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Dia Mundial do Doente: amor e distância, o paradoxo da pandemia

“Deus não está longe de nós”, afirma D. José Ornelas. O bispo diocesano, convida, nesta experiência de fragilidade provocada pela pandemia, a encontrar “sinais de presença” nos profissionais de saúde e familiares.

No Dia Mundial do Doente, 11 de fevereiro, o Bispo de Setúbal presidiu à Eucaristia na Igreja dos Pastorinhos, no Montijo, em comunhão com a celebração realizada de manhã no Santuário de Fátima para toda a Igreja em Portugal.

“Celebramos hoje o Dia Mundial de atenção, de proximidade e também de esperança com todos aqueles que são atingidos por doenças. Essa é uma realidade que, de um modo ou de outro, nos atinge a todos como humanos”, começou o bispo diocesano.

Para o prelado, “experimentar os limites da vida, não só em termos físicos, vai sendo uma constante”, salientando que “uma das maiores dificuldades que sentimos, especialmente em situação de doença, é o distanciamento dos outros”.

Em situações de pandemia como a que vivemos, o querer-se bem, significa manter distância. E isso é um paradoxo, especialmente para as pessoas que nós estimamos. Ter de manter uma distância que não é de recusa nem de falta de atenção, mas que é fruto de responsabilidade e de amor para com as pessoas. Isso é algo que a nós nos causa muito sofrimento.”

“A doença não é só algo que nos deprime fisicamente, que nos tira as forças, mas que afeta a comunidade inteira, em particular a nossa família, os que nos estão mais próximos”, acrescenta.

 

Comentando o Evangelho da celebração, no qual Jesus acalma a tempestade no mar, onde se encontra com os seus discípulos, D. José Ornelas afirma que Jesus mostrou-se sempre próximo daqueles que sofrem.

“Ele não nos abandona nestes momentos de tribulação. Parece que Jesus dorme mas na verdade Jesus está próximo. Ele não ficou longe das nossas fragilidades. Ficou na mesma barca que nós. Experimentou a fragilidade, a dor, a morte. Em nenhum destes momentos, Ele não está longe de nós”, salientou.

Em momentos como os que vivemos, de grande provação e tribulação, as pessoas podem interrogar-se: onde está Deus? “Percebemos que vamos experimentar momentos de provação, de crise, como a barca que se parece afundar da nossa vida mas que também nos permite sentir que Deus está presente. Vamos sair deste momento com energia, força e esperança que nos permite ultrapassar estas dificuldades.”

Mesmo aqueles que estão hospitalizados, que nem podem ser visitados pelos seus mais queridos, têm outros sinais de presença, neste caso uma presença médica, que neste momento é a que é necessária. Sabemos muitas vezes como estes profissionais da medicina ajudam os doentes a ter contacto, pelos meios digitais, com a família.”

“Também a doença é suportável se deixarmos que Deus entre na nossa vida, se deixarmos que Deus esteja ao nosso lado. Tão importante como a presença do médico, da enfermeira, daqueles por quem temos carinho. São a expressão dessa mão de Deus que nos cuida”, continua.

 

No final, D. José Ornelas lembrou ainda Francisco e Jacinta Marto que, na sua doença, mantiveram-se próximos de Deus:

Os Pastorinhos, a quem esta igreja é dedicada, pereceram numa pandemia, como a que enfrentamos, mais trágica, há 100 anos. Foram crianças que, na compreensão deles, viveram e tiveram tanta força, precisamente pela presença de Deus e de Nossa Senhora que eles sentiam na sua vida.”

A celebração não teve presença física de fiéis e foi transmitida em direto nos canais digitais da Diocese de Setúbal.

“Fazemo-lo em comunhão com os que sofrem, nos hospitais, em suas casas, nos lares, por todos aqueles que veem com muita dificuldade a continuação da vida” disse o bispo diocesano na celebração, exortando a lembrarmos igualmente os familiares, os profissionais de saúde e os cuidadores.

 

Instituído pelo Papa João Paulo II em 1992, o Dia Mundial do Doente é celebrado anualmente a 11 de fevereiro, festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, com o intuito de apelar à humanidade para que seja promovido um serviço de maior atenção à pessoa doente.

A mensagem do Papa Francisco para assinalar a 29ª edição da efeméride teve como título “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), na qual aborda a relação de confiança como base do cuidado dos doentes.

JM

Dia Mundial do Doente no Hospital de São Bernardo em Setúbal

 


Covid-19: Igreja Católica recordou impacto da pandemia, em celebração especial no Santuário de Fátima

O Santuário de Fátima recebeu esta quinta-feira uma celebração especial pelas vítimas da Covid-19, os profissionais de saúde e os cuidadores de todo o país, evocando o impacto da pandemia.

“A pandemia constitui um choque, um abalo, que nos faz sentir mais agudamente a fragilidade da vida. Verificamos como a doença abre em todos muitas feridas e acarreta muitos sofrimentos: feridas do medo da doença, da dor, do isolamento, da solidão, do receio de perder o emprego, da angústia da morte”, disse D. António Marto, na homilia da Missa a que presidiu pelo Dia Mundial do Doente.

A Eucaristia, promovida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), decorreu na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e teve transmissão online.

O cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, recordou as mortes “na maior solidão” e o luto “suspenso e amargo”, nesta pandemia, com “histórias de doenças, de sofrimento, de luto, de desânimo e desalento, de verdadeira cruz”.

“Encontramos deste modo muitas feridas físicas, psíquicas e espirituais que invocam reconhecimento, partilha e cura. São brechas a reparar e feridas a curar”, apontou o responsável.

O cardeal saudou “todos os doentes, a todos os profissionais de saúde, a todos os cuidadores e a todos os que garantem serviços e bens essenciais”.

“Em nome pessoal e dos bispos portugueses, desejo saudar e fazer chegar a todos a nossa proximidade, o nosso grande afeto, o apoio da nossa oração”, disse.

O bispo de Leiria-Fátima desafiou as comunidades católicas a acompanhar os doentes, para que “ninguém se sinta só nem abandonado”.

A intervenção falou ainda da vacina contra a Covid-19 como “uma luz para sair da pandemia” e convidou todos a ter “fé em Deus e na sua bondade”.

“O mundo do sofrimento clama pelo mundo do amor. É o amor que nos dá olhos para ver, um coração para ser sensíveis, inteligência para ser criativos de cuidados e terapias e mãos para levar ajuda”, apontou D. António Marto.

Como referido na nota da CEP sobre a celebração do Dia Mundial do Doente, a Eucaristia teve uma “prece pelos profissionais de saúde e por todos os cuidadores formais e informais que, neste contexto, estão na linha da frente na luta contra a pandemia e no cuidado ao próximo”.

A celebração encerrou-se com uma oração a Nossa Senhora de Fátima, pelo fim da pandemia.

© Agência Ecclesia

Igreja/Saúde: Igreja em Portugal assinala Dia Mundial do Doente

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12 de Fevereiro de 2021