Esta semana o Papa concedeu uma entrevista na qual fala sobre o modo como tem vivido, pessoalmente a pandemia. Reuniu-se com a presidência da CEP, falou sobre proximidade e convidou à prece de louvor “útil para todos nós”.
“A salvação é grátis”
O Papa Francisco rezou a oração mariana do Ângelus deste domingo, 10 de janeiro, da Biblioteca do Palácio Apostólico, dia que a Igreja celebra o Batismo do Senhor.
“Hoje, encontramos Jesus como adulto nas margens do Jordão. A Liturgia faz-nos dar um salto de cerca de trinta anos, trinta anos dos quais sabemos uma coisa: foram anos de vida escondida, que Jesus transcorreu em família, alguns anos no Egito, como migrante para fugir da perseguição de Herodes, outros em Nazaré, aprendendo a profissão de José, obedecendo aos pais, estudando e trabalhando”.
“Depois desses trinta anos de vida oculta, começa a vida pública de Jesus. E começa com o seu batismo no Rio Jordão. Jesus é Deus. Por que Jesus se vai batizar?”, perguntou o Papa.
O batismo de João consistia num rito penitencial, era um sinal da vontade de se converter, de ser melhor, pedindo o perdão dos pecados. Jesus certamente não precisava disso. De facto, João Batista tenta opor-se, mas Jesus insiste. Por quê? Porque ele quer estar com os pecadores. Por isso, entra na fila com eles e realiza o mesmo gesto deles”.
Segundo o Pontífice, Jesus “diz-nos que não nos salva do alto, com uma decisão soberana ou um ato de força, um decreto, não: Ele salva-nos vindo ao nosso encontro e tomando sobre si os nossos pecados. É assim que Deus vence o mal do mundo: abaixando-se e assumindo”.
“É também a maneira pela qual podemos elevar os outros: não julgando, não intimando, dizendo-lhes o que fazer, mas fazendo-se próximo, compadecendo, compartilhando o amor de Deus. A proximidade é o estilo de Deus em relação a nós.”
Segundo o Papa, “mesmo antes que façamos qualquer coisa, a nossa vida é marcada pela misericórdia que se pousou sobre nós. Fomos salvos gratuitamente. A salvação é grátis”.
É o gesto gratuito da misericórdia de Deus para connosco. Sacramentalmente, isto realiza-se no dia do nosso Batismo, mas também os que não são batizados recebem a misericórdia de Deus sempre, porque Deus está ali, espera. Espera que as portas dos seus corações se abram.”
Após a oração mariana do Ângelus, o Santo Padre saudou com afeto a população dos Estados Unidos, abalada pelo recente ataque ao Congresso, reiterando que a “violência é sempre autodestrutiva” e apelando a um “alto sentido de responsabilidade”.
Pensar no “nós” e suspender o “eu”
O Santo Padre foi entrevistado no programa “Tg5” da televisão italiana. Da pandemia, à defesa da vida e dos vulneráveis, passando pelo valor da unidade na política e na Igreja, Francisco aborda grandes temas da atualidade do novo ano e convida todos a se vacinarem e a redescobrirem o valor da fé como dom de Deus.
No início da conversa, Francisco reiterou que “de uma crise nunca se sai como antes, nunca. Saímos melhores ou piores”. Para o Papa, “é preciso rever tudo. Os grandes valores sempre existem na vida, mas os grandes valores devem ser traduzidos na vida do momento”.
Sobre as vacinas, defende que todos devem ter acesso a ela “porque está em risco a sua saúde, a sua vida, mas também a vida dos outros” e explica que nos próximos dias começará a campanha de vacinação no Vaticano e também ele se “inscreveu” para receber a dose.
Para o Pontífice, este é o tempo de “pensar no nós e cancelar por um período o eu, colocá-lo entre parênteses. Ou salvamo-nos todos com o nós ou não se salva ninguém”. A respeito, o Papa fala de modo amplo, oferecendo a sua reflexão sobre o tema da fraternidade, que muito valoriza. “Este é o desafio: fazer-me próximo ao outro, próximo à situação, próximo aos problemas, fazer-me próximo às pessoas”.
Francisco comenta o ataque ao Congresso dos Estados Unidos, dizendo que é preciso para si foi uma surpresa, tendo em conta a tradição democrática americana mas que é necessário “aprender com a história”.
O Papa confidencia também como está pessoalmente a viver as restrições devidas à pandemia. Confessa que se sente “engailoado”, detém-se nas viagens canceladas para evitar as aglomerações de pessoas e fala da esperança de visitar o Iraque. Neste momento, dedica mais tempo à oração, à conversa pelo telefone e reitera como foram importantes para ele alguns momentos, tais como a Statio Orbis em São Pedro no último dia 27 de março, “uma expressão de amor a todas as pessoas” e que nos faz “ver novas formas de nos ajudarmos uns aos outros”.
Papa pede à igreja em Portugal “particular atenção” aos mais atingidos pela crise
O Santo Padre recebeu a nova Presidência da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
“O Papa Francisco acentuou que se deve prestar particular atenção às crianças, aos idosos e aos migrantes, os mais atingidos por esta crise. Salientou que se deve cuidar com toda a atenção da relação entre jovens e idosos, por estar em questão a ligação intrínseca entre a herança que os idosos transmitem e as raízes para as quais os mais jovens devem olhar” refere a nota divulgada depois do encontro.
Uma delegação constituída pelo presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal, respetivamente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, e pelo secretário e porta-voz da CEP, padre Manuel Barbosa.
Sobre a Jornada Mundial da Juventude, “o Santo Padre manifestou o seu entusiasmo por este acontecimento mundial de encontro com os jovens, mantendo a esperança de poder estar em Portugal em 2023”, lê-se na nota da CEP.
“O encontro terminou com o profundo reconhecimento do Santo Padre pelo relevante trabalho da Igreja em Portugal e com a Bênção Apostólica para a Igreja e todo o povo português”, conclui a nota.
Papa: a proximidade é um bálsamo para quem sofre na doença
«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos»: este versículo do Evangelho de Mateus (Mt 23, 8) inspirou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente de 2021, celebrado tradicionalmente no dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes. O texto foi divulgado esta terça-feira e é intitulado “A relação de confiança, na base do cuidado dos doentes”.
De modo especial, o Pontífice dedica a mensagem às pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do coronavírus. “A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.”
Quanto ao trecho do Evangelho de Mateus, o Papa explica que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem, mas não fazem. Esta crítica, afirma, é sempre salutar para todos, “pois ninguém está imune do mal da hipocrisia”, um mal muito grave, cuja consequência é reduzir a fé a “exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro”, isto é, uma incoerência entre o credo professado e a vida real.
A experiência da doença, escreve Francisco, faz-nos sentir a nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. A doença obriga a questionar-se sobre o sentido da vida; uma pergunta que, na fé, se dirige a Deus.
A doença, afirma ainda o Papa, tem sempre um rosto: o rosto de todas as pessoas doentes, que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais.
Para Francisco, a atual pandemia colocou em evidência tantas insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas doentes, que deveria ser uma prioridade. “Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsabilidade.”
Ao mesmo tempo, a pandemia destacou também a dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas: com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares.”
Neste serviço para com os mais necessitados, Francisco aponta como decisivo o “aspeto relacional”, isto é, a confiança que se cria entre o doente e quem o acompanha.
“Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo, como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram servindo os enfermos.”
As curas realizadas por Jesus, destaca o Pontífice, nunca são gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe.
Francisco então conclui recordando que uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. “Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.”
Audiência Geral: louvar é como respirar oxigénio puro
“A oração de louvor” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.
O Pontífice inspirou-se “numa passagem crítica da vida de Jesus” para falar sobre a dimensão do louvor. “Depois dos primeiros milagres e da participação dos discípulos no anúncio do Reino de Deus, a missão do Messias sofre uma crise. João Batista duvida, e faz-lhe chegar esta mensagem. João está na prisão: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?»
João Batista “sente esta angústia por não saber se errou no anúncio. Existem na vida momentos sombrios, momentos de noites espirituais e João está a passar por esse momento”, disse o Papa. “Há hostilidade nas aldeias perto do lago, onde Jesus tinha realizado muitos sinais prodigiosos. Naquele momento de desilusão, Mateus relata um acontecimento surpreendente: Jesus não eleva ao Pai uma lamentação, mas um hino de júbilo: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos». Em plena crise, em plena escuridão na alma de muitas pessoas, como João Batista, Jesus bendiz o Pai, Jesus louva o Pai”.
Primeiramente, Jesus louva o Pai pelo que é: «Pai, Senhor do céu e da terra». “Jesus rejubila-se no seu espírito porque sabe e sente que o seu Pai é o Deus do universo e, vice-versa, o Senhor de tudo o que existe é Pai, “meu Pai”. O louvor brota desta experiência de sentir-se “filho do Altíssimo”. Jesus se sente filho do Altíssimo.”
Depois, “Jesus louva o Pai porque prefere os pequeninos. É o que Ele próprio experimenta, pregando nas aldeias: os “entendidos” e os “sábios” permanecem desconfiados e fechados, fazem cálculos, enquanto os “pequeninos” se abrem e acolhem a mensagem”. A seguir, acrescentou:
Também nós devemos nos regozijar e louvar a Deus porque as pessoas humildes e simples aceitam o Evangelho. Quando vejo as pessoas simples, pessoas humildes que vão em peregrinação a rezar, que cantam, que louvam, pessoas às quais que talvez faltam muitas coisas, mas a humildade faz com que louvem a Deus.”
A sua oração leva-nos, também a nós leitores do Evangelho, a julgar de um modo diferente as nossas derrotas pessoais, julgar de modo diferente as situações em que não vemos claramente a presença e a ação de Deus, quando parece que o mal prevalece e não há maneira de o deter.
“A prece de louvor é útil para nós”, disse Francisco. A oração de louvor “deve ser praticada não só quando a vida nos enche de felicidade, mas sobretudo nos momentos difíceis, momentos sombrios quando o caminho é íngreme. Aprendemos que através daquela escalada, daquele caminho cansativo, daquelas passagens desafiadoras, chegamos a ver um novo panorama, um horizonte mais aberto”.
“Louvar é como respirar oxigénio puro que nos purifica a alma e nos faz olhar distante, e a não permanecer aprisionados no momento escuro, de dificuldade”, acrescentou ainda o Papa.
JM (com recursos do Portal Vatican News)