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A Palavra do Papa: as testemunhas da verdade, a conversão a tempo, a carta de amor e os elos da videira

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O Papa exortou os jornalistas a ir ao encontro das pessoas. Falou sobre a bíblia “que foi escrita para nós”, elucidou sobre a dicotomia tempo/conversão e rezou pela unidade dos cristãos.

Comunicações Sociais: “Ser testemunhas da verdade”

Foi divulgada este domingo, Festa Litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, a mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais (este ano a 16 de maio, Domingo da Ascensão do Senhor).

Intitulada “Vem e verás”, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações deste ano reflete sobre alguns princípios do jornalismo e a importância da procura da verdade. Extraído do Evangelho de João» (Jo 1, 46), o tema tem como subtítulo “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”.

Aos primeiros discípulos que o quiseram conhecer, depois do seu batismo no rio Jordão, Jesus respondeu: «Vinde e vereis» (Jo 1, 39), convidando-os a viver em relação com ele e estabelecendo a primeira forma de comunicação da fé.

Para o Papa, a fé é comunicada “com um conhecimento direto, nascido da experiência, e não por ouvir dizer”, o que pressupõe a saída da presunção cómoda do “já sabido” e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las.

Este movimento é para Francisco algo basilar no jornalismo que requer transparência e honestidade intelectual. Por isso, apela a deixar de lado a informação construída nas redações, em frente do computador, para sair à rua, “gastar a sola dos sapatos”, encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar informações e, assim conhecer a realidade.

O Sumo Pontífice agradece aos muitos jornalistas que arriscam a própria vida para expor a verdade das minorias perseguidas, os muitos abusos e injustiças de que são alvo os povos mais vulneráveis.

Outro alerta do Papa diz respeito à informação produzida nas redes sociais e aos riscos de manipulação. Na sua visão, um risco que chama a todos a uma responsabilidade “pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos juntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as”.

Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar.” A boa nova do Evangelho difundiu-se pelo mundo graças a encontros de pessoa a pessoa, de coração a coração.

Papa Francisco: amor sem liberdade não é amor

Na oração do Angelus neste domingo, 24 de janeiro, o Domingo da Palavra de Deus, o Papa Francisco recordou a “passagem de missão” de São João Batista a Jesus. João Batista foi o seu precursor e preparou o terreno para Jesus iniciar a sua missão e anunciar a salvação.

“A sua pregação pode ser sintetizada nestas palavras: ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho’. É a mensagem que nos convida a refletir sobre dois temas essenciais: o tempo e a conversão.

Pondera o Papa, “a salvação não é automática; a salvação é um dom de amor e como tal oferecido à liberdade humana. Quando se fala de amor, fala-se de liberdade: um amor sem liberdade não é amor: pode ser interesse, pode ser medo, muitas coisas, mas o amor é sempre livre e como tal, requer uma resposta livre: requer conversão”.

Nas palavras do Santo Padre, a “conversão trata-se de mudar a mentalidade e mudar a vida: não mais para seguir os modelos do mundo, mas o de Deus, que é Jesus. Esta é uma mudança decisiva de visão e atitude.”

Para cada um de nós, o tempo em que podemos acolher a redenção é breve: e a duração da nossa vida neste mundo é breve.”

Francisco afirma que a história da nossa vida tem dois ritmos: “um, mensurável, composto de horas, dias, anos; e outro, composto de estações do nosso desenvolvimento: nascimento, infância, adolescência, maturidade, velhice, morte. Cada vez, cada fase tem seu próprio valor e pode ser um momento privilegiado de encontro com o Senhor”.

Após o Angelus, o Papa Francisco recordou que este domingo é dedicado à Palavra de Deus, cuja redescoberta, considera, é “um dos grandes dons do nosso tempo” pelo facto de estar acessível a todos.

Agradeço e encorajo as paróquias pelo seu constante compromisso de educar as pessoas na escuta da Palavra de Deus. Que nunca nos falte a alegria de semear o Evangelho! E repito-me mais uma vez: tenham o hábito, tenhamos o hábito de levar sempre um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para que possamos lê-lo durante o dia, pelo menos três, quatro versículos. O Evangelho sempre connosco”.

O Papa recordou ainda o sem-abrigo Edwin, um nigeriano de 46 anos, que morreu de frio nas proximidades do Vaticano há poucos dias.

“Rezemos por Edwin. Lembremo-nos das palavras de São Gregório Magno, que quando confrontado com a morte de um mendigo por causa do frio, disse que nenhuma missa seria celebrada naquele dia porque era como a Sexta-feira Santa. Pensemos em Edwin. Pensemos no que este homem sentiu, 46 anos de idade ao frio, ignorado por todos. Abandonado, mesmo por nós. Rezemos por ele”. 

Francisco: “A Palavra de Deus é a carta de amor escrita para nós”

O Papa Francisco não presidiu à missa do Domingo da Palavra de Deus, por causa de uma dolorosa ciatalgia. A homilia preparada pelo Santo Padre foi lida pelo presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização Dom Rino Fisichella, que presidiu a celebração eucarística no Altar da Basílica Vaticana.

Na sua homilia Francisco destaca o anúncio do Reino de Deus da parte de Jesus que, afirma “está próximo”, no sentido que Deus se fez homem e por isso está perto de nós, da humanidade.

Com efeito, o Senhor, através da sua Palavra, consola, ou seja, permanece com quem está só. Fala connosco, lembra-nos que estamos no seu coração, somos preciosos aos seus olhos, estamos guardados na palma das suas mãos. A Palavra de Deus infunde esta paz, mas não deixa em paz. É Palavra de consolação, mas também de conversão.”

“”Convertei-vos”: acrescenta Jesus imediatamente depois de ter proclamado a proximidade de Deus, porque com a sua proximidade acabou o tempo de deixarmos à distância Deus e os outros, acabou o tempo em que cada um só pensa em si e avança por conta própria.”

“Assim a Palavra, semeada no terreno do nosso coração, leva-nos a semear esperança através da proximidade. Precisamente como Deus faz connosco”.

O Papa salienta o ato de Jesus ter falado aos povos da periferia, no caso do Evangelho aos pescadores. “Todos podem receber a sua Palavra e encontrá-Lo pessoalmente”.

É assim que o Senhor procede connosco: procura-nos onde estamos, ama-nos como somos e, pacientemente, acompanha os nossos passos.”

“Por isso, queridos irmãos e irmãs, não renunciamos à Palavra de Deus. É a carta de amor escrita para nós por Aquele que nos conhece como ninguém: lendo-a, voltamos a ouvir a sua voz, vislumbramos o seu rosto, recebemos o seu Espírito”, diz o Papa aconselhando a leitura diária do Evangelho.

Unidade dos Cristãos: os três elos da videira

O presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, presidiu a celebração das II Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo, nesta segunda-feira, na conclusão da 54ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O Santo Padre não presidiu a cerimónia, realizada na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, por causa de uma dolorosa ciatalgia.

«Permanecei no meu amor». Jesus associa este pedido à imagem da videira e dos ramos. “O próprio Senhor é a videira, a videira «verdadeira», que não trai as expectativas, mas permanece fiel no amor e nunca falha, apesar dos nossos pecados e divisões. Nesta videira que é Ele, estamos enxertados como ramos todos nós, batizados: quer dizer que só unidos a Jesus é que podemos crescer e dar fruto. Nesta tarde, contemplemos esta unidade indispensável, que tem vários níveis. Pensando na videira, poderíamos imaginar a unidade formada por três círculos concêntricos, como os dum tronco”, ressaltou o Papa na sua homilia, lida pelo cardeal Koch.

“O primeiro círculo, o mais interno, é o permanecer em Jesus, segundo Francisco, é daqui que “parte o caminho rumo à unidade”. O segundo círculo é “o da unidade com os cristãos. Somos ramos da mesma videira, somos vasos comunicantes: o bem e o mal que realiza cada um reverte-se sobre os outros.

“O terceiro círculo da unidade, o mais amplo, é a humanidade inteira. Neste âmbito, podemos refletir sobre a ação do Espírito Santo. Na videira que é Cristo, Ele é a seiva que chega a todas as partes. Mas o Espírito sopra onde quer, e por todo o lado quer reconduzir à unidade. Leva-nos a amar não só àqueles que nos amam e pensam como nós, mas a todos, como Jesus nos ensinou.”

É neste três eles que o Evangelho dá fruto. “É pelos frutos que se reconhece a árvore: pelo amor gratuito, se reconhece se pertencemos à videira de Jesus.”

Nesta tarde o próprio Espírito, artífice do caminho ecuménico, levou-nos a rezar juntos. E ao mesmo tempo que experimentamos a unidade que deriva de nos dirigirmos a Deus com uma só voz, desejo agradecer a todos aqueles que rezaram nesta Semana e continuarão a rezar pela unidade dos cristãos”, ressaltou Francisco.

O encontro contou com a presença de Igrejas e comunidades eclesiais, que o Papa saudou. “Queridos irmãos e irmãs, permaneçamos unidos em Cristo! Que o Espírito Santo, derramado nos nossos corações, nos faça sentir filhos do Pai, irmãos e irmãs entre nós, irmãos e irmãs na única família humana. Que a Santíssima Trindade, comunhão de amor, nos faça crescer na unidade”, concluiu o Papa.

Francisco: “a Bíblia foi escrita para cada um de nós”

“A oração com as Sagradas Escrituras” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

As palavras das Sagradas Escrituras não foram escritas para permanecer presas nos papiros, nos pergaminhos ou no papel, mas para serem recebidas por uma pessoa que reza, fazendo-as brotar no próprio coração. A palavra de Deus chega ao coração”, frisou o Papa.

“A Bíblia não pode ser lida como um romance”, disse o Pontífice, frisando que as escrituras servem para uma leitura orante, de diálogo com Deus. “Aquele versículo da Bíblia foi escrito também para mim, há muitos séculos, para me trazer uma palavra de Deus. Foi escrita para cada um de nós”.

Esta experiência acontece a todos os fiéis: uma passagem da Escritura, ouvida muitas vezes, de repente um dia fala-me e ilumina uma situação que estou a viver. Mas é necessário que eu esteja presente nesse dia, no encontro com essa Palavra. Que eu esteja ali, a ouvir a palavra. Todos os dias Deus passa e lança uma semente no terreno da nossa vida. Não sabemos se hoje encontrará terra árida, silvas, ou terra fértil que faça crescer essa semente. Depende de nós, da nossa oração, do coração aberto com que nos aproximamos das Escrituras para que elas possam tornar-se para nós a Palavra viva de Deus. Deus passa continuamente.”

Segundo o Papa, “devemos aproximar-nos da Bíblia sem segundas intenções, sem a instrumentalizar. O fiel não procura nas Sagradas Escrituras o apoio para a própria visão filosófica e moral, mas porque espera um encontro; sabe que aquelas palavras foram escritas no Espírito Santo, e que por isso nesse mesmo Espírito devem ser acolhidas e compreendidas, para que o encontro se realize”.

O Sumo Pontífice revelou que fica incomodado quando ouve cristãos que recitam os versículos da Bíblia “como papagaios” uma que a Palavra abre ao encontro.

“A Palavra de Deus, impregnada do Espírito Santo, quando é recebida com o coração aberto, não deixa as situações como antes. Muda alguma coisa. Esta é a graça, a força da Palavra de Deus”, disse ainda o Papa.

Francisco ressaltou também que “a tradição cristã é rica em experiências e reflexões sobre a oração com a Sagrada Escritura”, e citou o método da “lectio divina”, nascido num ambiente monástico mas agora praticado por cristãos que frequentam as paróquias.

Papa: recordar o Holocausto para que não aconteça outra vez

No final da Audiência Geral, o Papa recordou o “Dia da memória” e as vítimas do Holocausto e todas as pessoas perseguidas e deportadas pelo regime nazi. 

Recordar é uma expressão de humanidade, recordar é sinal de civilidade, recordar é condição para um futuro melhor de paz e de fraternidade, recordar é também estar atentos porque essas coisas podem acontecer outra vez, começando com propostas ideológicas que querem salvar um povo e acabam por destruir um povo e a humanidade. Fiquem atentos a como começou este caminho de morte, de extermínio, de brutalidade.”

O “Dia da memória” foi instituído pelas Nações Unidas em 2005 e tem como objetivo rememorar a data histórica em que tropas soviéticas invadiram o campo de concentração em Auschwitz, revelando ao mundo o drama do holocausto e libertando cerca de 7 mil sobreviventes do massacre nazi. Estima-se que 1 milhão de judeus e de outras minorias étnicas morreram nos campos de extermínio do regime alemão.

JM (com recursos do Portal noticioso Vatican News)

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28 de Janeiro de 2021