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Quaresma/D. José Ornelas: “A fé é aceitar que a Palavra de Deus é sólida, dá esperança e cria futuro”

O Bispo diocesano convidou, na Eucaristia do II Domingo da Quaresma, a refletir a aliança de Deus com Abraão e o episódio da Transfiguração de Jesus.

D. José Ornelas marcou mais uma vez presença na Sé de Setúbal para presidir à Eucaristia Dominical transmitida pelos canais digitais da Diocese. Sem a comunidade fisicamente presente, a Eucaristia foi celebrada em ação de graças pelo 90º Aniversário do Padre Francisco Graça, Pároco Emérito de Santa Maria da Graça e São Julião.

“Hoje, somos convidados a assumir um outro passo na história da relação de Deus com a humanidade, na aliança com Abraão, o nosso pai na fé, no monte Moriá” começa o prelado, explicando que Abraão tinha sido chamado por Deus, da sua terra, na Mesopotâmia, com a promessa de fazer nascer dele um povo, de lhe dar uma terra, de fazer descer sobre ele a sua Bênção, fazendo dele igualmente bênção para as nações.”

“Ele tomou a sério esta Palavra, esta Promessa de Deus e partiu” refere D. José Ornelas, acrescentando que Abraão aceitou este desafio de Deus sem saber para onde ia. Mas aceitou, confiando na Palavra de Deus.”

A Sagrada Escritura refere que Abraão e a sua mulher Sara eram já avançados em idade e não tinham filhos. Ele queixa-se a Deus da sua falta de descendência e Deus vai sempre renovando a promessa.

Abraão foi acreditando em Deus. A aliança com Deus foi feita quando ainda não havia objeto da Aliança. A fé é aceitar que a Palavra de Deus é sólida, dá esperança e cria futuro. Se Abraão não tivesse embarcado nela, não havia aliança. Deus oferece a aliança como caminho, como futuro.”

Mas Abraão, à medida que os anos passam, vai esmorecendo. Seguindo o costume da época, recebe uma escrava como concubina e gera um filho, Ismael. Deus refere que esse não é o caminho, que ele e Sara terão descendência.

“Um dia, à sombra da sua tenda, aparecem três misteriosos mensageiros peregrinos. Abraão oferece-lhes hospitalidade e eles dizem-lhe: no próximo ano, passarei aqui e Sara terá um filho nos braços. Sara, espreitava do interior da tenda e ri, de sonho e desconfiança: poderá lá ser. O misterioso hóspede pergunta: “Porque ri Sara?”. Ela nega, mas ele confirma “Riste, riste”…”

O menino, o filho da promessa nasce da anciã Sara e vai ter o nome de “Isaac” que significa “Deus riu; Deus sorriu”. O menino foi crescendo, Abraão sentia-se abençoado e recompensado, e pensava que Deus, afinal, tinha começado por cumprir a primeira das suas promessas. Certamente as outras haviam de chegar também. Pensava poder calçar as pantufas… e retirar-se, mas Deus coloca tudo em causa.”

Citando a escritura, D. José Ornelas explica que Deus disse: “Abraão, pega no teu filho, o teu único filho, a quem tento amas”, vai ao monte Moriá e lá o oferecerás em sacrifício a Deus. Abraão partiu, como sempre tinha feito na vida, disposto a cumprir o sacrifício pedido.”

Neste momento, várias questões surgem: Deus é sério? Está a brincar? É credível? Não tinha dito que de Isaac é que sairia o grande povo? Como é então que manda imolar aquele que deve ser semente do povo?

“Abraão só sabe que a palavra de Deus é fiável. Mas, no momento de imolar o filho, Deus, que parece como impassível e exigente até pedir a vida de um menino, revela o seu rosto fiel e o sentido de tudo isso: Deus não quer um menino morto, mas quer um menino dom, sempre como dom de Deus para Abraão.”

“Deus faz-lhe entender que aquilo que ele tem é um dom. A aliança só é possível com Deus. Deus é fiel e, mesmo que nalgum momento não se entenda, mesmo que interpretemos limitadamente os seus caminhos, mesmo que pensemos que ele nos pede coisas contraditórias, o que Ele nos pede é que nos façamos a um caminho que é maior do que nós pensaríamos.”

“Este é o meu Filho amado, escutai-o”.

No Evangelho, D. José Ornelas, comenta a subida de Jesus e de três discípulos ao monte onde acontece a transfiguração.

Jesus tinha acabado de anunciar aos discípulos que ia ser rejeitado pelas autoridades judaicas e que iria morrer. Eles ficaram perturbados e não percebiam. Jesus é como um Pai que educa os seus filhos. Revelam mesma incredulidade de Sara que não acreditava na hipótese de ter filhos.”

Quando vêem Jesus a transfigurar-se, os discípulos ficam entusiasmados e querem viver sempre nessa visão. O que fica é a voz de Deus que diz: “Este é o meu Filho amado, escutai-o”. Esse foi realmente o filho único de Deus. Não foi um filho oferecido (imolado) pelos homens a um Deus sedento de sangue. Foi o Filho amado de Deus que ele ofereceu em dom da vida (o sangue derramado), para que todos vivessem.

“Os discípulos ouvem mas não entendem. Eles querem ficar mas Jesus não permite: é necessário descer do monte. Aqui deverá ser onde voltarão sempre, hão de voltar todos os dias para sonhar o Sonho de Deus, hão de voltar aqui à presença de Deus para entenderem o seu projeto de Deus. Hão de voltar aqui quando estiveram mal, em dificuldades, numa pandemia, hão de voltar em alegria. Hão de voltar à vossa vida para aí fazer essa vida neste mundo, que tantas vezes vai ser preciso entregar”, clarificou o prelado.

“Que o Senhor nos ajude verdadeiramente, juntamente com os discípulos, nestas encruzilhadas da vida que nem sempre são simples, que Ele nos ajude a levantar os olhos para o céu e dizer “nas tuas mãos é que esta a minha vida e assim é que está segura porque se tu estás a nosso favor, quem é que está contra nós”, como diz São Paulo”, concluiu.

JM

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03 de Março de 2021