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A Palavra do Papa: catequese aberta, a “singular” autoridade, a proteção das mulheres e a presença na liturgia

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A audiência geral desta semana foi dedicada à oração na liturgia. Nestes dias, o Papa relembrou o kerygma aos catequistas, evocou as vítimas da lepra e instituiu o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

Uma catequese próxima e aberta ao diálogo

No sábado, dia 30 de janeiro, o Papa Francisco recebeu em audiência os membros do Escritório Catequético da Conferência Episcopal Italiana, no 60º aniversário do início de sua atividade.

No encontro aproveitou o encontrou para salientar o fundamento de uma catequese keygmática, centrada no encontro pessoal com Jesus Cristo e testemunhada por catequistas de “carne e osso”.

Quem é o catequista? Ele é aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; ele a guarda em si mesmo – ele guarda a memória da história da salvação – e ele sabe como despertar essa memória nos outros. Ele é um cristão que põe esta memória a serviço do anúncio; não para ser visto, não para falar de si mesmo, mas para falar de Deus, do seu amor, da sua fidelidade”.

O Papa então indicou algumas características que o anúncio deve possuir hoje, isto é, que saiba revelar o amor de Deus diante de toda obrigação moral e religiosa; que não se impõe, mas leva em conta a liberdade; que testemunha a alegria e a vitalidade. Para isso, aquele que evangeliza deve expressar “proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena”.

Sobre o futuro da catequese, o Sumo Pontífice exortou ao seguimento das orientações do Concílio Vaticano II e convidou à renovação da catequese para uma linguagem próxima, que ouve as dúvidas, desenvolve novos instrumentos, que encontra formas criativas para uma proclamação centrada no kerygma e que coloca a dimensão comunitária no centro.

“Este é o momento de sermos artesãos de comunidades abertas que sabem valorizar os talentos de cada um. É o tempo das comunidades missionárias, livres e desinteressadas, que não buscam importância e vantagem, mas que percorrem os caminhos do povo do nosso tempo, dobrando-se sobre aqueles que estão à margem.”

Angelus: “Jesus fala com autoridade, o Filho de Deus que cura”

O Papa Francisco iniciou a sua alocução deste domingo, que precedeu a Oração mariana do Angelus, a abordar a passagem do Evangelho que narra Jesus na sinagoga de Cafarnaum a comentar as escrituras.

Os presentes são atraídos pela maneira como ele fala; eles maravilham-se porque ele demonstra uma autoridade diferente da dos escribas. Além disso, Jesus revela-se poderoso também nas obras. De facto, um homem na sinagoga volta-se contra ele, questionando-o como o Enviado de Deus; Ele reconhece o espírito maligno, ordena-lhe que saia daquele homem, e assim expulsa-o.”

Francisco afirma em seguida que “aqui vemos os dois elementos característicos da ação de Jesus: a pregação e a obra taumatúrgica de cura”.

“Ambos os aspetos se destacam na passagem do evangelista Marcos, mas o mais destacado é o da pregação; o exorcismo é apresentado como uma confirmação da singular “autoridade” de Jesus e de seu ensinamento”. 

Porquê? Pergunta o Papa. “Porque a Sua palavra realiza o que Ele diz” explica, continuando que “o ensinamento de Jesus tem a mesma autoridade de Deus que fala. De facto, com um único comando, ele liberta facilmente o possuído do maligno e cura-o. Por isso ele fala não com autoridade humana, mas com autoridade divina, porque tem o poder de ser o profeta definitivo, isto é, o Filho de Deus que nos salva, que nos cura a todos”.

O Pontífice em seguida disse que o segundo aspeto, o da cura, mostra que a pregação de Cristo tem como objetivo derrotar o mal presente no homem e no mundo e por isso o Papa recomenda que rezemos pelos nossos pecados: “Todos nós temos problemas, peçamos a Jesus a cura dos nossos pecados e dos nossos males”.

No final do Angelus, Francisco, lembrou o Dia Mundial da Hanseníase (doença anteriormente conhecida como lepra), recordando a dor daqueles que sofrem com ela e encorajando os agentes de saúde no seu trabalho.

Eu expresso a minha proximidade àqueles que sofrem por causa desta doença. Encorajo os missionários, agentes de saúde e voluntários que os servem. A pandemia confirmou como é necessário proteger o direito à saúde das pessoas mais frágeis: espero que os líderes das nações unam seus esforços para curar aqueles que sofrem da doença de Hansen e para a sua inclusão social”.

No Angelus, Francisco esteve acompanhado por um grupo de jovens da Ação Católica de Roma, para a conclusão do seu tradicional encontro “A Caravana da Paz”. Um momento de afeto e espontaneidade em que os jovens renovaram a sua adesão e apoio a Francisco. Ao apresentar aos fiéis e saudar com carinho o grupo, o Papa recordou a sua atividade, e encorajou-os nas suas iniciativas.

Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

No final do Angelus, Francisco comunicou a instituição do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, “que será celebrado em toda a Igreja, todos os anos, no quarto domingo de julho, próximo à festa dos Santos Joaquim e Ana, os avós de Jesus”. O objetivo é recordar e celebrar o dom da velhice e daqueles que, antes de nós e para nós, guardam e transmitem a vida e a fé.

“O Espírito Santo ainda desperta pensamentos e palavras de sabedoria nos idosos: a sua voz é preciosa porque canta os louvores de Deus e conserva as raízes dos povos. Eles lembram-nos que a velhice é um presente e que os avós são o elo entre as diferentes gerações, para transmitir aos jovens a experiência da vida e da fé”, alude o Santo Padre.

Vídeo do Papa: proteção às mulheres, vítimas de violência

No vídeo de intenção de oração para este mês, Francisco pede que rezemos pelas mulheres que sofrem diversas formas de maus-tratos. O forte apelo do Pontífice é contra os diferentes tipos de violência que têm gerado um “número impressionante” de mulheres “espancadas, ofendidas e violadas”. Diante desse tipo de “cobardia e degradação para toda a humanidade”, Francisco pede que elas sejam protegidas pela sociedade e que os sofrimentos das vítimas, através do “grito de socorro”, sejam escutados.

Este é o forte apelo feito por Francisco no “O Vídeo do Papa”, de fevereiro, divulgado esta segunda-feira com a intenção de oração que Francisco confia a toda Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa.

As estatísticas recolhidas pela ONU Mulheres, atualizadas em novembro de 2020, indicam que, todos os dias, 137 mulheres no mundo são mortas por membros das suas próprias famílias; as mulheres adultas representam quase metade das vítimas de tráfico de pessoas; globalmente, 1 em cada 3 mulheres já sofreu violência física ou sexual e 15 milhões de meninas adolescentes, entre os 15 e os 19 anos, sofreram violação.

Fome: alternativas baseadas na solidariedade

A mensagem de Francisco abriu os trabalhos do 5° Fórum Bienal dos Povos Indígenas promovido virtualmente pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Ifad) das Nações Unidas sobre o tema: “O valor dos sistemas alimentares indígenas: resiliência no contexto da pandemia da Covid-19”.

Francisco expressou a proximidade e o compromisso da Igreja em continuar o trabalho de cooperação e combate às desigualdades.

Segundo o Papa, “o desafio consiste em criar alternativas baseadas na solidariedade para que ninguém se sinta ignorado, mas também não imponha a sua própria direção de forma esmagadora”.

Prestemos atenção ao que nos beneficia a todos e será justamente isso que nos permitirá passar por este mundo deixando um sulco de altruísmo e generosidade, sem sermos feridos pela imanência terrena, desolados pelo vazio espiritual, paralisados ​​pela autorreferencialidade ou entristecidos pelo individualismo”.

“Com estes sentimentos, peço a Deus que abençoe as suas comunidades e aqueles que no Ifad se esforçam para ajudar aqueles que vivem nas áreas mais deprimidas do planeta”, conclui o Papa.

Audiência Geral: a liturgia é presença, é um encontro com Cristo

“Rezar na liturgia” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

O Pontífice recordou que “na história da Igreja verificou-se repetidamente a tentação de praticar um cristianismo intimista, que não reconhece a importância espiritual dos ritos litúrgicos públicos”, considerados muitas vezes “um fardo inútil ou prejudicial”. Francisco disse que “na Igreja é possível encontrar certas formas de espiritualidade que não conseguiram integrar adequadamente o momento litúrgico”.

Porém, o Papa reafirma de maneira completa e orgânica a importância da liturgia divina para a vida dos cristãos, que nela encontram a mediação objetiva exigida pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério um acontecimento histórico. A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos.

Não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos mistérios sagrados. A liturgia, em si, não é apenas oração espontânea, mas algo cada vez mais original: é um ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, também a oração. É acontecimento, é evento, é presença, é um encontro com Cristo.”

“Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo, totalmente sem Cristo”, disse ainda o Papa.

“Cada vez que celebramos um Batismo, ou consagramos o pão e o vinho na Eucaristia, ou ungimos o corpo de um enfermo com o Óleo sagrado, Cristo está ali! Ele está presente como quando curava os membros fracos de um doente ou quando, na Última Ceia, entregou o seu testamento para a salvação do mundo. A oração do cristão faz sua a presença sacramental de Jesus. O que nos é exterior torna-se parte de nós: a liturgia expressa isto também no gesto muito natural de comer.”

A seguir, Francisco disse que a Missa não pode ser somente “ouvida”, “como se fôssemos apenas espetadores”. “A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem. O centro é Cristo! Todos nós, na diversidade dos dons e ministérios, nos unimos na sua ação, porque ele é o Protagonista da liturgia”.

“A vida é chamada a tornar-se culto a Deus, mas isto não pode acontecer sem a oração, especialmente a oração litúrgica. Que este pensamento nos ajude a todos. Quando vamos à missa aos domingos, vou para rezar em comunidade, rezar com Cristo que está presente. Quando vamos a uma celebração do Batismo, Cristo está ali presente que batiza. “Mas, Padre, está é uma ideia, um modo de dizer”: isto não é um modo de dizer. Cristo está presente e na liturgia você reza com Cristo que está junto de si”, concluiu o Papa.

Dia da Fraternidade Humana

No final da Audiência Geral, o Papa Francisco recordou que nesta quinta-feira, celebra-se o 1º Dia Internacional da Fraternidade Humana, conforme estabelecido numa recente Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Esta iniciativa teve em conta também o encontro de 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, quando eu e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, assinámos o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum. Muito me alegra ver as nações do mundo inteiro unidas nesta celebração, que visa promover o diálogo inter-religioso e intercultural.”

Na tarde de quinta-feira, o Papa participou de um encontro virtual com o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e outras personalidades.

A referida Resolução da ONU reconhece «a contribuição que o diálogo entre todos os grupos religiosos pode prestar para melhorar a consciência e a compreensão dos valores comuns partilhados por toda a humanidade».

JM (com recursos do portal noticioso Vatican News)

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04 de Fevereiro de 2021