Nestes dias, o Papa advertiu que o encontro com Deus não é esquecer a realidade. Para além de falar sobre a sua saúde e o que pensa sobre a sua morte, pediu para rezarmos pelos confessores e pela sua viagem ao Iraque.
Angelus: devemos ter cuidado com a preguiça espiritual
Na oração mariana do Angelus, deste II Domingo da Quaresma, o Papa Francisco refletiu sobre o Evangelho do dia, no qual Jesus transfigurou-se diante de três dos seus discípulos.
“Pouco antes, Jesus tinha anunciado que, em Jerusalém, iria sofrer muito, seria rejeitado e condenado à morte. Podemos imaginar o que deve ter acontecido então no coração dos seus amigos, daqueles amigos íntimos, os seus discípulos: a imagem de um Messias forte e triunfante é colocada em crise, os seus sonhos são partidos e a angústia aumenta ao pensar que o Mestre em que acreditaram seria morto como o pior dos malfeitores. Naquele momento, com aquela angústia da alma, Jesus chama Pedro, Tiago e João e leva-os consigo para a montanha”, ressaltou o Pontífice.
Subir ao monte é aproximar-se um pouco de Deus. Jesus sobe para o alto junto com os três discípulos e eles detêm-se no topo da montanha. Aqui, Ele transfigura-se diante deles. O seu rosto radiante e as suas vestes resplandecentes, que antecipam a imagem como Ressuscitado, oferecem àqueles homens assustados a luz, a luz da esperança, a luz para atravessar as trevas: a morte não será o fim de tudo, porque se abrirá para a glória da Ressurreição.”
Como exclamou o apóstolo Pedro, é bom ficarmos com o Senhor no monte, viver esta «antecipação» da luz no coração da Quaresma. É um convite para nos lembrar, especialmente quando passamos por uma prova difícil, e muitos de vocês sabem o que significa atravessar uma prova difícil, recordar que o “Senhor Ressuscitou e não permite que as trevas tenham a última palavra”, disse ainda o Papa, acrescentando:
“Às vezes acontece que passamos por momentos de escuridão na nossa vida pessoal, familiar ou social, e tememos que não haja uma saída, afirmou o Pontífice, acrescentando que para isso precisamos de “uma luz que ilumine em profundidade o mistério da vida e nos ajude a ir além dos nossos esquemas e além dos critérios deste mundo.”
Também nós somos chamados a subir a montanha, a contemplar a beleza do Ressuscitado que acende vislumbres de luz em cada fragmento da nossa vida e nos ajuda a interpretar a história a partir da vitória pascal.
“Mas tenhamos cuidado”, pois as palavras “de Pedro ‘é bom para nós ficarmos aqui’ não devem se tornar uma preguiça espiritual”, advertiu Francisco. “Não podemos permanecer na montanha e desfrutar sozinhos a beatitude deste encontro. O próprio Jesus nos leva de volta ao vale, entre os nossos irmãos e irmãs e na vida quotidiana”, frisou o Papa.
Devemos ter cuidado com a preguiça espiritual: nós estamos bem, com as nossas orações e liturgias, e isto é suficiente para nós. Não! Subir a montanha não é esquecer a realidade. Rezar nunca é fugir das fadigas da vida. A luz da fé não é para uma bela emoção espiritual. Não! Esta não é a mensagem de Jesus. Somos chamados a experimentar o encontro com Cristo para que, iluminados pela sua luz, possamos levá-la e fazê-la brilhar em todos os lugares.”
No final da oração mariana do Angelus, o Papa Francisco o Dia Mundial das Doenças Raras. Saudou os membros de algumas associações presentes na Praça de São Pedro.
“Encorajo iniciativas que apoiam a investigação e o tratamento, e expresso a minha proximidade aos doentes, às famílias, mas especialmente às crianças” disse o Papa pedindo a oração por todos as pessoas que têm pessoas com doenças raras.
A seguir, o Papa saudou todos os fiéis de Roma e os peregrinos de vários países. Desejou um bom caminho neste tempo da Quaresma, pedindo um jejum de “fofocas e maledicências”.
Nesta Quaresma não falarei mal dos outros, não farei fofocas. E isto todos nós podemos fazer, todos nós. Este é um bom jejum. Não se esqueçam que também será útil ler todos os dias uma passagem do Evangelho, levar o pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, e ler, quando puder, qualquer passagem. Isto faz abrir o coração ao Senhor.”
Francisco expressou ainda proximidade às famílias das 317 meninas sequestradas na última sexta-feira, na Nigéria, no Estado de Zamfara, entretanto libertadas em Jangebe, confiando-as aos cuidados de Nossa Senhora.
Papa sobre a morte: “não me assusta, imagino em Roma, em função ou como emérito”
A entrevista concedida por Francisco em 2019 para um ensaio de Nelson Castro foi antecipada, neste sábado, pelo La Nación. A operação no pulmão, as angústias no período da ditadura quando escondia os perseguidos contadas ao psiquiatra que o ajudava com os testes para noviços.
Francisco diz que se sente bem e cheio de energia, graças a Deus. Recorda o “momento difícil”, em 1957, aos 21 anos, quando sofreu a retirada do lobo superior do pulmão direito por causa de três quistos. “Quando me recuperei da anestesia, a dor que senti foi muito intensa. Não é que eu não estivesse preocupado, mas sempre tive a convicção de que seria curado”, disse o pontífice, acrescentando que a recuperação foi completa e nunca se sentiu limitado nas suas atividades.
Francisco fala sobre a ansiedade de querer fazer tudo imediatamente e de como foi apoiado por um psiquiatra na Argentina. Ele cita o famoso provérbio atribuído a Napoleão Bonaparte: “Veste-me devagar, estou com pressa.” Fale sobre a necessidade de saber desacelerar. Um de seus métodos é ouvir Bach: “Isso acalma-me e ajuda-me a analisar melhor os problemas”.
No final da entrevista, o jornalista pergunta-lhe se pensa na morte: “Sim”, responde o Papa. Se tem medo: “Não, de jeito nenhum”. E como imagina a sua morte: “Como Papa, em exercício ou emérito. Em Roma. Não voltarei para a Argentina”.
O Papa e a confissão: receber amor divino, passando da miséria à misericórdia
Francisco, no vídeo de intenção de oração para o mês de março, aprofunda sobre o sacramento da Reconciliação procurando destacar a alegria que a confissão traz, através de um encontro de amor e misericórdia. O Pontífice também pede orações “para que Deus dê à sua Igreja padres misericordiosos e não torturadores”, insistindo por atitudes de ternura e compaixão de “bons sacerdotes confessores”, prontos a ouvir e dizer que Deus é bom, não se cansa e perdoa sempre.
Quando vou me confessar é para me curar, para curar a minha alma. Para sair com mais saúde espiritual. Para passar da miséria à misericórdia. E o centro da confissão não são os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e que sempre precisamos. O centro da confissão é Jesus que nos espera, nos escuta e nos perdoa.”
Francisco convida-nos a redescobrir a força de renovação pessoal que o sacramento da confissão tem nas nossas vidas, partindo do próprio exemplo, já que as imagens do vídeo mostram o próprio Pontífice indo confessar-se.
Audiência geral: Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai
“No nosso caminho de catequeses sobre a oração, hoje e na próxima semana queremos ver como, graças a Jesus Cristo, a oração nos abre à Trindade, ao imenso mar de Deus-Amor.” Com estas palavras, o Papa Francisco introduziu a sua catequese na audiência geral desta quarta-feira, na Biblioteca do Palácio Apostólico no Vaticano, dando continuidade às suas reflexões sobre a oração, discorrendo sobre a oração e a Trindade.
Foi Jesus que nos abriu o Céu e nos projetou para uma relação com Deus. É isto que o apóstolo João afirma na conclusão do prólogo do seu Evangelho: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer” (1, 18), destacou o Pontífice. “Jesus revelou-nos a identidade, esta identidade de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.”
Francisco observou que realmente não sabíamos como se podia rezar: que palavras, que sentimentos e que linguagem eram apropriados para Deus. “Naquele pedido dirigido pelos discípulos ao Mestre, que temos recordado frequentemente no decurso destas catequeses, há toda a hesitação do homem, as suas repetidas tentativas, muitas vezes infrutíferas, de se dirigir ao Criador: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’ (Lc 11, 1)”.
Talvez o reconhecimento mais tocante da pobreza da nossa oração tenha vindo dos lábios do centurião romano que um dia implorou Jesus que curasse o seu servo doente (cf. Mt 8, 5-13). Sentia-se totalmente inadequado – observou Francisco: “não era judeu, era um oficial do odiado exército de ocupação. Mas a sua preocupação com o seu servo o faz ousar, e ele diz: ‘Senhor… eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e o meu servo será curado’ (v. 8)”.
É a frase que também repetimos em todas as liturgias eucarísticas, disse o Pontífice, evidenciando que dialogar com Deus é uma graça: “não somos dignos dela, não temos o direito de a reivindicar, “manquejamos” com cada palavra e pensamento… Mas Jesus é uma porta que se abre”.
Porque deveria o homem ser amado por Deus? – perguntou o Santo Padre, acrescentando que não há razões óbvias, não há proporção.
“Em grande parte das mitologias não se contempla o caso de um deus que se preocupa com os assuntos humanos; pelo contrário, eles são irritantes e aborrecidos, completamente insignificantes” observou o Santo Padre.
Francisco ressaltou que nunca teríamos acreditado num Deus que ama o homem se não tivéssemos conhecido Jesus. “É o escândalo que encontramos esculpido na parábola do pai misericordioso, ou na do pastor que vai em busca da ovelha perdida (cf. Lc 15). Histórias como estas não poderiam ter sido concebidas, nem sequer compreendidas, se não tivéssemos encontrado Jesus”, observou ainda.
Assim, Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai, frisou o Papa. “A paternidade que é proximidade, compaixão e ternura. Não esqueçamos estas três palavras que são o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. É a maneira de expressar a Sua paternidade connosco”.
Ao término da audiência geral, o pensamento do Santo Padre voltou-se mais uma vez para a República de Myanmar, no sudeste asiático, que passa por um momento delicado após o golpe de Estado de 1 de fevereiro.
Gostaria de chamar a atenção das autoridades envolvidas para que o diálogo prevaleça sobre a repressão e a harmonia sobre a discórdia. Dirijo um apelo também à comunidade internacional, para que atue a fim de que as aspirações do povo de Myanmar não sejam sufocadas pela violência. Que aos jovens daquela amada terra seja concedida a esperança de um futuro onde o ódio e a injustiça deem lugar ao encontro e à reconciliação.”
O Papa Francisco concluiu o seu apelo repetindo o desejo expresso há um mês: “que o caminho rumo à democracia empreendido nos últimos anos por Myanmar possa ser retomado através do gesto concreto da libertação dos vários líderes políticos presos”.
Papa pede orações pela viagem ao Iraque: povo não pode ser desapontado uma segunda vez
O Papa Francisco realizará o desejo de São João Paulo II que não conseguiu ser concretizado: visitar o Iraque. O Pontífice polaco tinha a intenção de realizar uma peregrinação à terra de Abraão durante o Grande Jubileu do Ano 2000.
Na Audiência Geral desta quarta-feira o Papa Francisco pediu orações para que a sua viagem ao Iraque se possa realizar como programado, evitando assim que o povo iraquiano seja desapontado uma segunda vez, visto a proibição de São João Paulo II visitar o país, como era seu desejo.
Depois de amanhã, se Deus quiser, irei ao Iraque para uma peregrinação de três dias. Há algum tempo desejo encontrar aquele povo que tanto sofreu; encontrar aquela Igreja mártir na terra de Abraão. Junto com outros líderes religiosos, também daremos outro passo em frente na fraternidade entre os crentes. Peço-lhes para acompanhar com oração esta Viagem Apostólica, para que possa se realizar da melhor forma e dê os frutos esperados. O povo iraquiano espera-nos; esperava São João Paulo II, que foi proibido de ir. Não se pode desapontar um povo pela segunda vez. Oremos para que esta viagem possa ser bem feita.
A Viagem Apostólica ao Iraque é uma das mais importantes e complexas do Pontificado do Papa Francisco, envolvendo também questões de segurança e com a adoção de todos os cuidados para evitar contágios com a Covid-19.
“Sois todos irmãos”, é o lema desta viagem, que é uma “viagem de fraternidade” aberta a todos, onde Francisco quer mostrar sua proximidade especialmente às comunidades cristãs perseguidas, com as visitas a Mosul, Qaraqosh e Erbil, no Curdistão iraquiano.
Um dos pontos-altos da viagem será a visita a Ur, terra de Abraão, local simbólico para as três religiões monoteístas, onde será realizado o encontro inter-religioso que pretende reunir representantes de todas as religiões presentes no Iraque: cristãos de diversas denominações, muçulmanos xiitas e sunitas, judeus, yazidis, entre outros.
Papa: “Fratelli tutti” em russo pelo diálogo entre religiões
O Pontífice enviou uma mensagem por ocasião da apresentação da “Fratelli Tutti” em língua russa na tarde de quarta-feira em Moscovo. Foi uma alegre surpresa para o Papa saber da tradução, pois abre “uma discussão aberta e sincera” sobre os temas da encíclica para “promover o diálogo entre as religiões. Na verdade, a fraternidade vem do fato de reconhecer um único Pai. E, se todos somos filhos de um único Pai, então podemos chamar-nos de irmãos e, acima de tudo, viver como tal.”
A tradução foi realizada com o amparo da direção espiritual dos muçulmanos da Federação Russa em conjunto com um coletivo científico do Fórum Muçulmano Internacional (Muslim International Forum), uma iniciativa editorial que deixou o Papa “satisfeito e impressionado”.
O texto da ‘Fratelli tutti’ em russo lança uma série de obras intitulada “Diálogo Inter-religioso”, que procura promover o estudo científico e o aprofundamento do discurso inter-religioso contemporâneo.
Penso que a reflexão e o diálogo sobre a encíclica possam ajudar não apenas a Federação Russa, onde o diálogo entre cristãos e muçulmanos é chamado a crescer, mas a família humana como um todo. De fato, no mundo globalizado e interconectado em que vivemos, um gesto feito num canto tem repercussões em todos as outras partes. Além disso, estou confiante de que uma discussão aberta e sincera sobre os temas da ‘Fratelli tutti’ possa promover o diálogo entre as religiões. Na verdade, a fraternidade vem do fato de reconhecer um único Pai. E, se todos somos filhos de um único Pai, então podemos nos chamar de irmãos e, acima de tudo, viver como tal.”
“Desejo a todos vós”, finalizou o Papa na mensagem enviada para a ocasião, “um estudo frutífero desse texto e que possam trazer benefícios para a vida pessoal e social”.
JM (com recursos do portal de notícias Vatican News)