo Agostinho resume admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus, que também encontramos no Catecismo da Igreja Católica: «sendo o nosso Sacerdote, ora por nós; sendo a nossa Cabeça, ora em nós; e sendo o nosso Deus, a Ele oramos. Reconheçamos, pois, n’Ele a nossa voz e a voz d’Ele em nós». “É por isso que o cristão reza, nada teme! Confia no Espírito Santo que nos foi dado como dom que reza em nós e nos conduz à oração. Que seja o mesmo Espírito Santo, mestre de oração, a nos ensinar o caminho da oração”, concluiu o Papa.

O encorajamento do Papa aos “faróis de luz” nas periferias

Numa entrevista recente, o Papa Francisco revelou que tem compensado as ausências físicas impostas pela pandemia com telefonemas e cartas.

Uma dessas cartas foi enviada ao sacerdote siciliano Pasqualino Di Dio que, depois de ouvir uma sugestão do próprio Francisco, fundou a “Pequena Casa da Misericórdia” na diocese local de Gela.

O Sumo Pontífice redigiu a carta para manifestar a sua proximidade à Casa, criada para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade e precariedade.

“A obra de proximidade a pessoas queridas que vivem condições problemáticas é um farol de luz e de esperança na escuridão do sofrimento e da resignação”, escreve o Papa, que prossegue: “é um sinal apreciado de partilha da Igreja para com os desfavorecidos; é um admirável exemplo de caridade evangélica e de Igreja em saída, que faz muito bem à comunidade eclesial e civil”.

A “Pequena Casa da Misericórdia” nasceu em 2013 e o idealizador foi o próprio Papa, num encontro com o sacerdote em que lhe sugeriu, face à realidade social da sua Diocese, que desse vida a uma Casa que fosse sinal da misericórdia de Deus.

Hoje, a Casa oferece apoio material e espiritual aos fragilizados, com um centro de escuta e acompanhamento, consultoria, serviços de mediação familiar e assistência escolar, entre outras respostas à comunidade.

JM (com recursos do portal Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
12 de Novembro de 2020