Deus estava com Ele
Com a Festa do Baptismo do Senhor termina o Natal, tempo fundamentalmente centrado no nascimento e crescimento do Salvador – e esta etapa da vida de Jesus, até ter cerca de trinta anos (cf. Lc 3,23) culmina no seu baptismo no rio Jordão – e ao mesmo tempo começa o chamado “tempo comum”, já que se considera o primeiro episódio do ministério público do Senhor.
É possível que pareça difícil relacionar a nossa própria vivência sacramental do baptismo com o evento que os evangelhos descrevem, porquanto sabemos que o baptismo de João não é ainda o “nosso” baptismo. Todavia, o episódio do baptismo do centurião romano Cornélio, o primeiro pagão a ser baptizado, por meio do apóstolo Pedro, introduz um tema precioso. Pedro recorda que, apesar de João Baptista ter dito “Eu baptizo na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo” (Mc 1,8), o baptismo do Messias não foi apenas em água, nem uma mera lavagem ritual; ao invés, nele “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré” (Act 10,38).
É, portanto, a acção do Espírito Santo que é colocada em destaque neste dia. E desta forma se faz a ligação com o baptismo de cada cristão, na vida do qual o Espírito Santo também desceu. Ainda que porventura só no Pentecostes nos lembremos de falar do Espírito, é bom relembrar que Baptismo e Crisma, não sendo a mesma coisa, não se podem dissociar. No início de mais um ano civil, particularmente recheado de desafios e perigos, as famosas palavras de Atenágoras, antigo Patriarca ortodoxo de Constantinopla, ficam como permanente desafio para todo aquele que, alimentado espiritualmente no Natal, agora sente a necessidade de viver o seu baptismo:
Sem o Espírito Santo:
Deus está longe,
O Cristo permanece no passado,
O Evangelho é letra morta,
A Igreja é uma simples organização,
A autoridade é uma dominação,
A missão é propaganda,
O culto é uma velharia e
O agir cristão uma obra de escravos.
Mas, no Espírito Santo:
O cosmos é enobrecido pela geração do Reino,
O homem está em combate contra a carne,
O Cristo ressuscitado torna-se presente,
O Evangelho faz-se poder e vida,
A Igreja realiza a comunhão trinitária,
A autoridade transforma-se em serviço que liberta,
A missão é um Pentecostes,
A liturgia é memorial e antecipação,
O agir humano é divinizado.
Padre Daniel Nascimento