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Santa Maria, Mãe de Deus: Comentário à Liturgia – “Paz plena”

Igreja em Rede - formato diocese

Paz plena

Para a Igreja, o primeiro dia do ano civil celebra-se como dia de Santa Maria, Mãe de Deus. Simultaneamente, é dia mundial da paz, paz esta que flui naturalmente do Natal que ainda vivemos, como o demonstra a memória histórica de um jogo de futebol realizado entre soldados, algures nas trincheiras de um dos conflitos mais atrozes de sempre, a Primeira Guerra Mundial. Conta-se que num dia de Natal, os soldados ingleses e alemães, embora inimigos na batalha, numa trégua pacifista decidiram nesse dia bombardear o oponente, não já com projéteis de guerra, mas com remates à baliza adversária. Este sinal de humanidade na guerra permite-nos ilustrar aquilo que é a grandeza do Natal.

No entanto, o conceito de paz que a Sagrada Escritura propõe vai mais além. Em 1979, na encosta do vale que a Bíblia conhece como geena, no sudoeste na cidade velha de Jerusalém, um grupo de arqueólogos descobriu dois pequenos amuletos de prata. Nestes amuletos podia-se ler a bênção dos filhos de Aarão, que neste dia é proposta como primeira leitura, tirada do livro dos Números (6,24-26): “O Senhor te abençoe e te proteja! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável! O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz!” Trata-se de uma bênção que, em determinados momentos, os sacerdotes de Israel deveriam pronunciar sobre o povo. A descoberta sublinha a sua importância, sendo um dos testemunhos bíblicos mais antigos, datável do sétimo século antes de Cristo. Nela, Deus empreende seis ações: abençoa e protege, brilha e dá graça, levanta a sua face e concede paz. Todavia, como é relativamente comum no hebraico bíblico, aquilo que traduzimos em português pela conjunção copulativo “e” pode indicar também uma consequência. Ou seja, a bênção tem como resultado a proteção, o brilho da face de Deus produz graça, o olhar de Deus para o homem resulta em paz. Em hebraico, shalom.

É esta que se pede a Deus no início de 2021; uma paz que não seja a mera ausência de problemas – e tão importante que isso é no contexto presente – mas uma paz intimamente unida à bênção divina e à graça que vem do Altíssimo, que traduz a abundância de vida que Jesus traz à humanidade: “Eu vim para que tenham Vida, e a tenham em abundância”! (Jo 10,10).

Padre Daniel Nascimento

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31 de Dezembro de 2020