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“São José: Caminho para a Misericórdia” #5: IV Domingo da Quaresma

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#4: IV Domingo da Quaresma

Guião disponível para descarregar aqui.

Pai no acolhimento | Dar pousada aos peregrinos * Sofrer, com paciência, as fraquezas do nosso próximo

Pai no acolhimento, in Carta Apostólica Patris Corde, Papa Francisco

«José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento».

Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões.

A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo. Parecem ecoar as palavras inflamadas de Job, quando, desafiado pela esposa a rebelar-se contra todo o mal que lhe está a acontecer, responde: «Se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» (Job 2, 10).

José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões.

A vinda de Jesus ao nosso meio é um dom do Pai, para que cada um se reconcilie com a carne da sua história, mesmo quando não a compreende totalmente.

O que Deus disse ao nosso Santo – «José, Filho de David, não temas…» (Mt 1, 20) –, parece repeti-lo a nós também: «Não tenhais medo!» É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para – movidos não por qualquer resignação mundana, mas com uma fortaleza cheia de esperança – dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe. Acolher a vida desta maneira introduz-nos num significado oculto. A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele «é maior que o nosso coração e conhece tudo» (1 Jo 3, 20).

Reaparece aqui o realismo cristão, que não deita fora nada do que existe. A realidade, na sua misteriosa persistência e complexidade, é portadora dum sentido da existência com as suas luzes e sombras. É isto que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, «incluindo aquilo que é chamado mal». Nesta perspetiva global, a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes.

Assim, longe de nós pensar que crer signifique encontrar fáceis soluções consoladoras. Antes, pelo contrário, a fé que Cristo nos ensinou é a que vemos em São José, que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro. Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32)».


Reflexão de São José

Queridos filhos,

Rezando sobre as obras de misericórdia, reflito hoje sobre o “dar pousada aos peregrinos” e “sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo”.
Lembro-me de quando em Belém procurámos um local para a minha querida Maria dar à luz e não havia lugar para nós. Ninguém nos recebeu. Pouco depois, fugimos para o Egipto, e nos tornámos peregrinos, numa terra que não era a nossa. Como desejamos ser acolhidos. Como pedimos para que olhassem para nós com simpatia e nos abríssemos braços. Um abrigo para a noite. Um pão e vinho para reconfortar o corpo. Uma palavra para confortar a alma.

O que é dar pousada aos peregrinos, senão acolher na nossa vida e no nosso coração, aqueles que estão em caminho? Que estando em fuga de algo, ou procurando algo, se cruzam connosco num momento presente. Olhos que se cruzam, como tantas vezes os meus se cruzaram com os de Jesus. Um olhar pleno de céu, que não deita fora nada do que existe. Um olhar que dá significado a todos os acontecimentos, felizes ou tristes.

Na presença de Jesus, aprendi a ver o mundo e a vida como Ele via. Mostrou-me, vezes sem conta, que avida de cada um pode recomeçar, miraculosamente. Como aconteceu comigo. Eu, José, um simples carpinteiro, que um dia se encontra com uma Presença divina, que não consigo entender ou explicar, apenas acolher. Acolhi Maria, confiando nas palavras do Anjo. Acolhi Jesus, confiando no testemunho de Maria. Com Jesus, acolhi todos os mais frágeis, pelos quais Ele, sempre, demonstrou a sua predileção. Todos, sem exclusões e tal como são.

Não um acolhimento resignado, mas um acolhimento corajoso e cheio de esperança, nascido da força que recebi do Senhor. Uma força do alto, para acolher avida, tal como ela me foi apresentada: com tudo de bom – e foi tanto – mas também com todas as suas desilusões, frustrações, revoltas, maldades e imperfeições.

Um olhar profundo, cheio de positividade e de caridade sobre a minha própria história, sobre a minha experiência, sobre a minha humanidade, com todas as suas luzes e sombras. Sem atalhos e de olhos bem abertos, enfrentando aquilo que nos acontece. Não há vidas perfeitas. Apenas pessoas a caminho.

Tantas vezes disse ao pequenino Jesus: “Não tenhas medo, meu Filho!”. E quantas vezes me devolveu Jesus: “Não tenhas medo, papá!”.
Se Deus faz brotar flores no meio das rochas, o que não fará com o meu coração? Assim, eu O acolha…

Perguntas para reflexão

  • Tenho alguma oportunidade de acolher ou dar pousada a alguém por verdadeira necessidade?
  • Tenho oportunidade de doar artigos de higiene pessoal e artigos sanitários para um abrigo local que acolhe pessoas sem-abrigo?
  • Consigo apoiar financeiramente organizações que estão a trabalhar para apoiar os sem-abrigo na minha comunidade?
  • Sofro com paciência as fraquezas dos que me são próximos?
  • No caso de ter de advertir, faço-o com caridade e suavidade?

Sugestão Cultural

Uma vez que na semana passada (re)descobriste o Passo a Rezar, esperamos que estejas a seguir os passos diários e que possas tirar partido da calma e tranquilidade que te pode trazer a palavra de Deus nesta forma tão bela, ainda mais acompanhada pela música que conforta o coração. Atreve-te a descobrir mais desafios na plataforma. Sugerimos que sigas, de uma forma especial, o Retiro de Quaresma proposto… São pequenos passos no teu caminho de Quaresma. Deixamos, também, uma sugestão de leitura – esta semana, uma biografia de Pedro Arrupe. E já que recomendamos a biografia deste superior-geral da Companhia de Jesus, deixamos-te com a canção “Enamora-te” do CD com o mesmo nome dos Jesuítas da Argentina e do Uruguai.

 

PARA REZAR

Passo a Rezar – Retiro de Quaresma: Com uma introdução e sete sessões, o tema do Retiro é “Chamados a ser Santos”, inspirado na Carta de S. Paulo aos Romanos, para ser ouvido, em casa ou em qualquer lugar.

Para ouvir aqui.

Meditações escritas aqui.

PARA LER

“Pedro Arrupe, Testemunha do Século XX – Profeta para o Século XXI”, de Pedro Miguel Lamet – Editorial Apostolado da Oração

Adquirir aqui.

 

PARA ESCUTAR

 

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09 de Março de 2021