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III Domingo do Advento: Comentário à Liturgia – “Engrandecimento da alma”

Igreja em Rede - formato diocese

Engrandecimento da alma

No terceiro Domingo do Advento destaca-se a alegria: é geralmente denominado de Domingo Gaudete, de acordo com a primeira palavra em latim da antífona de entrada, que cita a exortação de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). Para além de outros elementos distintivos (por exemplo a cor dos paramentos litúrgicos, que pode ser rosa, numa espécie de invasão de luz ao roxo do Advento), o salmo responsorial deste dia…não é verdadeiramente um salmo! Nada que deva espantar, já que não é inédito que os salmos sejam substituídos, na missa ou na liturgia das horas, por cânticos do Antigo ou Novo Testamento com um carácter, poderíamos dizer, “sálmico”.

Hoje é o belíssimo poema conhecido como Magnificat (mais uma vez, a primeira palavra em latim deste texto), cântico de louvor a Deus entoado pela Virgem Maria na sua visita a Santa Isabel, sua prima. Depois de S. João Baptista ter sido introduzido como “guia” de Advento na semana anterior, agora é a Virgem Mãe que dá, por assim dizer, o tom deste momento na caminhada rumo ao Natal. É no encontro destas duas mulheres grávidas que ressoa a alegria hoje sublinhada, que se torna oração num cântico que recolhe o melhor da espiritualidade veterotestamentária.

Comentava o papa São Paulo VI, na sua encíclica Marialis Cultus: “Maria é a Virgem dada à oração. Assim nos aparece ela, de facto, na visita à mãe do Precursor, quando o seu espírito se efunde em expressões de glorificação a Deus, de humildade, de fé e de esperança: tal é o Magnificat (Lc 1,46-55), a oração por excelência de Maria, o cântico dos tempos messiânicos no qual confluem a exultação do antigo e do novo Israel, pois, conforme parece querer sugerir Santo Ireneu, no cântico de Maria convergiu o júbilo de Abraão, que pressentia o Messias (cf. Jo 8,56) e ressoou, profeticamente antecipada, a voz da Igreja: «exultante, Maria clamava, em lugar da Igreja, profetizando: a minha alma glorifica o Senhor…». Este cântico da Virgem Santíssima, na verdade, prolongando-se, tornou-se oração da Igreja inteira, em todos os tempos”.

Talvez seja particularmente interessante para os fiéis de hoje recordar também aquilo que comentou Santo Ambrósio a propósito do Magnificat: “Se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas geram Cristo: de facto cada uma acolhe em si o Verbo de Deus”.

Assim também nós podemos, no caminho que é o Advento, fazer com que o Senhor encontre um abrigo na nossa alma e na nossa vida, levando-O no coração e anunciando-O ao mundo. É esta verdadeiramente a “alegria no Senhor”!

Padre Daniel Nascimento

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12 de Dezembro de 2020