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Diálogo Inter-religioso: D. José Ornelas rejeita manipulação de sentimentos de religião ou patrióticos em nome da violência

D. José Ornelas participou em cerimónia inter-religiosa, no início do novo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) rejeitou esta terça-feira, no Porto, qualquer manipulação de sentimentos religiosos ou patrióticos.

“Num mundo de crescentes tensões e violências, onde pessoas e grupos extremistas manipulam princípios importantes e fundamentais, como o sentido de pátria, como o sentido religioso, e os colocam ao serviço de ideologias e projetos que realmente os negam e aviltam, penso que é importante que estejamos unidos para afirmar que a violência não é compatível com a expressão da fé, mas a sua negação”, declarou D. José Ornelas

O bispo de Setúbal sublinhou a necessidade de “para combater fragilidades e proporcionar uma vida digna a todos”, com o contributo de uma “visão espiritual” do ser humano.

O responsável católico deixou votos de que o país vença pandemia e os vírus que “dividem e destroem”.

“Que, através do seu serviço ao nosso país, em colaboração com as instituições do Governo e da sociedade, e em solidariedade com o mundo, nas suas conquistas e nos seus dramas, possamos vencer os enormes desafios que se nos deparam e vencer o vírus da atual pandemia e de todos os outros vírus que nos dividem e destroem”, declarou D. José Ornelas, no salão nobre da Câmara Municipal do Porto, perante autoridades da cidade e representantes das diversas confissões religiosas presentes em Portugal.

Marcelo Rebelo de Sousa tomou hoje posse para o seu segundo mandato presidencial, com um programa que incluiu a celebração inter-religiosa, à imagem do que aconteceu em 2016, então na Mesquita de Lisboa. O momento decorreu no salão nobre da Câmara Municipal do Porto, perante autoridades da cidade e 13 convidados, representantes das diversas confissões religiosas presentes em Portugal.

“Felicito-o e agradeço-lhe por este gesto, que interpreto como fruto de uma leitura atenta da Constituição e do ordenamento legal do nosso país, mas igualmente como uma visão humanista e aberta da sociedade e do mundo”, referiu D. José Ornelas a Marcelo Rebelo de Sousa.

O presidente da CEP pediu que o Estado não-confessional seja aberto à “diversidade de formas religiosas presentes no país”.

“Seria altamente perigoso ter um Estado que ignorasse ou, pior ainda, hostilizasse a manifestação dessa dimensão fundamental do ser humano e da sua justa expressão na sociedade”, advertiu.

Isso significaria negar os direitos humanos básicos, mas mais ainda perder a memória histórica que moldou a nossa cultura, do pensamento, a arte e o bem fazer, bem como reduzir e privar o futuro de uma elevação espiritual capaz de integrar valores universais humanizadores e inspiradores de bem pensar, operar e projetar”.

O bispo de Setúbal destacou o papel das religiões para promover uma “convergência de valores e objetivos” na sociedade, ajudando ao “desenvolvimento da ética, do direito, da justiça, da solidariedade, da cultura e da espiritualidade”.

“É desse modo que se poderá evitar a instrumentalização egoísta dos poderosos meios de que dispomos, sem respeito pela humanidade no seu todo e pelo planeta que habitamos”, apontou.

O presidente da CEP destacou que a presença dos vários responsáveis religiosos mostra um “compromisso na construção da solidariedade e da paz, a partir da fé que cada um professa”.

“Que Deus lhe dê um bom mandato e o abençoe”, declarou.

Presidente da República apela ao contributo das confissões religiosas para «defender a liberdade, a tolerância, a compreensão mútua»

O presidente da República Portuguesa apelou às confissões religiosas do país que contribuam para a defesa da tolerância e da “compreensão mútua”, face a discursos que visam a exclusão do “diferente”.

“Apelo para que, em salutar diálogo e convergência de propósitos, tudo façamos para defender a liberdade, a tolerância, a compreensão mútua, num tempo em que é tão sedutor dividir e catalogar, encontrar bodes expiatórios”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

“A liberdade de crer, que é mais do que a liberdade de culto, para os crentes, é a liberdade de agir no espaço público em conformidade com os valores essenciais da sua fé, da sua visão da pessoa e da comunidade”, precisou o chefe de Estado.

O presidente português agradeceu às confissões religiosas o “muitíssimo” que o país lhes deve em áreas como a educação, a saúde ou a solidariedade, “na resistência às crises e no combate à pandemia”.

“Sublinho, neste ano doloroso para todos os portugueses, neste ano infatigável para todos nós, que o combate sem tréguas à pandemia seria outro sem o vosso contributo”, apontou.

O discurso destacou o contributo em “domínios sensíveis” da vida nacional, ajudando os mais pobres e os mais afetados pela crise, “muitas vezes sem que se saiba”.

“Portugal agradece o vosso contributo ao longo de um ano de pandemia, dado a milhares e milhares de portugueses”, prosseguiu.

O chefe de Estado desafiou as confissões religiosas a participar num esforço coletivo de “pacificação dos espíritos e aceitação do diferente”.

A Presidência da República anunciou também hoje que Marcelo Rebelo de Sousa vai visitar esta sexta-feira o Vaticano, para um encontro com o Papa, na primeira deslocação do novo mandato do chefe de Estado português, tal como aconteceu em 2016.

© Agência Ecclesia

Foto: Lusa

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09 de Março de 2021