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A Palavra do Papa: a humildade que desarma, a beleza, a alegria cristã e o orante que é “pão repartido”

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Para Francisco, a alegria é “a regra para os cristãos”. No seu 84º aniversário, lembrou-nos os sinais de humildade do presépio, apelou a uma “cultura do cuidado” e falou aos artistas sobre a sua missão evangélica.

Os “ícones” do Natal são um sinal de esperança

O Papa Francisco saudou, na passada sexta-feira, as delegações que doaram, ao Vaticano, o presépio e a árvore de Natal que enfeitam a Praça São Pedro.

Para o Pontífice, estes “ícones” do Natal “são um sinal de esperança para os romanos e para os peregrinos que terão a oportunidade de vir admirá-los”.

“A árvore e o presépio ajudam a criar um clima natalício favorável para viver com fé o mistério do Nascimento do Redentor”, disse ainda Francisco.

No presépio, tudo fala de pobreza “boa”, a pobreza evangélica, que nos torna beatos: contemplando a Sagrada Família e as várias personagens, somos atraídos pela sua humildade que desarma”.

Francisco disse ainda que “a festa de Natal lembra-nos que Jesus é a nossa paz, a nossa alegria, a nossa força, o nosso conforto. Mas, para acolher estes dons da graça, precisamos de nos sentir pequenos, pobres e humildes como os personagens do presépio”.

“Também neste Natal, no meio do sofrimento da pandemia, Jesus, pequeno e indefeso, é o ‘Sinal’ que Deus doa ao mundo”, acrescenta.

O Papa agradeceu a todos os que ajudaram no transporte e na montagem da árvore e do presépio. “Que o Senhor os recompense pela vossa disponibilidade e generosidade”, disse o Papa, fazendo votos a todos de “uma celebração do Natal cheia de esperança”.

A árvore é um abeto proveniente dos bosques de Kočevje, na Eslovênia. Tem 75 anos, 28 metros de altura e 70 centímetros de diâmetro.

Já o presépio é de cerâmica e foi “emprestado” pela Diocese italiana de Teramo, na região dos Abruços. Foi realizado por jovens estudantes do Instituto de Arte “F.A. Grue”. Todavia, apenas foram trazidas a Roma algumas peças da frágil coleção de cerâmica composta por 54 estátuas.

Clima: Papa apela a uma “cultura do cuidado”

O Papa Francisco participou, de forma virtual, na Cúpula Mundial da Ambição Climática este sábado, por ocasião do quinto aniversário do histórico Acordo de Paris.

Exortou à “nossa responsabilidade de promover, através de um compromisso coletivo e solidário, uma cultura do cuidado que coloque no centro a dignidade humana e o bem comum.”

O Santo Padre, então, destacou a importância de adotar medidas “que não podem mais ser adiadas”, como “uma estratégia que reduza as emissões líquidas a zero”, objetivo que a Santa Sé procura atingir também pela promoção uma educação para a ecologia integral.

Na mensagem em vídeo, o Papa também citou o “Pacto Educativo Global” e a “Economia de Francisco”, como exemplos do trabalho feito com as gerações mais novas.  

Na visão do Santo Padre, “as medidas políticas e técnicas devem ser combinadas com um processo educacional que favoreça um modelo cultural de desenvolvimento e sustentabilidade centrado na fraternidade e na aliança entre o ser humano e o meio ambiente”.

“Chegou a hora de uma mudança de rumo. Não roubemos das novas gerações de esperança em um futuro melhor”, conclui.

Artistas: “guardiães da beleza do mundo”

Apesar da desorientação causada pela pandemia, a criatividade dos artistas pode gerar luz, disse o Papa. “A crise aumenta as sombras de um mundo fechado e parece obscurecer a luz do divino, do eterno. Não nos deixemos levar por este engano. Busquemos a luz da Natividade, que atravessa a obscuridade das trevas da dor.”

O Santo Padre recebeu na manhã de sábado na antecâmara da Sala Paulo VI, no Vaticano, os artistas que participarão do Concerto de Natal 2020. Francisco partilhou com os artistas algumas reflexões sobre a arte e o seu papel num momento histórico tão crítico.

O Papa descreveu a criação artística como um “tríplice movimento de admiração, descoberta pessoal e partilha”, que “produz um sentimento de paz que nos liberta de todo e qualquer desejo de dominar os outros, fazendo-nos compreender as dificuldades dos últimos e animando-nos a viver em harmonia com todos: uma harmonia que está ligada à beleza e ao bem”.

Ao término do seu discurso, o Santo Padre exortou os artistas a serem, de modo particular, “guardiães da beleza do mundo”. “Hoje, como então, esta Beleza transparece na humildade do Presépio. Hoje, como então, a celebramos com a alma repleta de esperança”.

Angelus: a alegria é a regra para os cristãos

“Alegria” foi a palavra predominante do Evangelho do III Domingo de Advento, comentado pelo Papa Francisco antes de rezar o Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Na sua alocução, Francisco refere que a alegria é “uma regra para os cristãos” pois assim não é possível dar “testemunho da alegria da ressurreição de Jesus Cristo”.

O Evangelho segundo João apresenta o personagem bíblico que – com exceção de Maria e José – por primeiro e mais intensamente viveu a espera do Messias e a alegria de vê-lo chegar: João o Batista.

“O Batista é a primeira testemunha de Jesus, com a palavra e com o dom da vida”, afirmou Francisco. Ele realizou a sua missão indicando Jesus como o Cristo, o Enviado de Deus prometido pelos profetas.

Eis a primeira condição da alegria cristã: descentralizar-se de si e colocar Jesus no centro. Isso não é alienação, porque Jesus é efetivamente o centro, é a luz que dá sentido pleno à vida de cada homem e mulher que vem a este mundo.”

O Papa prosseguiu recordando que João o Batista percorreu um longo caminho para chegar a testemunhar Jesus. “O caminho da alegria não é uma diversão. Deixou tudo, desde jovem, para colocar Deus em primeiro lugar.”

A alegria é isto: orientar a Jesus. E a alegria deve ser a característica da nossa fé. Também nos momentos mais ruins, saber que o Senhor está comigo, que o Senhor está connosco, que o Senhor ressuscitou. O Senhor! O Senhor! O Senhor! Este é o centro da nossa vida. Pensem bem hoje: como me comporto? Se não tenho a alegria da minha fé, não poderei dar testemunho e os outros dirão: ‘Mas se a fé é assim triste, é melhor não tê-la’.”

Após a oração do Angelus, o Papa saudou um grupo presente na Praça que representava as famílias e as crianças de Roma por ocasião da tradicional bênção das imagens do Menino Jesus a serem colocadas no presépio, este ano cancelada.

“Em silêncio, façamos a bênção das imagens. Quando rezarem em casa, diante dos presépios com seus familiares, deixem-se atrair pela ternura do Menino Jesus, que nasceu pobre e frágil no meio de nós, para nos dar o seu amor.”

Este domingo foi ainda mais alegre porque o Papa celebrou 51 anos de sacerdócio.

Audiência Geral: “a oração é o nosso coração”

“A oração de intercessão” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.  

“Quem reza nunca deixa o mundo para trás. Se a oração não recolhe as alegrias e tristezas, as esperanças e angústias da humanidade, torna-se uma atividade “decorativa”, um comportamento superficial, um teatro, um comportamento intimista”, disse o Pontífice.

Segundo o Papa, “todos precisamos de interioridade: de nos retirarmos para um espaço e um tempo dedicados ao nosso relacionamento com Deus. Mas isto não significa fugir da realidade. Na oração, Deus “toma-nos, abençoa-nos, e depois reparte-nos e oferece-nos”, pela fome de todos”. “Todo o cristão é chamado a tornar-se, nas mãos de Deus, pão repartido e partilhado. Uma oração concreta, que não seja uma fuga”, frisou o Papa.

Qualquer pessoa pode bater à porta de um orante e encontrar nele ou nela um coração compassivo, que reza sem excluir ninguém. A oração é o nosso coração, e a nossa voz torna-se coração e voz de muitas pessoas que não sabem rezar, não rezam, não querem rezar, ou estão impossibilitadas de rezar. Somos o coração e a voz dessas pessoas que sobe a Jesus, e sobe ao Pai, como intercessores.”

Segundo Francisco, desta forma “o orante reza pelo mundo inteiro, carregando sobre os ombros as suas dores e os seus pecados. Reza por todos e por cada pessoa: é como se ele fosse a “antena” de Deus neste mundo. Em cada pobre que bate à porta, em cada pessoa que perdeu o sentido das coisas, aquele que reza vê o rosto de Cristo.”

O mundo avança graças à “cadeia de orantes que intercedem, e que na sua maioria são desconhecidos, mas não a Deus! A Igreja, em todos os seus membros, tem a missão de praticar a oração de intercessão. Em particular, é dever de todos aqueles que têm um papel de responsabilidade: pais, educadores, ministros ordenados, superiores de comunidades”. 

O Papa concluiu, dizendo que “somos todos folhas da mesma árvore: cada desprendimento nos lembra a grande piedade que devemos nutrir, na oração, uns pelos outros. Rezemos uns pelos outros, fará bem a nós e a todos”.

No final da Audiência Geral, o Francisco fez votos para um Natal “menos consumista e mais religioso e autêntico”, afirmado que a crise mundial vivida em decorrência da pandemia, pode ser uma oportunidade para “purificar” o modo como vivemos o nascimento de Jesus.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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17 de Dezembro de 2020