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A Palavra do Papa: os olhos fixos na manjedoura, o ano da família e a força da gratidão

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Na celebração do Natal, criticou as “manjedouras de vaidade”. Concedeu a bênção Urbi et Orbi a pensar especialmente nas vítimas da pandemia e da guerra, convocou um ano especial dedicado à família e ensinou-nos sobre a oração de ação de graças.

Missa de Natal: “Fixar o olhar na manjedoura de Belém”

O Papa Francisco celebrou a missa de Natal na Basílica de São Pedro, no Vaticano, concelebrada por cardeais e com um reduzido número de fiéis.

Na sua homilia, recordou que a manjedoura de Belém, pobre de tudo e rica de amor, ensina que o sustento da vida é deixar-se amar por Deus e pelos outros.

Disse o Pontífice que o nascimento de Jesus é a novidade que nos permite renascer dentro, cada ano, encontrando Nele a força para enfrentar todas as provações. “Sim, porque Jesus nasce para nós”: para cada um de nós.

Deus vem ao mundo como filho para nos tornar filhos de Deus: somos filhos amados, não obstante os nossos erros e fracassos. E o amor de Deus por nós não depende nem jamais dependerá de nós: é amor gratuito, pura graça. O coração indestrutível da nossa esperança é reconhecer-se filhos de Deus”, recordou Francisco.

Mas quantas vezes, constatou Francisco, famintos de divertimento, sucesso e mundanidade, nutrimos a vida com alimentos que não saciam e deixam o interior vazio.  Nesta saciedade interminável por ter, “lançamo-nos em manjedouras de vaidade, esquecendo a manjedoura de Belém”.

Deus, continuou o Papa, nasceu menino para nos impelir a cuidar dos outros. “O seu amor desarmado e desarmante lembra-nos que o tempo de que dispomos não serve para nos lamentarmos, mas para consolar as lágrimas de quem sofre.”

“Urbi et Ordi”: “Jesus nasce para todos”

Ao conceder a bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo), o Papa Francisco rezou pelas populações mais atingidas pela crise ecológica, social e económica agravada pela pandemia.

O momento aconteceu na Sala das Bênçãos e não da varanda principal da Basílica de São Pedro, como é habitual, uma vez que em Itália houve confinamento obrigatório durante as festas.

A mensagem teve como fio condutor a última Encíclica publicada pelo Papa Francisco, “Fratelli tutti”, frisando o Santo Padre que Jesus nasceu para nós: “um «nós» sem fronteiras, sem privilégios nem exclusões”.

Neste momento histórico marcado pela crise ecológica e por graves desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia, o Papa considera a fraternidade como valor mais necessário do que nunca.

O primeiro pensamento do Papa foi para as pessoas mais frágeis, os doentes e quantos neste tempo se encontram desempregados ou em graves dificuldades pelas consequências económicas da pandemia, “bem como as mulheres que nestes meses de confinamento sofreram de violência doméstica”.

Francisco renovou o seu apelo aos governantes para que a todos seja garantido o acesso às vacinas e aos tratamentos, distribuídos para fazer frente à pandemia.

Fez um apelo generalizado à paz, citando alguns dos principais conflitos armados no Médio Oriente, África central e Mediterrâneo oriental. O Papa dirigiu um pensamento especial aos habitantes da região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, vítimas da violência do terrorismo internacional.

Citou o Chile, para que supere as recentes tensões sociais, e a Venezuela, para que ponha fim ao sofrimento, bem como pediu a proteção de Deus para as populações das Filipinas e Vietname, flageladas com calamidades naturais.

Queridos irmãos e irmãs, concluiu Francisco, “resignar-se à violência e à injustiça significaria recusar a alegria e a esperança do Natal”.

Angelus: Ano “Família Amoris laetitia”

A intenção do Pontífice ao anunciar este Ano especial é “prosseguir o percurso sinodal” que levou à publicação do documento. Com efeito, Amoris laetitia é fruto da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada de 4 a 25 de outubro de 2015 sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

No Angelus deste domingo, 27, dia em que a Igreja celebrou a Sagrada Família, o Papa Francisco anunciou a convocação de um “Ano especial dedicado à Família Amoris laetitia”, que será aberto a 19 de março de 2021, dia de São José e quinto aniversário de publicação da Exortação Apostólica. O encerramento está marcado para junho de 2022. Será “um ano de reflexão” e uma oportunidade para “aprofundar os conteúdos do documento”:

“Essas reflexões serão colocadas à disposição das comunidades eclesiais e das famílias para acompanhá-las no seu caminho. Desde agora, convido todos a aderir às iniciativas que serão promovidas ao longo do ano e que serão coordenadas pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Confiemos à Sagrada Família de Nazaré, em particular à São José, esposo e pai solícito, este caminho com as famílias de todo o mundo.”

Na alocução que precede a oração do Angelus, o Papa chamou a atenção para o facto de que “o Filho de Deus quis ter necessidade, como todas as crianças, do calor de uma família”, e precisamente por isso, “porque é a família de Jesus, a de Nazaré é a família modelo, em que todas as famílias do mundo podem encontrar o seu ponto de referência seguro e uma inspiração segura”.

Ao imitar a Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor educativo do núcleo familiar: isso requer que seja fundado no amor que sempre regenera as relações, abrindo horizontes de esperança.”

“Em família, se poderá experimentar uma comunhão sincera quando ela é casa de oração, quando os afetos são profundos e puros, quando o perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza quotidiana do viver é amenizada pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de Deus”, referiu o Pontífice.

O exemplo de evangelizar com a família, continuou então Francisco, é o chamamento que nos é feito pela festa de domingo, que nos repropõe o ideal de amor conjugal e familiar, assim como foi enfatizado na Exortação Apostólica Amoris laetitia.

Francisco: com a gratidão, transmitimos esperança ao mundo

“A oração de ação de graças” foi o tema da catequese do Papa Francisco, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, nesta quarta-feira, na última Audiência Geral deste ano.

Para falar sobre o tema, o Pontífice inspirou-se na passagem do Evangelho de Lucas em que dez leprosos vão ao encontro de Jesus e o imploram a ter compaixão deles.

Sabemos que para quantos sofrem de lepra, o sofrimento físico era acompanhado de marginalização social e religiosa. Eram marginalizados. Jesus não evita um encontro com eles”, mas “ouve o seu pedido, o seu grito de piedade, e envia-os imediatamente aos sacerdotes”.

“Aqueles dez confiam n’Ele, partem imediatamente, e enquanto caminham, os dez são curados. Então, os sacerdotes poderiam ter verificado a sua cura e readmiti-los na vida normal. Mas aqui está o ponto mais importante: daquele grupo, apenas um, antes de ir ter com os sacerdotes, volta para agradecer a Jesus e louvar a Deus pela graça recebida. Somente um. Os outros nove continuam a sua estrada. Jesus observa que aquele homem era samaritano, uma espécie de “herege” para os judeus daquela época. Jesus comenta: «Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?»

“É comovente esta passagem”, disse o Papa, acrescentando que “esta narração, por assim dizer, divide o mundo em dois: os que não agradecem e os que o fazem; os que tomam tudo como se lhes fosse devido, e os que aceitam tudo como dom, como graça”.

A oração de ação de graças começa sempre a partir do reconhecer-se precedido pela graça. Fomos pensados antes que aprendêssemos a pensar; fomos amados antes que aprendêssemos a amar; fomos desejados antes que brotasse um desejo no nosso coração. Se olharmos para a vida desta forma, então o “agradecimento” torna-se o motivo-guia dos nossos dias.

Segundo Francisco, “para nós, cristãos, a ação de graças deu o nome ao Sacramento mais essencial que existe: a Eucaristia. Com efeito, a palavra grega significa exatamente isto: agradecimento”.

Como todos os fiéis, os cristãos bendizem a Deus pelo dom da vida. Viver é, sobretudo, ter recebido. Receber a vida. Todos nós nascemos porque alguém desejou a vida para nós. Esta é apenas a primeira de uma longa série de dívidas que contraímos vivendo. Dívidas de gratidão.

Na nossa existência, mais de uma pessoa fitou-nos com um olhar puro, gratuitamente. Muitas vezes são educadores, catequistas, pessoas que desempenharam o seu papel além da medida exigida pelo dever. E eles fizeram surgir em nós a gratidão. A amizade é também um dom pelo qual devemos estar sempre gratos.”

“Quando a pessoa agradece, dá graças, expressa a certeza de ser amado. Este é um grande passo. Ter a certeza de ser amado. É a descoberta do amor como a força que governa o mundo. Somos filhos do amor, somos irmão do amor, somos homens e mulheres de graça”.

Francisco concluiu a sua catequese, convidando-nos “a estar na alegria do encontro com Jesus”, a cultivar a alegria e não deixar de agradecer. “Se formos portadores de gratidão, o mundo também se tornará melhor, talvez só um pouco, mas é suficiente para lhe transmitir um pouco de esperança”.

Croácia: proximidade do Papa às vítimas de terremoto

Na Audiência Geral de quarta-feira, o Papa Francisco dirigiu o seu pensamento à Croácia, onde um forte terremoto na terça-feira matou sete pessoas, deixou inúmeros feridos e provocou muita destruição.

“Ontem, um terremoto provocou vítimas e graves danos na Croácia. Expresso a minha proximidade aos feridos e a quem foi atingido pelo sismo e rezo em particular por aqueles que perderam a vida e por seus familiares. Faço votos que as autoridades do país, ajudadas pela comunidade internacional, possam logo aliviar os sofrimentos da querida população croata”, referiu o Santo Padre.

 

O portal Vatican News fez um resumo do ano de 2020 do Papa Francisco:

JM (com recursos Vatican News)

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30 de Dezembro de 2020