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D. José Ornelas: O que foi 2020 e o que espera para 2021

D. José Ornelas afirmou em entrevista à Agência Ecclesia que o ano 2020 “foi mauzinho” por causa da pandemia, obrigou a fazer reajustes e a aprender a “viver com menos”, por vezes “quase nada”.

“Não tentemos fazer disto um discurso bonito! Não, o ano foi mauzinho… Experimentámo-lo, os que foram diretamente atingidos pelo vírus, mas também as outras consequências que todos sentimos, os que estavam perto deles, os assistiram e os que sofreram as consequências colaterais”, disse D. José Ornelas.

Para o bispo de Setúbal, o esforço provocado pelas consequências da pandemia capacitou para “encontrar soluções”, assumindo que há sempre espaços da sociedade e da vida de cada um “que têm de ser reajustados” e “tantas vezes com limitação”.

“Oxalá aprendamos alguma coisa com isto: que é possível viver com menos. Mas não queremos que esse menos signifique quase nada para alguns”, alertou D. José Ornelas.

O bispo de Setúbal lembrou as pessoas que ficaram sem emprego por causa da paragem da produção e do comércio e disse que “algo se tem feito” para “fazer convergir esforços de todo o mundo”, aproximando “pontos de partida muitos distantes” para encontrar soluções, como aconteceu na Europa.

D. José Ornelas referiu o caso da vacinação na Europa, “todos juntos”, alertando para “o resto do mundo” e para o facto de não se poder “deixar de lado os que não têm possibilidade comprar a vacina”, condenando quem possa estar a “fazer fortuna” e a “viver com a desgraça dos outros”.

O presidente da CEP considera que a Igreja Católica “aprendeu a viver” ao longo do último ano, em tempo de pandemia, e “isso não é pouco”.

O presidente da CEP lembra que, no contexto da pandemia, “criaram-se coisas novas” para dar continuidade às iniciativas das comunidades, “não como substitutos de nada, mas o que era possível no momento”.

“Nós não vamos deixar de anunciar o Evangelho, não deixamos de ter as Igrejas abertas, porque a fé não se encerrou, nem o ser Igreja, nem o anúncio do Evangelho: mas isso tem de ser adaptado às condições em que vivemos”, afirmou o bispo de Setúbal.

«A bazuca europeia deve chegar realmente às pessoas»

O prelado afirmou que os “próximo meses vão ser dramáticos” e as ajudas previstas “têm de encontrar uma boa capacidade de chegar rapidamente às pessoas que precisam”.

“A bazuca europeia deve chegar realmente às pessoas e não ficar simplesmente em discursos”, reiterou.

O bispo de Setúbal alerta para ao aumento do número de pessoas que vive com “a falta do essencial, como seja comida”, lembra que ninguém pode “ficar para traz” e afirma que é necessário contribuir de forma solidária para o retomar da economia.

Questionado sobre as eleições presidenciais e o impacto na coesão nacional, D. José Ornelas afirmou que é necessário promover debates entre candidatos sobre “coisas que interessam e não sobre questiúnculas menores”.

O presidente da CEP lembrou que a mensagem fundamental que a Igreja transmite no contexto das eleições é o “discernimento crítico dos vários programas” e disse que o mais importante é que as pessoas participem porque “um cristão não se pode abster”.

Sobre o próximo chefe de Estado, D. José Ornelas espera “que seja chefe de Estado de todos os portugueses, de equilíbrio para a sociedade”.

O presidente da CEP comentou também o documento “Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal”, afirmando que em causa não está a pretensão de “uma Igreja nova”, mas “redescobrir a Igreja que é necessária para este tempo”.

D. José Ornelas disse que a paróquia vai continuar a ser um polo de referência, mas “tantas vezes vai ser um polo móvel, que se desdobra em tantas situações, que vai encontro das pessoas e não fica simplesmente à espera delas”.

O bispo de Setúbal diz que é necessário fomentar “um projeto de vida e de evangelização”, contando com o contributo de todos os intervenientes de um determinado contexto, geográfico ou outro.

O responsável católico lembra que a missão da Igreja é “estar onde estão as pessoas” e tem de “se adaptar ao que as pessoas são”, hoje habitantes de “uma sociedade que é particularmente móvel”, e, por isso, “também a Igreja tem de ser assim”.

O presidente da CEP referiu-se também à audiência com o Papa da presidência da Conferência Episcopal Portuguesa, planeada para o início de janeiro, referindo que tem por objetivo ser uma “valorização da eclesialidade” e “ouvir” as orientações e preocupações de Francisco.

“A primeira coisa que fazemos é viver com ele a dimensão de comunhão da Igreja. Segundo, dialogar e ouvir uma palavra de orientação e as preocupações do Papa para este mundo”, disse D. José Ornelas.

O entrevistado alude ao retomar das celebrações presenciais e, mesmo advertindo que é necessário “fazer o mapa à medida que se navega”, afirma que “há uma razoável esperança” de que a Páscoa possa ser celebrada sem limitações.

“Todos esperamos que isso seja possível e para isso vamos trabalhar e criar condições”, apontou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

A entrevista a D. José Ornelas foi emitida no último dia de 2020 e no primeiro de 2021 na Antena 1 e no dia 1 de janeiro de 2021 na RTP2, às 15h00.

Agência Ecclesia

 

Oiça, a entrevista, na íntegra, aqui:

 

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04 de Janeiro de 2021