Caríssimos Padres, Diáconos, Consagrados/as e todos os Irmãos e Irmãs de Setúbal,
Acabado de regressar de Roma, saúdo a todos no Senhor que nos conduz e nos dá força, nos dias tempestuosos em que vivemos.
Como tem sido noticiado, passei cerca de uma semana em Roma, com a Direção da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), para estar com o Papa Francisco e para visitar igualmente outras pessoas e órgãos que com ele colaboram no governo da Igreja. Do Santo Padre recebemos a bênção de Deus para a Igreja em Portugal e, concretamente para a nossa Igreja de Setúbal. Com a bênção, o Papa Francisco exortou-nos a assumir responsavelmente a gravidade do momento que vivemos nesta pandemia e a adotar atitudes que evitem propagar o mal e dar ajuda, conforto e esperança a quem sofre, especialmente os mais frágeis, a fim de que todos possam descobrir nos nossos gestos o amor poderoso e carinhoso do Pai do Céu que não deixa ninguém esquecido.
Foi durante esta visita que recebemos as novas medidas que o Governo acaba de decretar para fazer face à pandemia. Em reunião telemática com os bispos do Conselho Permanente da CEP, refletimos e exprimimos em comunicado as orientações básicas para este período crítico. O momento presente vai exigir sacrifícios a todos, para que possamos todos superar a crise. Não se trata simplesmente de fechar e cortar. Precisamos de assumir atitudes responsáveis e solidárias para que os que são atingidos pela pandemia e pelas suas consequências sintam o apoio de toda a comunidade humana.
Essa é também uma verdadeira atitude de gratidão e coerência para com todos os que, sobretudo nos hospitais, lares e serviços de saúde, abnegadamente se dedicam até à exaustão para salvar vidas e criar perspetivas de futuro. Saúdo a todos/as com muita gratidão e carinho e peço para eles a bênção de Deus, pois são expressão da Sua misericórdia inabalável para com quem sofre.
Nesta situação precisamos, mais do que nunca, de viver e consolidar as raízes de nossa fé. As igrejas não vão fechar, mas a fé alimenta-se e manifesta-se em toda a vida, na escuta, meditação e partilha da Palavra de Deus, na oração pessoal, familiar e comunitária, no testemunho da vida de todos os dias. Já aprendemos a celebrar em segurança e, agora, precisamos de redobrar a atenção e a criatividade, para que possamos continuar a dizer que celebramos com alegria e sem perigo.
A Eucaristia, o preceito fundamental que carateriza o domingo e a vida dos cristãos, seja tomada muito a sério por todos, como encontro com o Senhor da vida, que vem caminhar connosco nas dificuldades e abrir-nos à sua vida e esperança. Não sendo possível participar no domingo, encontre-se outro dia para este encontro com Deus e com a comunidade. Também aqui se requer criatividade pastoral para realizar com segurança a celebração da fé.
Apelo aos sacerdotes para que organizem o melhor possível os horários a fim de que seja oferecida possibilidade de participação a todos os que desejem e também para o encontro com a misericórdia de Deus no sacramento da reconciliação. Complemente-se esta celebração central do domingo com outros momentos de oração e adoração do Santíssimo Sacramento, com a escuta e meditação da Palavra de Deus. Na medida do possível, continuem-se e desenvolvam-se as transmissões das celebrações da vida paroquial, para quem não pode estar presente e para promover a vida e o encontro possível nas famílias, nos grupos e movimentos.
A catequese é um momento importante de crescimento para todos, mas sobretudo para os mais novos. Assim como, apesar dos riscos, não se encerraram as escolas, também não queremos hipotecar o futuro da fé das nossas crianças e jovens. Não se trata só de aprender, mas de ligar-se, de ser comunidade, de caminhar juntos. Mas que isso nunca seja motivo de contágio. O recurso aos meios telemáticos deve ser um complemento nesta situação e, em muitos casos, será até o único possível.
Como se indicou, vamos adiar o que não é essencial neste momento, concretamente os sacramentos do crisma, do batismo, matrimónio e outras ações pastorais, nas próximas semanas. Não se trata de depreciar o valor fundamental e estruturante destas fontes de graça e de vida. O perigo não vem de celebrar estes sacramentos, mas, como se tem visto, dos contatos que se verificam à volta deles. O princípio é: dar prioridade ao que é fundamental no presente; e ordenar sabiamente tudo o que é importante, no devido tempo. Termino com três apelos para o tempo que vivemos, que nos ajudarão a realizar este +rojeto de esperança:
Não confinemos a fé! Antes vivamo-la com esperança efetiva e ativa. É vital, especialmente agora, viver o relacionamento pessoal, familiar e comunitário com Deus, fonte da vida e do futuro. Todas as outras esperanças, cedo ou tarde caem, mas Deus permanece fiel ao nosso lado. Como tenho dito muitas vezes, o Senhor Jesus não nos disse que o nosso caminho seria fácil; mas prometeu-nos que caminharia ao nosso lado, até aos confins da terra e da história. Encontremos tempo e espaços para que Ele caminhe realmente connosco.
Confinados, não nos fechemos nem caminhemos sozinhos! Seguir Jesus significa aderir à comunidade, à Igreja, de modo sincero e ativo. Na presença possível e desejável, mas na comunhão constante em tempos e meios disponíveis, somos a Igreja que o Senhor Jesus reúne e conduz. Se vivermos autenticamente a nossa fé comum, sairemos muito mais fortes, fraternos e dinâmicos, desta pandemia. No primeiro dia deste ano, a CEP publicou uma nota pastoral com orientações para reagir à Pandemia – Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal – cuja leitura e reflecção pessoal e nas comunidades muito recomendo.
Sejamos uma igreja samaritana, particularmente neste momento! Mesmo confinados, sair de si, seguindo os passos de Jesus, significa ir ao encontro do outro, especialmente de quem precisa, a fim de que não fique ninguém ferido e abandonado à margem da estrada. Só venceremos a pandemia e os outros vírus se formos capazes de caminhar juntos e misericordiosos.
Que o Senhor nos conduza para fora desta pandemia, como fé renovada, famílias e comunidades mais unidas e capazes de dar renovado testemunho do Senhor Jesus, para a construção de um mundo melhor.
+ José Ornelas Carvalho, Bispo de Setúbal
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